terça-feira, 24 de novembro de 2009

KARATE SENTE NACHI

NÃO EXISTE O PRIMEIRO ATAQUE NO KARATE

-Acredito que se substituirmos a palavra Aikido por Karate neste texto, muitos aikidoistas se conscientizarão do porque é preciso praticar um aikido vigoroso e eficiente como defesa pessoal para que ele possa construir um espirito forte. Procuramos treinar e recomendar o treinamento marcial buscando a marcialidade, mas como ferramenta de iluminação espiritual. A propósito....todo verdadeiro Budo (Caminho Marcial Japones) é assim desde que corretamente praticado.


Presidente John Adams em "Não existe um primeiro ataque “
por Jeff Brooks -Fonte Aikido journal.
Tradução - Jaqueline Sá Freire (Instituto Takemussu - Hikari Dojo – Rio de Janeiro)


No livro "John Adams" de David McCullough, uma biografia do segundo presidente dos Estados Unidos, podemos observer a vida de Adams enquanto ele percorre muitos caminhos, como advogado, fazendeiro, professor, revolucionário, orador, membro do primeiro Congresso Continental e, eventualmente, presidente. John Adams viveu em um mundo em que a Guerra e a ameaça de Guerra eram fatos normais da vida. A forma como ele lidou com este conflito marcial há 200 anos atrás tem lições relevantes para nós, como artistas marciais do século 21.
No livro, McCullough escreve:
Uma manhã, observando suas netