quarta-feira, 28 de outubro de 2009

desenhos de pegadas


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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Budo

Em um país atormentado durante muito tempo por guerras e conflitos, os samurais desenvolveram um rigoroso código ético não-escrito, conhecido como bushido, que fornecia parâmetros para se viver e morrer com dignidade. Hoje em dia, em um Japão mais seguro, este código de conduta desenvolveu-se para uma filosofia de vida, o Budo.

Filosofias do Budo
As filosofias do budo, foram escritas por famosos Kendo-kas e mestres zen tais como Miyamoto Musashi, Yagyu Munenori, Sekishusai, Soho Takuan e muitos outros, a cerca de 500 anos atrás. Budo pode ser traduzido como caminho das artes marciais, bu significa "marcial" ou "militar" e do "caminho". Todas as artes marciais japonesas são chamadas de budo, quando estas possuem conotação filosófica. Na idade média (Sengoku-gidai), principalmente em seu crepúsculo, surgiram grandes gênios da luta. Através das experiências vividas, eles se preocupavam em manter, mesmo em época de paz, o Ken-no-kokoro, o espírito da esgrima, considerado o alicerce do bushido (caminho do samurai), o qual desenvolveu-se em conjunto para a formação humana com ken (espada).
O homem não consegue viver em sociedade usando somente sua força animal ou instinto. Surgiu então um apoio mental, recorrendo-se à pratica do zen (método que dá equilíbrio mental). O Kendo chegou a um alto nível de perfeição, pois "ken-no-miti", o caminho da esgrima, é a meta de formação do samurai, favorecendo inclusive na era Tokugawa, o controle e o aprimoramento ao máximo da força mental e das técnicas. As lutas de Kendo permitiram enfrentar adversários fisicamente maiores com possibilidades de vence-los, impondo a paz e a disciplina, mostrando assim que já naquela época, os nobres procuravam aprimorar a mente e o corpo.

Objetivos da prática do Budo
Em resumo, deve-se a pratica do budo, a tarefa de contribuir na evolução do homem, ajudando-o a enfrentar e encarar a realidade com energia e coragem. A meta é descobrir o caminho de cada ser humano dentro das suas limitações e possibilidades. O homem, em sua evolução física e espiritual passa pelo estágio primário, secundário, atingindo um nível superior. Esta busca de perfeição deve ser o caminho da vida, que a cada dia se aprimora. Esta escolha do caminho permite ao homem viver, sentir, perceber, aperfeiçoar-se, enriquecendo-se até a morte.
A percepção atua, de acordo com o grau de sensibilidade, por meio dos órgãos dos sentidos, levando a diferentes reações e comportamentos. Além desses valores perceptivos, existe a riqueza espiritual que se manifesta pelo grau de emoções, satisfações e podem conduzir a verdadeira felicidade. Esta energia espiritual pode levar a um magnetismo favorável na personalidade e à formação de um alto grau de cultura do homem. O instrumento para o caminho da vida é a técnica que dá ânimo, motivação e estímulo. Para, utiliza-la, o homem aperfeiçoa sua habilidade e seu talento mantendo um bom controle do físico e da mente. Aqui, talvez esteja o verdadeiro caminho da vida.

continuação Budo

O que vem a seguir, é um profundo tratado filosófico sobre esta proposta milenar do budo, baseada em obras de grandes mestres do passado. Tais textos permitem ao leitor, ter um vislumbre de como deve comportar-se um guerreiro diante de uma situação de risco, seja na vida cotidiana ou em competições esportivas por exemplo, através do treinamento físico, mental e espiritual.
1. Preparo mental
2. Ki, Shin e Tai
3. Postura durante a luta
4. Como olhar durante a luta
5. Formas de lutar
6. Desequilíbrio Mental
7. Gritos de Guerra
8. Mente em "Ken" e "Tai"
9. Ouvir o som do vento e da água
10. A água é o espírito real e o gelo é falso
11. A vitória completa pode ser sua derrota completa
12. Vencer com "Ação Energética"
13. Ato de prudência
14. Takekurabe
15. O segredo das técnicas
16. A importância do treino e seus reflexos
17. A luta
18. Quem é bom no zen é bom na luta?



Preparo mental
O Budo diz: o estado mental deve ser igual ou inabalável na hora da luta como nas horas normais da vida cotidiana. A mente deve ser livre, clara, ampla e equilibrada. Não pode se tornar tensa e nem totalmente relaxada, sem se prender a nada, e sim, calma tranqüila; a vontade, não parando por nenhum instante.
Quando fisicamente se está calmo (parado, estático) a mente deve ser inversa, isto é, em estado de alerta. Quando o corpo está em forte movimento, o espírito deve manter-se calmo, como em dias normais. Evitar que o físico e a mente sejam arrastados ou influenciados um pelo outro. Não se preocupar demasiadamente com seu próprio corpo e nem se distrair ocupando seu pensamento com assuntos banais, mas evitar que o adversário perceba sua meta real na luta. Sua mente não deve se tornar turva, para que possa captar a imagem correta e conduzir o seu pensamento a uma posição mais nobre e instantânea.
Pesquisar cada vez mais no sentido de aperfeiçoar e lapidar o espírito, aumentando cultura e conhecimento. Cultivar a força de vontade, conhecendo o bem e o mal, o correto e o incorreto. Conhecer e assimilar as mais variadas modalidades de lutas e técnicas com a própria experiência, não se deixando iludir. Tudo isto deve ser praticado sempre, para poder corresponder instantaneamente quando for solicitado nas horas de necessidade ou grande ocupação, pois isso não se conseguirá aprender em curto espaço de tempo.




Ki, Shin e Tai
Ki (poder ou força que dá ação ao homem mentalmente). Energia não mecânica.
Shin ou Kokoro (coração ou sentimento)
Tai (força do corpo, inclusive as técnicas).
Ki - É uma qualidade que o homem deve adquirir, da qual origina toda a força e ação. Pode-se também definir como uma energia baseada no controle mental ou psicológico. É possível fortalece-la infinitamente, com a prática do Budo, auxiliada pela força de decisão. "Ki" se consegue através de treino consciente, no qual se adquiri confiança e experiência. Quando o "Ki" do homem une-se ao da natureza (leis naturais) surgirá uma força infinitamente grande. O domínio e o uso do "Ki" se consegue ampliar mais que 100% da própria capacidade, possibilitando maior proveito na vida cotidiana, no modo de agir e pensar. A energia hidroelétrica é um exemplo de união entre o homem e a natureza. Miyamoto Musashi quando adolescente, num dos duelos que travou, enfrentou um adversário fortíssimo, profissional de esgrima, conseguindo derrota-lo aproveitando a queda de rochas como fator surpresa. Este é outro exemplo de união homem-natureza.
"Shin" ou "Kokoro" (sentimentos) - Também se deve observar, utilizar e fortificar os sentimentos, como objetivo de treino. Tentando cada vez mais lapida-los ao alto grau de formação espiritual.
Na união do "Ki" e do "kokoro" surgem sentimentos naturais: a nobreza, lealdade, coragem, honra, responsabilidade, etiqueta, etc.
"Tai" (corpo) - O corpo deve ser forte, rápido, flexível, resistente, rico em reflexos, assimilando todas as modalidades de técnicas. Uso total do corpo, descarregando as agressividades e tensões nervosas acumuladas.
O Budo exige muita disciplina durante o período de treinamento, tanto no início, como no término da luta, devendo-se comportar com rigorosa etiqueta em suas normas. Seu treinamento não visa apenas a vitória numa luta ou seu orgulho pessoal e sim um melhor estado físico, uma vida cotidiana mais satisfatória, a preparação para enfrentar qualquer problema.
Durante a luta deve-se encarar com grande importância a distância em relação ao oponente, além da velocidade, técnica e equilíbrio no ataque e defesa, devendo-se adquirir inicialmente, de forma concreta a base ou fundamento correto na sua modalidade esportiva, garantindo assim um bom alicerce em sua formação.



A postura durante a luta
Falando em postura, alguns mestre observaram durante a luta o comportamento dos animais selvagens e concluíram, por exemplo, que um gato quando enfrenta um adversário, curva a coluna, demonstrando sua aparência bem maior, para impressionar o oponente e proteger-se contra agressões.
Segundo Musashi, o homem é um ser superior e diz o seguinte: "kamae" existe, mas também deixa de existir, portanto, não é recomendável ficar preso ou ocupado com uma posição, pois o objetivo é derrotar o adversário e a sua técnica. Deste modo pode-se dizer que existe ou não Kamae, pois se altera de acordo com o oponente, o local, a situação, podendo ser tomada a forma mais adequada e não perder o objetivo principal, que seria derrotar o adversário. Portanto, havendo a necessidade de utilizar maiores variedades de ataques e contra-ataques, não se prender a isto e sim fixar o pensamento num único objetivo, que é a maneira para dominar o oponente. Sem isso, nunca poderá derrota-lo.
Diz um provérbio sobre treinamento: "Hoje venci o eu de ontem. Amanhã vencerei o meu interior e no futuro vencerei o meu superior".
"Kamae" - formas ou posições de lutar que cada lutador possui e já conhece. No entanto, qual seria a posição ideal? - Musashi diz o seguinte: seu rosto deve manter-se firme, a cabeça é o centro de gravidade do corpo, deve-se manter equilibrado, sem abaixar ou erguer, sem torcer ou inclinar. Seu olhar é firme, cujo movimento deve ser calmo e estável. Não é recomendável contrair a testa exibindo rugas, admitindo-se estas entre as sobrancelhas e ao início da linha do nariz. As vistas devem piscar menos e diminuir o angulo de abertura dos olhos. Sua fisionomia é tranqüila, a linha do nariz normal, contraindo levemente o pescoço para endireitar a posição da cabeça; do ombro até ao longo do corpo seus tônus ou tonificações musculares são uniformes.




Como olhar durante a luta
"Seus olhares devem ser amplos e maiores em todos os sentidos"
"Kam" significa ver o "conteúdo" e será observado em primeiro lugar para notar a real qualidade das coisas. Depois vem "Kem", que significa olhar seus movimentos superficiais ou estéticos.
Olhar, ler e compreender superficialmente os movimentos distantes e observar, enfrentar e saber os objetivos reais dos movimentos próximos. Ver e entender o "conteúdo", evitando a influência das atitudes estéticas ou aparências. Nas lutas de mais de um adversário, deve se olhar os lados e arredores, sem movimentar os olhos.
Busque resolver os problemas mais necessários em primeiro lugar, sem esquecer dos secundários. Na movimentação ou na forma de execução, não estacione ou pare. Existem sentidos e valores que progridem e se alteram. Quando parar significa a morte, não parar significa a vida. A água em movimento não estagna nem putrefaz. Qualquer treino deve ser pesquisado continuamente possibilitando alterações e progresso.




Formas de lutar
Assim, através dos treinos, adquirir e assimilar as cinco formas de luta e todas as técnicas. O corpo aumenta sua flexibilidade, tomas decisões corretas e obtém o ritmo certo, facilitando os reflexos e impulsos. No inicio, vence um adversário, depois dois, três e muitos outros, aprendendo o certo e o errado na luta e, gradativamente, começando a perceber seu real objetivo.
Não se deve apressar e nem precipitar nos treinos e sim conhecer vários tipos de adversários, inclusive o preparo mental deles, alcançando essa meta com as próprias experiências vividas.




Desequilíbrio mental
São várias as causas da perda de equilíbrio mental: trauma psicológico, no caso de perigo, situações imprevistas, dúvidas, emoções descontroladas, acidentes, medo, etc. que podem influenciar o adversário e também a si próprio. Portanto, é muito importante, principalmente durante uma luta, enfrentando o oponente a frente, a exigência e necessidade do maior controle do seu estado psicológico. Aquele que conseguir esse controle perante seu atacante, já terá uma grande vantagem, possibilitando uma vitória com relativa facilidade. Assim, para abalar o estado mental do adversário é preciso citar situações, como golpes falsos, etc., utilizando ao máximo os recursos e conhecimentos adquiridos através de pesquisas profundas, as quais são necessárias. Conseguindo desequilibrar psicologicamente o adversário, este torna-se inseguro e abalado, perdendo o controle físico.




"Kiai" (gritos de guerra)
O 'Kiai' pode ser aplicado em três momentos: inicial, durante e final. Os gritos de guerra servem para aumentar, acelerar e expor a força de ação do homem. Portanto podem ser aplicados contra incêndios vendavais e as fortes ondas marítimas, para criar coragem e energia para enfrenta-los.
Na luta individual, para colocar o adversário em movimento, o grito antecipa os golpes. não é necessário utilizar o grito, simultaneamente com os golpes. No decorrer da luta, ele servirá para incentivar numa situação, numa onda quente a correnteza da vitória (e este também é baixo, forte e profundo). Usa-se também como agente animador numa torcida. Deve-se tomar precauções ao gritar, pois se o grito for usado fora do ritmo e tempo ou em ocasiões impróprias, poderá surgir como contra efeito, tornando-se prejudicial.




Mente em "Ken" (ataque) e "Tai" (defesa)
"Ken", significa atacar violentamente e vencer com enérgica iniciativa, isto é, como uma explosão total de forças. "Tai", esperar o ataque do adversário, mas com bastante precaussão, estando física e mentalmente pronto para o mesmo, refletindo instantaneamente e não apenas para defender-se logo. Neste caso, o reflexo deve ser como "antecipar a iniciativa do ataque do oponente".
Pode-se colocar o corpo em "ken" (ataque) e a mente em "Tai" (defesa), ou vice-versa. Isto pode ser chamado como alternância da mente e do corpo em Ken e Tai. A razão disto está em não deixar que a mente e o corpo estejam em Ken (ataque), porque surgirão algumas falhas no descontrole de um deles. É como se fosse um automóvel com excesso de velocidade e o motorista em estado mental agitado, havendo assim uma grande possibilidade de perigo. Sendo ao contrário o corpo e a mente em Tai, simultaneamente, a luta tornar-se-á monótona e será surpreendido pelo adversário, o que também não é recomendável. Então o ideal seria o controle harmonioso entre o corpo e a mente sempre em alternância.




Ouvir o som do vento e da água
O homem pode se dividir em duas partes: parte externa ou superficial e interna ou mental. O controle ideal seria semelhante ao do Texto anterior, mas também pode dizer-se que, para um lutador, sua parte externa deve colocar-se em estado calmo e a parte interna em estado dinâmico e ativo.
Yagyu Tajimano kami diz: "O vento em si não emite nenhum som. Mas, se vier a soprar mais baixo e em contato com diversos tipos de obstáculos, emite vários tipos de sons. A água quando cai, não tem som, mas ao chocar-se contra algum obstáculo, produz diversos sons. Assim, deve-se reagir calmamente de acorod com as circunstâncias e necessidades. Deve-se manter a calma superficialmente, porém, no interior deve-se se estar em ação para se aprimorar."
No Budo, o corpo em movimento nervoso não é recomendável e também se deve evitar a influência mental pela movimentação superficial.
Existem os termos IN, que se pode traduzir como pólo negativo, lua, noite, dorsal e YOU, pólo positivo, Sol, dia, facial. Ambos são necessários para compreensão de tudo que nos cerca. Devem ser ajustados equilibradamente, simultaneamente com a sua parte externa e interna do corpo. Quando a sua parte interna for YOU (ativa), a parte externa é IN (calma) ou virce-versa, deverá sempre haver um equilíbrio entre a mente e o corpo.
O "Ki" pode ser expresso na alegria, no estado de atenção, de alerta de vontade, nos anseios, etc. e assim se pode trabalhar com o KI (energia de ação) em grande uso no seu interior e com cuidado e precaução no exterior ou, no interior calma e exterior ativo. Expondo o KI desse modo, tudo isso deve ser natural como o amanhecer e o anoitecer.
Assim, Ken (ataque), Tai (defesa), Dou (movimento) e Sei (parado) devem ser ajustados harmonicamente e alternadamente no seu interior e exterior do corpo ou inversamente.
Um pássaro d'água que flutua sobre a mesma, aparentemente está calmo, mas por baixo da superfície da água está utilizando cuidadosamente suas patas a procura de iscas. Existem duas faces opostas chegando à perfeição, cujo trabalho do corpo no seu íntimo e no exterior se torna uma ação conjunta, perfeitamente livre e espontânea. Jubei Yagyu analisando o provérbio acima citado, diz: "Durante a luta tenha sua mente tranqüila consigo mesmo, até possa ou consiga ouvir o sussurro do vento e da água."




A água é o espírito real e o gelo é falso
O espírito real quer dizer: conseguir vencer, analisar e agir de modo correto do seu estado mental normal, o que não fica preso a qualquer coisa.
O espírito falso, ao contrário, se torna preso a um pensamento isolado. Agora, se seus espíritos reais se concentrarem apenas num lugar, tornando-se sólido, transformar-se-ão em espíritos falsos. Deste modo, não poderá reagir naturalmente contra os diversos tipos de problemas que surgem ao redor.
A água e o gelo são semelhantes, mas não iguais, pois com o gelo não se pode lavar. Derretendo-o e permitindo que se escoe livremente em todas as direções, torna-se então utilizável.
Com a mente acontece o mesmo, não se deixar prender, pois ficando sólida, perde a flexibilidade e não poderá ser utilizada. Derretendo-a e permitindo que se escoe por todo seu corpo, onde quer que seja, em todo lugar, livremente, assim se pode dizer que é o espírito real. Quando a mente fica presa por uma flor vermelha, esquecendo-se do tronco, raízes e folhas, perde-se a visão do conjunto. O homem, as vezes, refletindo sobre suas atos, logo percebe porque estava tão nervoso e descontrolado por assuntos tão banais. Isto quer dizer que a mente estava presa e sólido.




A vitória completa pode ser sua derrota completa
Existe um provérbio que diz: "Conhecendo-se o adversário e conhecendo-se a si próprio, pode se lutar cem vezes que não haverá perigo. Não conhecendo o adversário, porém conhecendo-se a si, às vezes se pode ganhar ou perder. Mas, se não se conhece o adversário e nem a si próprio, nunca se conseguirá vencer."
É necessário admitir corajosa as próprias falhas o que poderá ser a causa da derrota. Não exceder sua capacidade e nem se rebaixar. O excesso de orgulho e outras falhas acontecem devido à falta de visão realista, coragem e cultura. É preciso conhecer o seu "eu" fraco e o forte para adquirir a vitória.




Dominar com "Iguem" (Kuraidori) e vencer com "Ação energética" (Ikioi)
"Iguem" ou "Kuraidori" significa que o homem domina o adversário não pela técnica da luta e nem pela força, mas sim por uma espécie de energia irradiada que se manifesta pelo grau de formação espiritual, cultural e do caráter do indivíduo. "Iguem" não se altera por influência externa ou circunstâncias, porque isto é uma qualidade adquirida do homem.
Com o "Iguem" e uma vez que o individuo tomou a posição de luta (kamae) que é a posição realmente perfeita, exercendo uma pressão dominadora contra o oponente, sem a necessidade de movimentos, sua atitude nunca será influenciada ou abalada pelos movimentos adversário.
"Ikioi" é um movimento ou ação bastante forte e esmagadora, além de dominadora, contra o adversário.
"Iguem" é calmo, mas no íntimo contém mil variações e alterações de reflexos, prontos contra qualquer tipo de ataque do adversário. Junto com o movimento "Ikioi", cuja ação é esmagadora, anula as mil tentativas do oponente.
Assim diz-se: Enfrente o adversário com Iguem e vença com o Ikioi. São as duas coisas num objetivo só. Dentro de Iguem, contém Ikioi e vice-versa. Quando apresentar Iguem forte, não temerá o oponente e nem terá dúvidas de si próprio.




Ato de prudência e seu procedimento diário
Para expor com perfeição toda capacidade de conhecimento, deve-se agir de modo prudente, habitual e constante, em qualquer circunstância. A maioria das técnicas, atos fenomenais e lendários transcritos, foram baseados na dedicação e seu melhor controle mental e não com o auxílio de milagres. Mesmo possuindo técnicas fenomenais, caso for surpreendido numa hora de distração, não conseguirá realizar um trabalho consciente. Portanto, na hora de sentar-se, verifique discretamente ao seu redor, em todos os sentidos e direções, de modo a prevenir-se contra qualquer incidente. Também, quando estiver perto de uma porta, observar cuidadosamente, preparando-se contra o perigo.
Assim como no exemplo citado acima, deve-se ser prudente no modo de agir, de procedor, preparando-se física e mentalmente para estar apto a qualquer situação, através do seu treino e prática constante. Só assim conseguirá uma reação satisfatória em qualquer ambiente.
Para uma pessoa bem treinada no seu modo de proceder, com o olhar, pode transformar seu olhar em um golpe que se denomina "Mitsume", isto é, um olhar relâmpago e dominador, em que o adversário perde suas reações e reflexos, sendo que, esta falha, numa fração de segundo, poderá ser uma das causas de derrota. O gato, com seu olhar, consegue paralizar o rato e este esquece-se das pernas para fugir, preocupando-se com o olhar fulminante do gato. Os acontecimentos imprevistos podem ser diabólicos e fatais, apresentados sob mil variações e quem não estiver preparado, mesmo possuindo boas técnicas, poderá falhar na união da técnica, mente e corpo que refletem inconscientemente as suas capacidades com perfeição.




Takekurabe
Takekurabe significa aferição de altura. Isso explica o ato de aproximar-se ou chocar-se contra o adversário, para evitar de tomar uma postura rebaixadora. Em qualquer situação, para penetrar no adversário, é necessário que o corpo se alongue, se estenda ao todo que fique mais solto, à vontade, cheio de reflexos, evitando que se torne encolhido ou espremido. Assim, deve-se enfrentar o adversário, corajosamente, frente a frente, dominador, exercendo pressão no adversário e com força, como se fosse numa aferição de altura.




O segredo das técnicas
A luta não é magia, portanto, não há necessidade de esconder certas técnicas, fazendo segredo. O bom método seria transmitir as técnicas mais fáceis de assimilar, evoluindo para as mais difíceis, juntamente com as teorias mais simples de adaptação e, pouco a pouco, de acordo com o progresso do indivíduo se aprofundando nos assuntos mais complexos. Na luta, as vezes, é melhor utilizar as técnicas fenomenais, não só por aquele que está com o nível técnico em condições de entender do assunto e ter capacidade para utiliza-las com grande aproveito, como por aquele que ja é um mestre.
No Budo, o mestre pode se orgulhar, mesmo que ensine tudo que conhece. Ninguém consegue superá-lo porque existe constante progresso e aprimoramento entre professor e o aluno. Não merece respeito, aquele que leva o budo, exibindo aos leigos os seus mil e um manejos, impressionando-os. O budo não é show, portanto deve ser modesto e servir para o aperfeiçoamento de algo mais na formação de sua personalidade. Possuir bons princípios e confiança, evitando tomar o caminho malévolo e a auto-destruição consequentemente.




A importância dos treinos e seus reflexos
Existe uma tendência no campo esportivo de que as teorias antecipam-se às praticas em geral. As posições de lutas são mais fáceis de assimilar do que as movimentações na luta. Estas tendências ocorrem principalmente quando o adepto tenta se aperfeiçoar fugindo de sua prática e permanecendo longe das experiências vividas.
Os reflexos e as técnicas instantâneas não nascem com os pensamentos ou cálculos e sim através do fenômeno natural que é a maior repetição e a sedimentação constante dos treinos e estes se revelam de um modo mais econômico e perfeito contra diversas formas e tipos de ataques. O treino deve objetivar a vitória, descobrir o caminho real da vida e com persistência no treino, o corpo adquire suas teorias. Através dos treinos, atingindo certo nível, consegue-se diminuir os problemas e tensões que abalam a mente, que trabalham em conjunto e unidade.
Os movimentos na luta tornam-se automáticos e inconscientemente reagem contra qualquer situação em que se encontrem de modo tranqüilo. Toda esta automatização se adquire com o aprimoramento da pesquisa no treino e a dedicação, conseguindo ultrapassar seus ensinamentos, atingindo então o "Satori" (perfeição, iluminação) que não se aprende através de ensinamentos e isto se descobre com o próprio corpo.
Então surge a dúvida - como deve ser o seu treino para que as teorias não se antecipem às práticas? Isto, Yagyu esclarece através da denominação - "grau da lua e da água" (Suiguetsu-no-Kurai). A Lua reflete na água em diversas formas, por motivos de muito tipos de ondas influenciadas pelo ambiente, mas a imagem real é única. O indivíduo bem formado e equilibrado, mesmo de um ambiente sujo, não se contamina, em perfeito estado. É como uma jóia bem lapidada que mesmo dentro da lama, não perde o brilho. Porém, uma pedra não lapidada, a sujeira e a poeira facilmente aderem a ela. manter o estado mental em "Mushim", quer dizer não ficar escravizado por interesses e idéias confusas e também de mal conceito mental.
Não se define a imagem real do estado mental mas, pode concretizar-se, exemplificando como a água que não possui forma definida, se situando em qualquer recipiente, quer seja redondo ou quadrado, livremente. Não se deve preocupar somente com um conteúdo de treinamento. Assim nos golpes a aplicar, acompanham as técnicas, para as quais participam suas leis e princípios fundamentais. A força mental é a origem das técnicas e a forma ou base de lutar é a origem dos movimentos nos golpes. Através da lealdade consigo mesmo, consegue-se adquirir a vitória, mas com o engano e malandragem, a vitória vem raramente. Não se deve progredir com teorias emprestadas, fugindo das próprias experiências que vive.




A luta
Um estilo explica: quando enfrentar o adversário seriamente, em frente, surgem duas faces na mente. Uma é para vence-lo e dominá-lo, outra é o medo tentando fugir da situação, pois a outra é uma coragem falsa e imposta. Aceitar esta realidade e treiná-la para fortifica-la cada vez mais se faz necessário para ter o domínio perfeito das técnicas, inclusive o seu físico. A essência do budo é utilizar ao máximo o trabalho fenomenal da mente, pesquisando-a, sedimentando-a gradativamente para o melhor.
Um cego aproxima-se da cobra sem medo, pois ele não a vê e não conhece o perigo. No início do treino, surge uma etapa em que se enxerga o medo e não consegue se movimentar, mas com persistência, ultrapassando essa barreira, aprede-se a se afastar do perigo.




Quem é bom no zen é bom na luta?
Seus objetivos são distintos, mas muitos falam de seu relacionamento e se confundem. Zen é para ultrapassar o mundo da vida ou da morte, para adquirir a paz espiritual ou mental, conseguindo assim a mente clara e o bom raciocínio, anulando todos os problemas que nos cercam. Deste modo, estando numa situação, no meio de mil adversários, mesmo o seu corpo sendo triturado, consegue manter o estado mental consciente. Mas este estado mental não serve para livrá-lo da morte. Mas, sim, para não temê-la.
Portanto, a diferença no budo seria afastar ou defender-se da morte com auto-confiança. Assim, o estado mental em equilíbrio pode enfrentar e resolver os problemas de modo mais conveniente e útil para si.
Concluindo, só o treino mental não basta, é necessário fortalecer a técnica através do corpo, evitando desta maneira, a influência maléfica. Assim a mente nunca será ameaçada.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Morihei Ueshiba e seu aluno Gozo Shioda


Pedaços da entrevista ao jornal AIKI NEWS

No dia 23 de maio de 1932, com 17 anos, Gozo foi ao Ueshiba dojo para assistir a uma demonstração. Tendo tido bastante experiência em kendo e em judo, o confiante jovem Shioda estava cético quanto às técnicas simples e controladas que viu. Percebendo que o jovem não estava impressionado, Ueshiba o convidou a atacá-lo, e num piscar de olhos, o jovem se viu caído de costas, coçando a cabeça após uma tentativa frustrada de dar um chute.
Em aikido, “ver é acreditar”, e Shioda imediatamente se decidiu a entrar para o dojo. Como ele precisava de duas indicações para se registrar, seu pai e o Sr. Abe lhe deram cartas de recomendação. Naquela época, havia cerca de vinte uchideshi no Ueshiba Dojo, e eles tinham uma agenda rigorosa, com aulas começando às cinco da manhã e terminando às nove da noite. Deve ter sido emocionante para o jovem Shioda se tornar parte deste dojo em que estavam treinando diversos artistas marciais habilidosos, e aonde compareciam com freqüência diversas pessoas de altas classes sociais.
Morihei Ueshiba era muito ativo neste ponto de sua carreira e dava aulas em seu Kobukan Dojo em Shinjuku e também no instituto militar Nakano, na escola de Policia Militar, e na escola do Exército Toyama, entre outros lugares. Por esta razão, ele não precisava buscar alunos entre o público geral, e a ênfase no Kobukan era o treinamento e o desenvolvimento dos uchideshi. Tecnicamente falando, o “Aiki Budo” de Ueshiba nesta época estava na fase de transição, entre o Daito-ryu aikijujutsu e o moderno aikido. Como resultado disso, as técnicas eram muito mais numerosas, de aparência mais linear e aplicadas com grande vigor. Além disso, ainda eram usadas técnicas de imobilização muito complexas (osaewaza).
O jovem Gozo ainda era estudante de segundo grau nesta época, e, no início, participava apenas das aulas matutinas, tendo que acordar às 4 da manhã. Posteriormente, com a preocupação de seu pai com seu futuro, Gozo buscou uma “vida de aventuras” participando da “reconstrução” da Mongólia. Como parte de sua preparação para os anos duros que teria pela frente, ele decidiu se afastar da escola por um período de dois anos, para se devotar integralmente ao treinamento de aikido. Assim, ele continuou a praticar aikido enquanto era estudante na Universidade Takushoku até sua partida para o serviço militar em Março de 1941.
Shioda passou a maior parte da guerra na China, começando como secretario do General Shunroku Hata em Beijing, e mais de uma vez viu de perto a morte. A autobiografia de Shioda cobre este período, e é uma leitura excitante. Por volta de Setembro de 1946, poucos meses antes de ser liberado do exército imperial, Shioda passou várias semanas em treinamento intensivo e praticando agricultura na casa de Ueshiba, que tinha se retirado para Iwama, na Prefeitura de Ibaragi, durante o início da guerra. Ainda jovem, e tendo seu mestre aparentemente se aposentado, Shioda retornou a Tokyo, e como a maioria do povo, lutou para seguir com sua vida, no Japão que sofria com a pobreza.
Em 1950, o destino fez com que Shioda fosse convidado para trabalhar na guarda do complexo de Tsurumi, da companhia de aço Nihon Kokan no início da “limpeza vermelha” e juntou 55 doe membros mais fortes dos clubes de kendo, judo e sumo de sua Universidade Takushoku. Com isso, ele foi convidado a ensinar aikido em diversas áreas da companhia a partir de 1952. Ele também fez diversas demonstrações em departamentos de policia no início da década de 1950.
Uma grande demonstração de aikido em 1954 acabou sendo um evento importante, em Tokyo, patrocinada pela Associação Life Extension, da qual participaram cerca de 15,000 pessoas. A apresentação de Shioda teve grande receptividade do grande público e aos poucos a nova organização Yoshinkan de Aikido começou a ter proeminência. Além disso, nessa época as atividades de Shioda se tornaram famosas, conhecidas de muitos membros do mundo dos negócios. Em especial, um certo Sr. Kudo, chefe do banco Tomin veio em auxílio da Yoshinkan e apoiou a constrição de um dojo. O prédio Tsukudo Hachiman foi aberto ao publico em 1955. A partir deste modesto começo, o Yoshinkan Aikido gradualmente se espalhou por todo o Japão e para paises estrangeiros, especialmente os E.U.A. para a Europa. Atualmente é a segunda maior organização de aikido com centenas de dojos associados em sua rede internacional.
Neste ponto, seria útil fazermos um esclarecimento. O assunto de como o Yoshinkan Aikido se separou da Aikikai não é muito compreendido. Quando Shioda começou suas atividades no aikido com grande ímpeto depois da guerra, Morihei Ueshiba ainda estava em seu retiro em Iwama e as aulas no Aikikai dojo (anteriormente chamado de Kobukan) não eram constantes e tinham poucos alunos. Na verdade, diversas famílias desabrigadas devido ao bombardeio de Tokyo viviam no dojo. Nesta época, ele era usado até como salão de baile!
Foi nestas circunstâncias que Shioda foi bem sucedido desde o início e o Yoshinkan cresceu. Algum tempo depois, o Aikikai gradualmente começou a reencontrar um ritmo de crescimento, sob a direção do filho de Ueshiba, Kisshomaru, e o próprio fundador começou a passar cada vez mais tempo em Tokyo. Assim, nunca ocorreu uma separação formal entre as duas organizações, apesar de seus diferentes modos de ver o aikido. Os dois grupos simplesmente evoluíram de forma independente, mantendo ligações mais ou menos cordiais. Até hoje Shioda e Kisshomaru (este artigo foi escrito em 1994) fazem apresentações regulares em ocasiões formais.
Shioda treinou com Ueshiba quando este estava em seu auge, com 50 anos e muito vigoroso. Assim, as técnicas que ele aprendeu do fundador do aikido eram bastante diferentes das por Ueshiba ensinadas durante os anos do pós-guerra. Não é de surpreender que o Yoshinkan Aikido é claramente diferenciável do que é praticado pelo sistema do Aikikai, sob a liderança do filho de Ueshiba, o atual Aikido Doshu. A discussão sobre em que momento a técnica de Morihei Ueshiba estava no seu auge, se antes ou depois da guerra, continua, e qualquer conclusão deve ter um caráter subjetivo. Mas não importando o lado em que se está nesse assunto, muitos certamente concordarão com a opinião expressada por Shioda em uma entrevista que foi publicada no “Aiki News” há vários anos: “O aikido atual não tem dimensão. Ele é oco, vazio por dentro. As pessoas tentam atingir os níveis mais altos sem cumprir suas obrigações. É por isso que ele parece tanto com uma dança hoje em dia. Você deve dominar o que é básico de maneira sólida, com seu corpo, e depois prosseguir para se desenvolver até um nível maior. …. Agora vemos apenas cópias e imitações sem nenhuma noção do que é verdadeiro ….”
Gozo Shioda, fundador do estilo Yoshinkan de aikido, começou seu treinamento em 1932, com dezessete anos de idade. Sessenta anos depois, ele é o líder de uma organização internacional de aikido diferente, cuja meta é a harmonia global através da difusão do espírito do aikido. Nesta entrevista, Shioda Sensei relembra suas experiências como assistente do fundador do aikido, como professor de aiki budo nas escolas militares de Nakano e Toyama, o estabelecimento, depois da guerra, do Yoshinkan Aikido, e suas memórias sobre O-Sensei no final de sua vida.

O Fundador em seu leito de morte

Você se encontrou com Ueshiba Sensei antes dele morrer?

Eu visitei o Sensei quarto dias antes de sua morte, em 26 de Abril de1969. No passado, uma vez lhe perguntei, “Sensei, porque você é tão forte? Quando foi seu momento de maior força?”. Ele respondeu, “isso vai acontecer no dia em que eu subir para o paraíso. Vai ser quando eu serei mais forte. Shioda, compreenda isso. Olhe para a chama da vela quando ela vai se extinguir. Ela subitamente brilha. É isso!”
O-Sensei disse que era isso o que tinha em mente ao falar da chama que subitamente brilha mais ao se apagar, e ele disse isso muito tempo antes. “Assim, eu sempre vou estar treinando”, ele disso. Ele provou isso antes de sua morte.
Quatro dos jovens deshi estavam com o Sensei. Ele estava dormindo quando cheguei, mas subitamente ele acordou e disse, “É você, obrigado por vir. Estou cavalgando um cavalo alado pelo paraíso. Eu posso ver a terra. Shioda, o que o [Kenji] Tomiki está fazendo agora? Eu estou observando”. O Sensei tinha câncer no fígado. Suas mãos tinham ficado finas. Mas quando ele precisava ir ao banheiro, ele se esforçava para se erguer.
Como ele não conseguia comer e estava só bebendo água, tinha perdido sua energia e parecia morto. Mas mesmo nestas condições, às vezes ele dizia: “Vamos! Vamos treinar!”. O medico disse, “Isso é o que há de pior para ele. Segurem-no para que ele não se levante!”. Era para isso que os jovens estavam lá. Quando ele tentou se levantar, os jovens o seguraram e foram todos arremessados voando no jardim.

Isso é impressionante!

Quatro dias antes de morrer ele provou o que disse antes. Naquela época Kisshomaru tinha mudado seu nome e era chamado Koetsu. Ele estava aguardando ao pé da cama, e Ueshiba Sensei disse, “Shioda, quero que você apóie Koetsu no lado técnico. Quero que você sempre coopere com ele. Eu conto com você.”. Kisshomaru ficou lá e ouviu.

A Origem do nome Yoshinkan

Conte sobre a origem do nome Yoshinkan.

Seu significado original é “Devemos sempre ter em mente que somos seres tolos, e sem duvidar, devemos permanecer em silêncio e cultivar nossos espíritos”.
Significa que devemos sempre lembrar do fato de que somos tolos, sempre ter em mente isso, e não permitir que a mente se distraia. O shin se refere ao espírito. O shin e o espírito e devemos sempre cultivá-lo. É por essa razão que foi escolhido e nome Yoshinkan.

Métodos Técnicos do Yoshinkan

Como foi desenvolvido o método original de ensino do Yoshinkan Aikido?

Sei que as técnicas de Ueshiba Sensei são maravilhosas, mas o que ele fazia em um dia era completamente diferente do que tinha feito no dia anterior. Como Ueshiba Sensei fazia o que lhe passava pela cabeça, as pessoas que estavam treinando observavam o que ele estava fazendo sem compreender. Não é nada parecido com as técnicas básicas que vemos atualmente. Ele fazia o que lhe passava pela cabeça.
Mas se você tentar ensinar um iniciante desta maneira, ninguém vai aprender. Então pensei que deveria sistematizar estas técnicas quando comecei a dar aulas na Companhia de Aço Nippon Kokan. Eu comecei a analisar as técnicas e a desenvolver um sistema de ensino, sintetizando o que tinha aprendido até então. Depois eu também organizei as aplicações das técnicas. Eu examinei as técnicas antigas que tinha aprendido.

Alguém em especial lhe deu assistência quando você estava desenvolvendo seu método de ensino?

Quando Kyoichi Inoue era um jovem aluno, eu experimentei várias coisas diretamente com ele e desenvolvi o sistema. Assim, por exemplo, eu desenvolvi coisas como hiriki no yosei [desenvolvimento do poder do cotovelo] e também designei os nomes.

Você designou os nomes?

Sim. Eu decidi os nomes. Talvez possa ser dito que eles são um tanto arbitrários.

Ueshiba Sensei dava nomes para as técnicas quando ele dava aulas antes da Guerra?

Ele usava o termo irimi. Ele dizia que sokumen irimi e shomen irimi eram tipos de irimi. Ele dizia coisas como “Irimi é a essência do aiki.”. Certamente outras artes marciais como o judo não tem iriminage. Talvez ele usasse os nomes das técnicas que aprendeu com Sokaku Takeda.

Aikido versus Karate

Karate se tornou uma arte muito praticada desde o fim da Guerra. Quais as técnicas do aikido que você considera melhor contra os socos e chutes do karate?

Bem, acho que é uma questão de maai [distancia de combate]. Você tem que aproximar o maai. Você deve se unir com o chute quando o oponente ataca e “voar para dentro”. Isso é o mais importante. É uma questão de timing.

Karatekas avançados socam e chutam com muita rapidez …

Sim, é verdade.

Você acha que a pratica do aikido deve incluir técnicas contra os ataques de karate como os socos e chutes?

Esse é um problema difícil. Tanto o karate quanto o aikido delimitaram seus territórios. Um deles seria arruinado se ambos competissem. Talvez esse tipo de coisa poderia ocorrer no passado, com disputas entre membros de diferentes escolas marciais [taryu jiai], mas acho que esse tipo de coisa não deve ocorrer agora. Quem gosta de karate pratica karate, quem gosta de aiki pratica aiki. Ueshiba Sensei sempre nos dizia, “Estamos estudando a essência, a alma [do budo], então não devemos nos preocupar, não importa quem venha nos atacar.”.

Entendo.

As pessoas que praticam juntas são amigas. Em uma analise final, a virtude moral que é a parte mais forte. Você desenvolve a virtude. Isso é o mais importante. Então, ao confrontar um oponente, você faz isso com a mente voltada para se harmonizar com ele e fazer com que ele abandone suas intenções hostis. Esta virtude é a habilidade de fazer com que ele se renda por sua própria vontade. Não importa nem mesmo se ele está segurando uma espada ou outra arma …

Pessoas que praticam aikido por muitos anos e chegam a Segundo ou terceiro dan vêem as competições de karate na TV e às vezes têm dúvidas se seriam capazes de lidar com tais ataques. Se alguém realmente se defrontar com um ataque de karate, como ele o evitaria? Uma técnica de chave de junta, como o kotegaeshi pode não ser suficiente. Creio que muitas pessoas têm esse tipo de dúvida.

Bem, é uma questão de sincronia, de compreender o princípio do movimento do ki.
Ueshiba Sensei dizia, “você pode perceber quando seu oponente chuta ou ataca vendo o inicio do movimento de seu ki..”. Por exemplo, há uma histories engraçada sobre Kenzo Futaki Sensei [famoso por sua dieta de arroz marrom]. Uma vez, quando Futaki Sensei estava treinando, sempre que ele ia fazer um golpe shomenuchi, Ueshiba Sensei escapava pela direita. Então, Futaki Sensei atacou pela direita, e Ueshiba Sensei não se moveu. Um mestre deste nível pode perceber o ki da outra pessoa. Ueshiba Sensei era capaz de fazer com que o oponente perdesse a vontade de lutar. Ele assumia imediatamente um estado de desapego mental [mushin] e percebia a intenção de seu oponente. Apenas Ueshiba Sensei ou outro indivíduo igualmente extraordinário é capaz de fazer coisas assim.

Sensei, pelo que sei você teve oportunidade de usar seu treinamento marcial durante a guerra.

Sim, é verdade. Acho que o que Ueshiba Sensei dizia era verdade. As coisas realmente aconteciam sem qualquer hesitação. Se você se recorre à força e assume uma posição, será derrotado. Se você se defronta com um rápido ataque de karate, você será derrotado. Você não deve ficar pensando em fazer isso ou aquilo. Estes detalhes não são importantes.
Ueshiba Sensei disse, “Não é uma questão de ganhar ou perder, de vitória ou derrota. Você deve sentir que todas as pessoas são suas amigas”. Quando eu fui para a guerra, Ueshiba Sensei me disse, “Não se preocupe. Não importa aonde você vá, apenas cultive sua virtude”.

Praticantes de outras artes marciais devem ter dificuldade para compreender essa idéia.

Isso é uma pena. Isso acontece porque eles tem o foco na vitória ou derrota. Se não nos livramos desta forma de pensar, será difícil que as artes marciais progridam. Temos que parar essa forma de pensar.


quarta-feira, 14 de outubro de 2009

"Guia para a prática do Aikido"

Desde o início, o AIKIDO preferiu não limitar os estudantes com muitas regras e regulamentos. Sentia-se que elas eram desnecessárias, porque os estudantes vieram para o Dojo por sua própria iniciativa e a maioria estava procurando algum objetivo através do treinamento do Aikido. Em conseqüência seria de esperar que eles observassem a maneira adequada de comportamento.
Esta atitude básica dava ênfase ao princípio de nunca recusar a admissão a qualquer um que tivesse apto e nunca tentar trazer de volta aquele que partisse. Aqueles que entraram por sua própria escolha naturalmente observariam a etiqueta do Dojo. Aqueles que partiram , não teriam qualquer necessidade de suas regras e
regulamentos. Em lugar de cercear os estudantes, desnecessariamente, a tendência era de deixas que os acontecimentos seguissem o seu curso natural.
Uma razão para explicar esse comportamento , era o fato de que, quando o Fundador- Morihei Ueshiba, foi levado pela primeira vez a abrir um Dojo de Aikido , os estudantes originais eram homens maduros e experientes , de bom senso , líderes reconhecidos em suas atividades. Sendo pessoas com um forte sentido de responsabilidade e decoro. Não havia necessidade de códigos de comportamento no Dojo. O fundador do Aikido entrevistava cada pessoa interessada em ingressar na academia e era muito seletivo. O fundador não aceitava qualquer um ! Nenhum fator externo poderia influenciar a quem ele tomaria como estudante, depois de admitido o praticante encontraria no Dojo um rigoroso programa de treinamento.
Embora os estudantes não estivessem restritos por regras e regulamentos, eles recebiam uma carga muito pesada a que , no entanto , eles assumiam por sua própria vontade , correspondente a exigência disciplinar requerida na prática do Aikido.
Tempos depois, com o grande aumento de praticantes , houve solicitações de regulamentos para o Dojo. Então, um dia , os estudantes mais graduados foram a O-sensei e lhe explicaram a situação. O-sensei sorriu e disse: E, então, os tempos mudaram !" . Ele então escreveu rapidamente as seguintes seis regras que
tornaram-se conhecidas como "Guia para a prática do Aikido".

1-O Aikido pode decidir a vida e a morte em um único encontro, e
por isso os estudantes devem seguir cuidadosamente o ensinamento
do instrutor e não competir para ver quem e' mais forte.

2-O Aikido e' o caminho que ensina como alguém pode lidar com
diversos inimigos. Os estudantes devem treinar-se para estar
alerta não apenas a sua frente mas a todos os lados e as costas.


3-O treinamento deve ser sempre conduzido em uma atmosfera
agradável e divertida.

4-O instrutor ensina apenas um pequeno aspecto da arte. As suas
aplicações versáteis devem ser descobertas por cada estudante,
através de incessante prática e treinamento.

5- Na prática diária inicie apenas movendo seus corpo e então
avance para um treino mais intensivo. Nunca force nada de modo
antinatural ou não razoável.

Se esta regra for seguida, mesmo pessoas idosas poderão treinar
em uma atmosfera divertida e agradável.

6-O propósito do Aikido é treinar a mente e o corpo, e produzir
pessoas sinceras e sérias . Como todas as técnicas devem ser
transmitidas de pessoa a pessoa, não as revele ao acaso, pois
poderiam serem usadas de modo inadequado. Como estas regras
foram escritas , em 1935 , sua maneira parece arcaica, mas os
seus pontos principais são válidos ainda hoje.

Em resumo, seus pontos chaves são:

1-O Aikido não poderá ser ensinado a não ser para a pessoa que
siga estritamente o ensinamento do instrutor.

2-No Aikido , como arte marcial , a pessoa deve procurar
permanecer alerta para tudo o que se passa ao seu redor, não
deixando nenhuma abertura vulnerável(suki).

3-A prática torna-se alegre e agradável uma vez que se tenha
treinamento o suficiente para não se incomodar com a dor.

4- Não se contente com o que foi ensinado no Dojo. A pessoa deve
constantemente digerir , e desenvolver o que aprendeu.

5- A pessoa não deveria nunca forçar as coisas de modo
antinatural ou razoável. Ela deveria empreender o treinamento de
modo ajustado ao seu corpo , sua condição física e idade.

6-O objetivo do Aikido é a verdadeira natureza humana. Ele não
deve ser usado para exibir o ego.



Perto de Tóquio vivia um grande samurai, já idoso, que agora se dedicava a ensinar o zen aos jovens. Apesar de sua idade, corria a lenda de que ainda era capaz de derrotar qualquer adversário. Certa tarde, um guerreiro conhecido por sua total falta de
escrúpulos apareceu por ali. Era famoso por utilizar a técnica da provocação: esperava que seu adversário fizesse o primeiro movimento e, dotado de uma inteligência privilegiada para reparar os erros cometidos, contra-atacava com velocidade fulminante. O jovem e impaciente guerreiro jamais havia perdido uma luta. Conhecendo a reputação do samurai, estava ali para derrotá-lo, e aumentar sua fama. Todos os estudantes se
manifestaram contra a idéia, mas o velho aceitou o desafio.

Foram todos para a praça da cidade, e o jovem começou a insultar o velho mestre. Chutou algumas pedras em sua direção, cuspiu em seu rosto, gritou todos os insultos conhecidos, ofendendo inclusive seus ancestrais. Durante horas fez tudo para provocá-lo, mas o velho permaneceu impassível. No final da tarde, sentindo-se já exausto e humilhado, o impetuoso guerreiro retirou-se. Desapontados pelo fato do mestre aceitar
tantos insultos e provocações, os alunos perguntaram:

- "Como o senhor pode suportar tanta indignidade ? Por que não
usou sua espada, mesmo sabendo que podia perder a luta, ao invés
de mostrar-se covarde diante de todos nós ?

- "Se alguém chega até você com um presente, e você não o
aceita, a quem pertence o presente ?" - perguntou o samurai.

- "A quem tentou entregá-lo." - respondeu um dos discípulos. -"O
mesmo vale para a inveja, a raiva, e os insultos." - disse o
mestre.

- "Quando não são aceitos, continuam pertencendo a quem os
carregava consigo. A sua paz interior, depende exclusivamente de
você. As pessoas não podem lhe tirar a calma, só se você
permitir..."

Dúvidas e indagações sobre o Aikido hoje.

Stanley Pranin, é o editor do Aikido Journal. Viveu e editou revista de Aikido no Japão durante mais de 10 anos, e tem mais de 40 anos de prática do Aikido. Recentemente ele traduziu pra o portugues e reproduziu em seu site "Aikido Journal", o artigo abaixo...

Ainda ha pessoas e dojos de Aikido no Brasil praticando o Aikido sem eficiencia marcial, de forma lenta, quase um exercicio fisico ou uma dança. Isto está OK para pessoas de idades ou com problemas fisicos, mas não para gente ainda relativamente jovem, e saudável.
Vamos treinar Aikido como um Budo em todo o Brasil, e o Aikido certamente vai ser a grande alternativa marcial do seculo XXI, pois ele no fundo é um resumo de todas as estrategias e filosofias marciais do Japão que seguem o principio do DO>
Fico muito feliz que finalmente este pensamento
foi divulgado agora em massa pela internet nos EUA e para o mundo que fala ingles , pois creio que ele vai começara a iniciar um movimento de resgatar resgatar a ideia original do Aikido que já quase a duas décadas estamos tentando alertar uma grande parte dos praticantes brasileiros, que não haviam percebido esta realidade, POR FALTA DE BOA ORIENTAÇÃO, e o fizemos através de livros, publicações, artigos etc. e sempre recebemos muitas criticas por este nosso comportamento. Quando surgiu Steven Seagal, embora ele mostrasse o lado marcial do Aikido na grande midia, não deixava claro, a conexão espiritual, ética e quase religiosa do Aikido, e isto era insuficiente, pois o Aikido sem seu lado espiritual, é confundir a colher com a refeição. Muitos no inicio criticavam nossa busca constante da eficiencia técnica na prática do Aikido, nos chamando de brutos, outros de fanáticos religiosos por nossa insistencia em focar nas raizes espirituais deste Caminho. Eles não sabiam que haviamos chegado na essencia do Aikido e queriamos que todos passassem como nós a buscar os ideais de Morihei Ueshiba.
Aikido não é dança......é Budo....tem que ser eficiente. Não basta ser bonito...tem que ser marcial...ou não vai "abrir as portas do conhecimento intuitivo superior de Deus".
"O Aikido é uma arte marcial usada como ferramenta para a iluminação espiritual".

Gambatte Kudasai!!!!

Como vocês sabem, nossa preocupação no Aikido Journal é com o Aikidô como um conjunto de técnicas e uma ferramenta para atingir a resolução pacífica de conflitos. Isto significa que nosso ponto de partida é a arte formulada por Morihei Ueshiba, com suas premissas humanísticas inseparáveis. Este é o padrão pelo qual nós medimos o conteúdo da técnica e a moralidade de comportamento. Os objetivos do Aikidô também constituem nossa visão para um mundo futuro no qual interação pacífica na sociedade é atingida através da presença de uma espada habilidosa que permanece embainhada. Força, habilidade e previdência são requeridas para prevenir violência, não meramente um “desejo por paz”.

Eu tenho freqüentemente sido um crítico do conteúdo técnico atual e a prática quase casual do Aikidô vistos em muitas escolas nos dias de hoje. A razão para meu desânimo é o fato que o Aikidô praticado deste modo é uma forma degradada da arte marcial transmitida pelo Fundador. Certamente, todos são livres para praticarem como desejam, mas eu questiono a validade de chamarmos muito do que é visto hoje de “Aikidô” quando isso representa pouco mais do que uma casca vazia da arte real.

Tendo dito isso, eu gostaria de apontar um fenômeno notável. Aikidô, até mesmo nesta forma diluída, tem provado um sucesso fenomenal tanto no Japão quanto no exterior. É uma das maiores artes marciais praticadas no mundo e tem se tornado uma palavra familiar na maioria dos países desenvolvidos. Diferentemente do Judô, Karatê ou Kendô, o Aikidô tem atingido esta distinção apesar do fato de não ter se transformado em um esporte e desta forma, não ter a competição como um meio de gerar interesse. Mas se as técnicas do Aikidô como praticado hoje são fracas e ineficientes em situações de defesa pessoal, se ele não pode contar com a competição (exceto o Tomiki Aikidô) como um chamariz para atrair os jovens, então de onde vem o apelo do Aikidô?

Eu tenho pensado muito sobre esse enigma nesses últimos meses e cheguei a duas razões atrativas. A primeira é simplesmente a beleza excepcional das técnicas do Aikidô. A circularidade do movimento dos dois parceiros que não possui intenção violenta é bonito de se ver. Há um fluxo e graciosidade nas técnicas de Aikidô que não é vista na sua arte precursora, o Daito-ryu aikijujutsu. A outra característica do Aikidô que tem contribuído para sua ampla aceitação é o conceito inovador de uma arte marcial como uma ferramenta para alcançar paz. Isto não é dizer que os caminhos marciais clássicos, ou até mesmo os modernos, não enfatizem o desenvolvimento do indivíduo. Elas seguramente o fazem. Mas o que é especial sobre o Aikidô é que o seu núcleo espiritual é manifestado nos seus movimentos físicos e é integral às suas técnicas. A situação como a vejo é então a seguinte: o Aikidô por ele mesmo e os conceitos que ele incorpora são tão atraentes que ele tem sobrevivido e prosperado até mesmo em uma forma degradada. Se este é o caso, qual poderia ser então o impacto da arte na sociedade se as técnicas e conceitos do Fundador fossem re-introduzidas na arte? Tal Aikidô seria seguramente revolucionário e teria conseqüências de longo alcance!

Ainda assim nós não podemos reafirmar nossa ligação com o Fundador simplesmente declarando que Aikidô é uma “arte marcial espiritual”. Ao invés disso, líderes e instrutores da arte devem exemplificar esta espiritualidade em todos os aspectos de suas vidas, não somente no tatame. Nem podemos obter sucesso em convencer pessoas que Aikidô é uma arte marcial eficiente simplesmente demonstrando movimentos leves, delicados onde o atacante está em óbvio conluio com o seu parceiro. Nós devemos mostrar técnicas convincentes onde todas as aberturas são cobertas, onde nossos movimentos são poderosos, mas controlados e aplicados com compaixão. Somente então nós podemos fazer justiça à forma e significado pretendidos pelo Aikidô.

Nosso desafio como uma revista devotada ao estudo e propagação do Aikidô é então afetuosa e repetidamente articular essa mensagem de esperança. Penso que o desafio a vocês como indivíduos e aikidokas em todo lugar é reavaliar seu envolvimento na arte. Eu sugeriria que vocês começassem por informar-se sobre o Fundador. Há numerosos livros em Inglês (e Português) hoje que cobrem o assunto. O Aikido Journal tem, em sua encarnação mais antiga como Aiki News, publicado literalmente centenas de artigos tratando cada aspecto de sua vida e arte. Além disso, aikidokas sérios deveriam dar uma boa olhada na técnica do Fundador, que tem sido preservada em filme. No ano passado, nós lançamos um conjunto de seis volumes de fitas de vídeo documentando a arte do Fundador de 1935 até sua morte em 1969.

Finalmente, eu pediria que vocês fizessem um esforço especial para revitalizar suas próprias práticas. Se você vai investir seu tempo valioso para aprender uma arte de defesa pessoal e se empenhar numa forma de exercício para melhorar sua saúde, você não deve a si mesmo testar constantemente seus limites? Aikidô tem tal potencial como uma disciplina para crescimento pessoal e o aperfeiçoamento da sociedade que parece uma desonra não praticá-la de acordo com a intenção original do Fundador. Vocês têm em suas mãos o poder de fazer isso. Por favor, dê o seu melhor...e mais um pouco!

Stanley Pranin é o editor principal do Aikido Journal, o qual ele estabeleceu como Aiki News em 1974 em uma tentativa de fornecer informações precisas para praticantes de Aikidô de língua inglesa. Ele iniciou seu treinamento em Aikidô em 1962 em Lomita, Califórnia, e é agora 5º dan. Desde 1977, Pranin vive, treina e trabalha no Japão e publica a revista japonesa Aiki News, além de uma variedade de livros relacionados ao Aikidô. Ele é autor da Enciclopédia Aiki News de Aikidô, editor de Aikido Masters e co-autor do The Aiki News Dojo-Finder e Takemusu Aikido: Background and Basics.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

entrevista Steven Seagal

"Eu sei que o texto é longo, mais é muito proveitoso faça uma reflexão depois de lê-lo"


O-Sensei era conhecido por sempre dizer, "Ai te no chikara awasu", o que isso quer dizer, livremente traduzindo, é que voce tem que treinar de acordo com a habilidade de seu parceiro, e que sempre será a pessoa mais forte e mais adepta que terá que se ajustar com o menos adepto, por razões óbvias.
Por outro lado, se alguém em seu primeiro dia vem e quer perguntar tudo que ele não entende, voce ficará o dia todo e todos os outros dias ensinando a ele o que ele não entende. O que, se eles prestando atenção, ficando quietos, ouvindo e olhando e fazendo; se eles entendem por si mesmos, será muito mais gratificante para eles porque passarão a entendê-lo em um nível diferente. Aqui novamente há uma linha fina entre o quanto eles devem entender e o quanto voce pode ajudá-los, ou o quanto voce deveria ajudá-los com isso. E meu sentimento nisso é que um livro básico como esse em cada dojo seria maravilhoso no sentido de que, se eles lerem isso, eles terão um conhecimento básico da maioria do que se passa num dojo de Aikido e, ao mesmo tempo, eu acho que uma pequena descrição de algumas coisas que estou falando agora, em termos da atitude que deveriam ter quando entram em um dojo, ajudaria muito.

É isso mesmo, essa forma de Shugyo já está entre nós há mais de dois mil anos, pelo menos. E não está por aí por acidente. E o que Shugyo realmente significa não é dar tudo mastigado. É sobre tentar afinar-se em sua percepção em ser capaz de realmente entender e aprender observando, quieto, ouvindo e fazendo. Depende de quem está arremessando quem, não?
Vou te dizer exatamente o que eu diria. Eu diria duas coisas. Primeiro, depende de quem está arremessando quem. E eu diria em segundo lugar, que se agora estivesse atirando Matsuoka (Instrutor Chefe do Tenshin Dojo), seria real. E eu diria agora que, se estivesse atirando Larry, seria real. E diria, por outro lado, que se eu estivesse atirando um principiante de faixa branca, em quase todo o tempo é real, e vou te dizer por que. Mesmo porque eles são principiantes mesmo, e mesmo que não possamos chegar a coisa ideal juntos, ainda estamos... Eu estou tentando achar o nível de confiança deles, entrar nesse nível trabalhar seriamente nesse nível. Quer dizer, eu não vou arremessá-los ou dar algumas chaves ou imobilizações, ao ponto onde eu realmente iria machucá-los, a não ser que eles entendam isso e queiram sentir mais força. Estive em aulas com principiantes no Aikido que eram avançados em outras artes e queria me testar e diziam "Bem, isso realmente não funciona..." e "Eu vou fazer isso", e tive pessoas que tiveram seus ombros completamente deslocados. Eu tinha imobilizado-o e ao tentar se soltar com o corpo, ele simplesmente deslocou seu braço.

Bem, para ser perfeitamente brutal, não gostei do modo que voce colocou isso. Somente no sentido de que... Quero dizer, é a verdade, mas vai dar uma idéia errada para as pessoas. Quer dizer, aqui é real. Todas as vezes em que voce está praticando realmente o Aikido nos tatamis comigo, não importa na hora com quem estou. A diferença é quando voce é capaz de praticá-lo num nível suficientemente elevado, voce não entra em algo que é mais, como posso dizer... sem barreiras. Em outras palavras, voce não se segura para não aplicar coisas que são mais perigosas. É verdadeiro no sentido de que não importa o quanto voce é principiante nos tatamis, se voce fizer a coisa de maneira errada, voce se machucará. Se um principiante vem até mim e diz, "aposto que consigo te acertar no rosto" e me atinge no rosto, há uma chance que essa pessoa acabe de cabeça para baixo e não saiba como cair. Há uma outra chance que ele cairá suavemente em suas costas sem se machucar.
Eles são reais... níveis diferentes de realidade, exatamente, voce vê a diferença? A frase chave é "Tudo está em seu nível de habilidade". O-Sensei era conhecido por sempre dizer, "Ai te no chikara awasu", o que isso quer dizer, livremente traduzindo, é que voce tem que treinar de acordo com a habilidade de seu parceiro, e que sempre será a pessoa mais forte e mais adepta que terá que se ajustar com o menos adepto, por razões óbvias. Se eu tentar agir do modo mais duro que eu puder com voce, Joe, voce provavelmente irá morrer, entende o que eu quero dizer?

Não acho que alguém deveria pensar que só porque estou praticando com um aluno de 14 anos, não estou fazendo o Aikido verdadeiro ou que esse aluno não está fazendo o Aikido verdadeiro. Porque é o Aikido real! Eles estão fazendo da melhor maneira que podem. Quando falamos de níveis técnicos, é uma estória diferente, mas a mesma coisa contém a verdade. Quando alguém está tentando te esmurrar da melhor maneira que podem, e tentando da melhor maneira possível aplicar a técnica corretamente, eu também estou tentando duramente também para fazer o Aikido com eles, não importa a que nível estão. A dura realidade é, (e é tão dura quanto é maravilhosa) essa... no Japão, como voces bem sabem agora, pelos primeiros dois anos em que eu tive meu dojo, esquecendo dos problemas que tive com a Máfia, Yakuza, ou qualquer outra coisa, porque eu era o único caucasiano (de feições euro/americanas), que havia ensinado no Japão, eu tinha pessoas todos os dias tentando o que os Ocidentais chamam de apunhalar pelas costas, me atacar quando estava vulnerável. Francamente, se eu não fosse branco, há uma tradição entre praticantes de Artes Marciais sérios, quer dizer, se voce não imprime uma situação real uma atmosfera real em seu dojo, onde as pessoas são capazes de atacar seriamente com força, e eles atacam com força, aí sua performance se trona, em minha opinião, ineficiente. Como por exemplo, quando alguém num dojo de Aikido diz OK... e param aqui (apontando para ponta de seu nariz). Eles vão te esmurrar no rosto e param antes de atingi-lo. Quando voce me atacar é melhor que voce venha realmente para me acertar, para me agarrar de verdade, me chutar de verdade, ou vou ficar muito chateado, porque senão voce estará arruinando o Aikido, arruinando o treinamento, a aí sim, não será real, há uma aproximação diferente da realidade porque voce está brincando. Espero que tudo isso esteja fazendo sentido, voce me entende?

A única coisa que posso dizer aqui é que tradicionalmente em outros dojos, voce encontrará muitos instrutores diferentes, tentando várias coisas e maneiras diferentes. Leva tempo para p principiante, para não se machucar, ser capaz de incorporar e ir com tudo no Aikido.

Isso não quer dizer que antes de ele conseguir ir para cima com tudo, que ele não está indo seriamente, que não está tentando o mais duro que pode, ou que o que está fazendo é, de alguma forma, inválido. Em outras palavras, alguém pode ser capaz de me chutar e me socar "tão rápido como qualquer pessoa, mas ele pode não saber cair depois. Então, por isso, temos que alterar os treinamentos. O que acontece, é que temos que nos ajustar à força, ao nível e aos diferentes aspectos do nível de habilidade do aluno. Voltamos ao "Ai te no chikara awasu".

Talvez ele seja uma grande Shodan de Karate e um grande lutador, mas talvez ele não saiba cair. Então, eu não serei capaz de arremessá-lo, ou vou machucá-lo. Isso também não quer dizer que ele não será capaz de me atacar seriamente. A única cisa que um aluno como esse não deve fazer é, "não chegar de surpresa em alguém e atacá-lo com toda força ou atacá-lo por trás, porque aí voce não saberá quem está atrás de voce, e voce irá arremessá-lo, voce sabe o que quero dizer, quero dizer que existem situações onde eles tem que ser cuidadosos.

Bem, eu sinto que basicamente, e gostaria que voce me citasse sobre esse aspecto, o que vem acontecendo muito tradicionalmente é que algumas pessoas, alguns muito famosos, estiveram em outros países a trabalho. E talvez estudaram de seis meses a dois anos de uma arte marcial, até que terminaram seu serviço. O fato é que não forma dois anos, porque todo seu trabalho durou dois anos. Então, na realidade, eles só tem em média uns seis meses de treinamento em artes marciais. Eles retornam a América e talvez tenham recebido um Shodan em Okinawa, automaticamente eles pensam que são professores. Uma das razões pelas quais os Japoneses nunca quiseram me levar a sério é porque não queriam, e uma das razões porque sentiam ser seu dever me fazerem desistir como Uchideshi, ou me botar para fora do dojo, ou simplesmente não me ensinarem, foi porque tradicionalmente essa é a maneira que os Americanos e outros estrangeiros tem se comportado.

O que estou tentando dizer é que quando voce está na rua, a realidade é que voce tem que estar preparado para o pior, esperando o melhor.
Eles chegam, eles aprendem uma arte marcial por seis meses ou um ano, aí (estalando os dedos) eles são professores, achando que sabem tudo quando ainda nem arranharam ponta do iceberg. Daí voltam à América e começam a ensinar. O que estou tentando dizer é que as artes marciais, de uma maneira geral, nasceram erroneamente na América. O Aikido de uma maneira geral, nasceu errado no sentido de que alguns dos professores, talvez muitos dos professores, não aprenderam o básico antes de começar a ensinar.

Quando vou de dojo em dojo, por exemplo; vejo pessoas se atacando e vejo o Uke caindo antes mesmo de ser arremessado, caindo antes de tocá-lo. Como poderia isso Ter alguma coisa a ver com o Aikido? O-Sensei sempre dizia, "Aikido wa budo de aru". E o que eu sentia que isso realmente queria dizer é que, "Essa é uma arte marcial e se não a fizer com que ela funcione, faça aeróbica, dança, ou compre uma arma. Mas não a chame de Arte Marcial". Aikido é uma Arte Marcial, Ok? Acredito que existam vários dojos de Aikido na América que denigrem o nome do Aikido e muitos dos meus diferentes amigos que respeito e são Mestres em Karate e Kung Fu, etc... Até alguns de meus alunos se tornaram meus alunos por acidente, porque eles tinham visto o Aikido e pensaram que era uma brincadeira. Viram as pessoas caindo para todos os lados. Acho que até voces dois podem testemunhar que tentaram realmente me acertar e acabaram no chão e voces sabem que é uma coisa verdadeira, porque machuca e porque é eficiente. Basicamente, o que sinto é que voce tem essas pessoas praticando dessa maneira em muitos lugares porque eles nunca aprenderam isso antes, em primeiro lugar.

O-Sensei dizia que o básico nunca deveria mudar. Então quando voce não sabe o seu básico, e tenta ir inventando conforme quer, começa a parecer algo que.... não vai parecer nunca com o Aikido. O-Sensei sempre falava sobre shinken shobu, lutar até a morte, ou pelo menos lutar com esse sentimento. Então, se alguém vive, ótimo, e se alguém morre, é mal, de qualquer modo. É a seriedade da vida ou morte que falta nas maioria das pessoas, e eles acabam atuando uma peça teatral. Aikido não é teatral. Voce sabe, eu sempre ouvi estórias do O-Sensei. As pessoas tentavam matá-lo constantemente. Muitas vezes ele encarou a morte. Muitas vezes tentaram assassiná-lo. Não tentaram esmurrá-lo, não tentaram jogar barro em seu rosto, eles tentaram matá-lo. Voce sabe que há uma diferença. E é por isso que o Aikido do O-Sensei era eficiente e dava certo.

Veja bem, voce está falando sobre um dos assuntos mais difíceis de se falar no mundo agora, no Aikido, e o Aikido é baseado no Amor, é baseado na Harmonia, é baseado em Unidade, e sim, ele é baseado em não ter um inimigo. Mesmo se alguém vem e tenta cortar minha garganta agora, em minha opinião ele não é necessariamente meu inimigo, porque tenho o que chamamos de mushin. Quando alguém me ataca, não penso: Vou pegá-lo, vou fazer isso ou aquilo. É um estado de espírito, tendo um coração sem emoção, uma mente sem emoção, e a única coisa que posso fazer é terminar a situação no máximo de minhas habilidades.

Então, a maioria dessas coisas são uma filosofia do modo de como devemos viver nossas vidas. Tente viver sua vida em harmonia, bondade e unidade, e também uma parte importante é não deixar suas emoções interferirem em sua ação, porque se voce permite suas emoções afetarem em suas ações, voce provavelmente irá perder. Muitas dessas ações são técnicas, pegadas. Técnicas para ensiná-lo a ter uma atitude superior na hora de um conflito ou ataque ou uma guerra, ou seja o que for. Voce consegue me entender?

Não estou dizendo que o O-Sensei era um pessoa violenta. Além disso, violento é uma palavra limitada e em Francês, Alemão, Espanhol e em diversas línguas eles tem uma palavra que dá o sentido de pesado, movimentação rápida, como no Japonês dizemos "Hageshi!". Violento, às vezes, tem uma conotação negativa, em Inglês é tachado como alguma coisa ruim. Como quando voce olha para o meu Aikido, voce pode chamá-lo de violento. Mas ninguém está necessariamente se machucando.

Os benefícios que se colhe com as Artes Marciais não tem nada a ver com a côr da faixa, tem a ver com o desenvolver do despertar do espírito, o desenvolver a calma e força mental e emocional e o desenvolver da saúde física e coisas desse tipo.
Bem, minha resposta a isso é simples mente isso... se voce olha para o mundo hoje, voce entenderá que ele não é um lugar muito justo. As pessoas vão te enganar da pior maneira que puderem, eles vão atirar em voce pelas costas. Farão o que for preciso para isso. O mundo é cheio do que chamo de Mutações, pessoas más, doentes, que fariam qualquer coisa para conseguir o que querem. Mas também está cheio de pessoas boas, mas Deus só sabe quando voce vai encontrar com uma pessoa boa e quando voce vai encontrar uma pessoa má. O que estou tentando dizer é que quando voce está na rua, a realidade é que voce tem que estar preparado para o pior, esperando o melhor. E se voce pensa que pode ir para as ruas e alguém vem te bater por trás com um cassetete na cabeça ou cortar sua garganta, se voce pensa que uma visão filosófica da paz e do amor vão te ajudar, então é melhor que voce acorde logo, porque não vai acontecer. Minha resposta também é: que o mundo pode ser um lugar sem escrúpulos, sujo e violento e se voce não consegue se trazer ao nível de estar pronto para isso na capacidade que voce consiga estar pronto, então voce está vivendo numa mundo de sonhos. Vire um escritor e fique em sua casa lendo ficção o dia todo.

O que eu sempre digo é que é muito fácil para alguém fazer isso (bloqueando sua cabeça com seus braços, "defendendo-se"). Por que em toda sua vida, quando de repente eles acham um taco de beisebol vindo em direção a sua cabeça, a primeira coisa que eles fazem é levantar as mãos para bloqueá-lo. É um reflexo. É um reflexo animal e muito fácil. Esse é o tipo de coisa que basicamente estão começando a aprender no Karate, que é uma arte fabulosa e que amo muito. Com Aikido, voce tem que desaprender primeiro. É por isso que é tão difícil. Voce está aprendendo algo que é muito, muito sofisticado. É algo a que os Guerreiros, após centenas e centenas de anos de dedicação, e em situações de vida e morte, finalmente conseguiram compreender que há um ponto de menor resistência e que há algo que trabalha além da força... força física. É o Ki, sua atitude e seus movimentos precisos que parecem ir além da força, e que em muitas vezes usar a força é secundário para se aprender um caminho.

Um tipo de movimento sem resistência, um movimento não resistente, um movimento relaxado. Então voce tem que desaprender para poder aprender. Isso leva tempo. No entanto, digo em defesa do quanto é duro de aprender, que o processo pelo qual voce aprende requer tanto esforço e é tão diferente o esforço requerido, física e mentalmente, ao ponto de ser excepcionalmente recompensador e os benefícios colhidos com ele, física e mentalmente, são muito diferentes do que as outras artes mais diretas.

Voce sabe do estímulo que ele dá ao seu cérebro, o estímulo que dá ao seu espírito, seus níveis emocionais e estado físico. São todos diferentes e, em minha opinião, mais recompensadoras e melhores. Eu poderia especificar aqui se voce quisesse, mas essa é a idéia básica. Quero dizer, mesmo quando se faz rolamentos sozinho. No Karate e em muitas outras Artes Marciais, voce não faz rolamentos. O rolamento em si, tem um efeito de estimulação profundo nos órgãos. Os pulmões, os rins, o coração, e com essa estimulação profunda ele regenera os órgãos e deixa m as pessoas mais saudáveis. Só isso por si só, é uma das pequenas coisas que o Aikido faz.

Geralmente tenho a atitude quase de desrespeito ou desdém, com o tipo de pessoas que estão envolvidas nas Artes Marciais somente para conseguir uma faixa preta. Eles que vão a uma loja e comprem uma. Os benefícios que se colhe com as Artes Marciais não tem nada a ver com a côr da faixa, tem a ver com o desenvolver do despertar do espírito, o desenvolver a calma e força mental e emocional e o desenvolver da saúde física e coisas desse tipo. Acho que isso é algo que voce deveria me mencionar dizendo às pessoas, que se eles querem comprar uma Faixa Preta, que vão a uma loja e comprem um. Existem várias lojas vendendo em todas as cidades.

Vejam as iscas jogadas, para todas as intenções e propósitos, é a maneira que é feito lá fora por pessoas que querem dinheiro, e seu propósito para ensinar Artes Marciais é somente o dinheiro.

Meu conselho é ter cuidado com pessoas que dizem que vão te dar um ranking depois de certo tempo. Voce tem que ter cuidado com os charlatões nas Artes Marciais. Um dos sinais indicadores dos charlatões, e eu acho que isso deveria também estar no livro, é alguém que diz "Sim, vamos te dar tal nível em tanto tempo", que para mim é uma prova automática de alguém ser falso, porque o nível tem que ser algo muito pessoal. Algumas pessoas aprenderão certas coisas em seis meses, e outras pessoas demorarão seis anos. Não há modo disso ser senão de acordo com o nível pessoal. Eles tem que ser educados, e esse livro é sobre isso.

Uma vez que uma pessoa tem o título de Sensei, ele nunca será tirado por ninguém. Deixe me explicar melhor. Número um, status político, o pesadelo do status político do Aikido na América não tem nada a ver com o protocolo como ele é. O protocolo no Japão diz, quando alguém é um Sensei, o protocolo adequado para se referir a ele é Sensei, seja nos tatamis ou fora deles, ele sempre será o Sensei. Entretanto, o protocolo também diz que se voce não respeita a pessoa como um Sensei, nunca chame-o de Sensei, nem uma vez nem nunca. Chame-o de Senhor. Outra coisa que o protocolo diz é que quando eu tenho um nível maior que o seu e gosto de voce, eu osso chamá-lo de Reynosa mesmo. Isso é o que o protocolo diz.

Então, se voce não respeita tal e tal, não chame-o de Sensei, mas se ele é o que eu considero um verdadeiro Sensei, e ele tem nível superior ao seu, voce o chamaria sempre de Sensei. Ë como o Sensei Abe, quando estou no telefone com ele eu o chamo de Sensei. Ele é sempre Sensei para mim. Meus alunos mais próximos sempre me chamarão de Sensei, porque é meu título e porque eles me respeitam como Sensei. Basicamente, o protocolo é que quando voce é um Sensei de Aikido e voce é verdadeiro e as pessoas aprendem com voce, as pessoas que são seus alunos sempre o chamarão de Sensei, e francamente falando, o protocolo diz que mesmo outras pessoas deverão chamá-lo de Sensei. Em outras palavras, alguém como um professor de arte que conheço no Japão e a maioria de meus amigos e sócios no Japão e meus sócios comerciais, me chamariam de Sensei porque é meu título.

É um pouco parecido como por exemplo, se alguém é um médico. Muitas vezes, geralmente por respeitá-lo, voce não vai a um consultório e diz, "Oi, Frank", voce diz, "Oi, Doutor", porque ele é um médico e esse é seu título.

Isso acontece porque eles não conhecem o protocolo. Eles dizem, "Bem, acho que vou dispensar essa parte do protocolo, e essa parte e essa parte também...". Logo, as pessoas que não conhecem muito sobre o protocolo, ou de sua essência principalmente, haverão tirado tantas partes que não sobrará mais nada dele. Quando voce começa a diminuir e retirar do protocolo, voce começa a retirar da história, voce estará tirando dos ossos, a essência. E essas pessoas não sabem a diferença entre o que é e essência de uma coisa e o que é o protocolo e o que são ambos ao mesmo tempo.

É isso mesmo. Quando voce chega a um ponto onde voce começa a entender o básico, daí voce pode vir e analisar e começar a fazer perguntas e tentar juntar tudo para entender em um nível mais alto.

Mas, no início, se voce começa a perguntar onde, porque e o que para tudo, em primeiro lugar voce não vai entender no nível profundo o suficiente para aprender... voce ainda não tem a compreensão suficiente para perguntar.

O que voce não deveria fazer. Voce perde tudo. Voce perde a essência do que está acontecendo. Não deveria haver nenhum compromisso, tem que existir uma forma de adaptação inevitável. Mas mesmo assim voce tem que ter cuidado. A única adaptação que voce faz é de coisas que voce tem que adaptar para o melhoramento da arte, mão para seu prejuízo. Há uma velha piada no Japão, eles perguntam: "O que é um Americano?", e a resposta é "Porque voce quer saber?!". Alunos sempre querem me perguntar "porque". Eu já disse isso muitas vezes, quando me perguntaram certas coisas. Eu digo, "Eu gostaria de responder essa pergunta daqui uns seis meses ou um ano talvez". Não tem nada a ver com "meu jeito" ou "nosso jeito".

Desenvolver consciência espiritual, o aperfeiçoamento do homem físico, o desenvolvimento e crescimento do estado emocional, mental e psicológico de um homem, o crescimento e desenvolvimento e ajuda ao estado físico do homem, o estado médico de um homem, muitas pessoas se curaram através disso, então isso ajuda a se tornar uma pessoa sadia fisicamente. Ajuda a nos tornarmos saudáveis e equilibrados mentalmente, psicologicamente, emocionalmente e nos ajuda a desenvolver e a tronar perfeita nossa consciência espiritual.

Isso irá te ensinar a não lutar. Vai te ensinar a se defender. Mas se voce quer aprender como machucar as pessoas e ser ofensivo, eu acho que seja qual for o tipo de seu professor, voce ou acabará mudando sua atitude ou sairá do dojo. Uma outra coisa que é muito difícil de se falar, em minha opinião, é que o O-Sensei fundou o Aikido, ele inventou o Aikido. Se eu inventasse uma torneira e a quisesse chamar de torneira, ele será chamada de torneira. Harold Schmedlap não poderá tirá-la de mim se eu tiver patenteado e se todos souberem que eu a inventei. Ele não poderá roubá-la de mim e chamá-la de Schmedlap, porque não será justo e não estará certo, e não será verdadeiro. Algumas pessoas perverteram a arte do Aikido, mudaram-na e mesmo assim usam o mesmo nome. Alguns fizeram isso num grau extraordinário. Essas são coisas políticas difíceis que são duras de se comentar, mas são verdade. O ponto é, no Aikido do O-Sensei, e voce pode me citar dizendo isso... "Na opinião de Steven Seagal..." não existem estilos de Aikido. Há somente um Aikido, e é o Aikido do O-Sensei, porque ele o inventou. E as outras pessoas que aprenderam um pouco com ele, saíram e formaram sua própria arte, fazendo algo que pode se assemelhar com o Aikido de uma maneira ou de outra, mas não é Aikido. Ë outra coisa. É uma versão diferente dele, que em muitos aspectos, eu descreveria como uma pobre bastardização. Se voce quiser atacar o assunto... O que as pessoas estão chamando de jumbi taiso é originalmente chamado de gyo, que significa um tipo de treinamento austero, religioso.

Gyu, shugyo no gyu e ama no tori fune, tem a ver com estilos religiosos antigos de Rituais Shintoístas de Purificação. O-Sensei, voce tem que admitir, era um homem Místico e muito religioso. Ele sentiu que o Kotodama, que é o estudo dos sons sagrados e palavras sagradas, era o segredo mais profundo do Aikido. Ele sentiu que ao praticarmos o gyo, antes de fazermos o Aikido, ele seria uma arte sagrada, que deveria ser por causa de sua natureza, sem socos, bloqueios, chutes, em conformidade com Deus e o Universo. Ama no tori fune, quer dizer literalmente: Ama quer dizer céu; no tori, quer dizer um barco como um pássaro, um barco flutuante, como se voce tivesse remando pelos diferentes reinos espirituais no céu.

Nem sei se voce pode colocar todas essas coisa no livro. O exercício do ama no tori fune, foi descrito por Onisaburo Deguchi e alguns dos grandes Místicos Shintoístas antigos. É um dos rituais de purificação mais antigo e purista, já conhecido pelo homem. Esse movimento somente (batendo palmas em frente ao seu hara, fazendo uma leve movimentação para cima e para baixo). Então, o que ele fez juntamente com as almas e os sons, era para se Ter um som de "ta...ta ka ama hara no to". É um som sagrado que tem a ver com o Céu. Aqui novamente, "e sa, sa e" e puxando na energia, estendendo a energia, passando por essas cerimônias religiosas e essa foto do O-Sensei, voce deve curvar-se uma vez para Deus e uma vez para O-Sensei, e não deve se bater nenhuma palma. Esse é o verdadeiro protocolo. Porque as palmas são para os Deuses ou para um ancestral ou para alguém que está morto.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

A HARMONIA DO AIKIDO E A MENTE ,Gozo Shioda

O axioma fundamental do Aikido é que o frágil é capaz de dominar o forte através do estudo e treino das técnicas. Entretanto, Aikido é muito mais que simples habilidades físicas. Para coordenar-se com os movimentos e força do oponente é necessário que a mente esteja sã, bem como o corpo flexível.
Em outras palavras, a mente deve ser aberta e flexível em seqüência, para ser capaz de estar em vantagem sobre os movimentos do oponente. Indo mais adiante, o aikidoka precisa entender que deve entender seu oponente e unir-se (compartilhar) a seus sentimentos; logo o objetivo final é não gerar confronto, mas sim cultivar um sentimento de harmonia.
Portanto a competição, cada conduta de arrogância ou derrota é evitada na prática do Aikido. As técnicas são assimiladas durante os katas, com a cooperação do parceiro de treino. Cada movimento é repetido até que ser torne totalmente assimilado, tornando-se uma ação automática.
O Aikido não está somente preocupado com o relacionamento entre as pessoas, essa é uma forma de treino na qual o aikidoka aprende a harmonizar-se com a natureza através da prática de técnicas naturais. Todo movimento que é ineficaz, deselegante, complicado ou forçado não pode ser Aikido.

MÉTODO DE PRÁTICA

Aikido é praticado normalmente através de katas, isto não significa que o movimento esteja “morto”, pelo contrário, cada movimento deve ser efetivo. A essência da prática do Aikido é que os parceiros devem aperfeiçoar seus movimentos e tentar obter um treino com marcialidade através da aplicação das técnicas corretas.
Quando realizada corretamente, a técnica de Aikido não requer nenhum esforço desnecessário. Além disso, nenhuma técnica de Aikido exige força física exagerada; podendo-se dizer que quando se executa a técnica com uma grande quantidade de força, esta foi mal executada. Portanto, já que o Aikido pode ser praticado vigorosamente ou gentilmente, este pode ser praticado por pessoas de todas as idades e ambos os sexos. Além disso, a prática também promove bom condicionamento físico, sendo um método de defesa pessoal e de trabalho da mente.

O MOVIMENTO CIRCULAR

O segredo de ser capaz de ter vantagem sobre a força física do oponente será no princípio de marui (movimento circular). Quase nenhum movimento no Aikido é simplesmente reto: movimento dos pés, tronco e braços descrevem todos um arco. E ainda mais, são tridimensionais, movendo-se como uma esfera ou em espiral. O movimento circular permite que o aikidoka uma seu peso e força aos ataques (empurrões, puxões) do oponente sem choques.
A mudança de direção ilustra a eficácia do movimento circular. Se o movimento inicial do corpo é em linha reta, é necessário pará-lo para mudar a direção; mas se o movimento inicial é circular, não será preciso interromper o fluxo do movimento. É preciso prestar muita atenção e estudá-lo cuidadosamente, no que é provavelmente o mais importante movimento básico do Aikido.



Movimento esférico
Os movimentos circulares não estão confinados a somente um plano; ele pode ir da frente para trás, da direita para a esquerda e de cima para baixo. Um bom aikidoka deve ser capaz de aplicá-los em qualquer direção ao longo da superfície da esfera se quiser ser capaz de anular um ataque vindo de qualquer direção.

Força Centrípeta e Centrífuga
O movimento circular (ou esférico) apresenta as forças centrípeta e centrífuga. A centrípeta é a força que suga (puxa) as coisas para dentro do furacão ou redemoinho; a centrífuga é a força que arremessa as coisas para fora. Ao analisarmos a técnica do Aikido, percebemos a presença de ambas as forças, na maioria dos casos onde o equilíbrio do oponente foi completamente quebrado, através de movimentos circulares, anteriores ao ataque direto. Exemplificando: suponha que o oponente ataque diretamente pela frente, ao invés de chocar-se com o ataque pode-se mover para fora da linha do ataque sem opor-se ao movimento aplicando uma leve pressão em espiral; assim com um pequeno esforço será possível mudar a direção do ataque, desequilibrando o oponente e tirando-lhe a força. É como compara a força de um tornado com o vento soprando em uma única direção.

ELEMENTOS ESSENCIAIS AO MOVIMENTO

Velocidade
No Aikido, como em outras práticas marciais, velocidade é um elemento vital. Basicamente existem duas utilidades para a velocidade: primeiro, é poder acompanhar o movimento do oponente; em segundo, para ser capaz de esquivar-se (evitar) um ataque inicial.
Como exemplo do primeiro: seria impossível pular para dentro de um trem em movimento a 80 km/h, mas se você estiver em um veículo viajando na mesma direção e velocidade do trem, essa tarefa será simples. Já para o segundo: imagine um objeto muito pesado (pode ser um cofre, bigorna ou piano, como nos desenhos animados) caindo diretamente sobre sua cabeça; se você não se mover rapidamente, certamente será esmagado.
No Aikido deve-se haver um esforço constante, através do treino, para se obter uma velocidade excepcional.

Timing
Timing significa sincronização de seu movimento com o movimento de seu oponente ou parceiro – essa é a essência do Aikido – é a combinação de velocidade e concentração de energia.

Concentração de Força (poder / energia)
SUCHU-RYOKU é a concentração de toda força num dado instante em um determinado ponto. Por exemplo, se alguém segura seu punho toda sua energia deve ser conduzida para esse ponto. Contrariamente, se seu atemi for dado com a mão direita, mas parte de sua energia está em sua mão esquerda, o golpe perderá muito de sua eficácia.
Mesmo que uma concentração total de energia não seja possível, através de treino regular um nível de concentração extraordinário pode ser alcançado. Até pessoas sem nenhum treino são capazes dessa façanha em situações de emergência, como por exemplo num incêndio, sendo capazes de mover objetos que normalmente seriam muito pesados para elas; este é um exemplo de concentração inconsciente de força e energia.
Mas com o treino é possível desenvolver a habilidade de concentração de força e energia conscientemente.

Movendo o Centro de Gravidade
Pela mudança de peso e ajuste na distribuição em cada pé, a força de qualquer técnica pode ser até duplicada. De fato, o grau de efetividade da técnica depende da quantidade de peso que é devidamente utilizada. Não se deve esquecer da transferência do centro de gravidade nos movimentos básicos do Aikido e os praticantes devem manter isso em mente constantemente durante os treinos.

Extraído do livro: Dinamic Aikido, Gozo Shioda

SEN, SENSEI, GO, a história dos ideogramas

Sen: Iniciativa

Por Kazuaki Tanahashi

Nascido no Japão, Tanahashi Sensei estudou Aikido com O-Sensei em Iwama, onde escrevia certificados de graduação. Ele agora ensina caligrafia na Escola de Artes Japonesas da Califórnia e no Monastério Zen Mountain em New York. Seus incluem Essential Zen, Brush Mind e Moon in a Dewdrop: Writings of a Zen Master Dogen. Ele também é um dos tradutores do livro Aikido do Doshu Kishomaru Ueshiba. Seu último livro Enlightenment Unfolds (tradução de Zen Máster Dogen) foi recentemente relançado por Shambhala Publications.


A maioria dos leitores sabe que a palavra japonesa sensei significa “professor” ou “mestre”. Sen significa “primeiro” ou “inicial” e sei significa “a nascer”. Desta forma, sensei originalmente significa “alguém que nasceu primeiro ou que é mais antigo”. Como a antiguidade é extremamente importante na Ásia oriental, a palavra “sensei” carrega um grande valor em peso. Porém outro importante valor reside na humildade. Assim, utilizando o termo “sensei” de outra forma, o professor pode dizer: “Sim, eu sou um sensei pois vivi antes de fazer qualquer coisa mais”. Aqui, “sen”, significa “antes” e “sei” significa “fazer viver”.
O termo “sem” (também pronunciado saki ou mazu em japonês) deriva-se da palavra chinesa “xian”, cujo antigo pictograma consiste em uma impressão da planta do pé no topo da cabeça. O significado do pictograma é “estar em frente da cabeça” ou “estar na frente do que qualquer outro”. Na cerimônia do chá alguém pode dizer “Osakini”, significando “Por favor vá primeiro” ou “Desculpe-me por ter iniciado”, dependendo da situação.
O antônimo de “sen” é “go” (o qual pode ser pronunciado como nochi, ato, ou okureru). “Go” significa “mais tarde”, “por trás” ou “atrasado”.
No Aikido, “Sen” e “Go” podem ser interpretados como iniciativa e resposta. “Sen no Sen” significa “ter iniciativa em tomar iniciativa” enquanto “Go no Sen” significa “ter iniciativa em responder a outra iniciativa”. “Sen no Go” pode significar “ter iniciativa mas manter-se escondido” e “Go no Go” significa “manter-se escondido em resposta”.
A iniciativa está intimamente relacionada ao seu preparo.
Embora O-Sensei ensinasse um Aikido pacífico após a 2ª Guerra Mundial, ele mantinha-se em alerta como um guerreiro através de toda a sua vida. Quando eu estudei com ele no dojo, eu frequentemente tentava verificar se ele mostrava alguma abertura ou perda de atenção que pudesse permitir que eu o atacasse e o derrotasse. Era o mesmo que seus alunos tinham feito há 50 anos. Porém O-Sensei estava sempre atento ao que acontecia ao seu redor e permanecia física e psicologicamente à frente de qualquer um de seus alunos que pudessem tentar atacá-lo. Desta forma, ele sempre tinha a iniciativa.
Pensando sobre O-Sensei recordo-me de um texto de Sunzi, o grande estrategista do 6º Século A.C.: “Não espere que os outros não façam ameaças a você. Confie em sua própria prontidão em responder. Não espere que os outros não ataquem você. Torne o ataque impossível!”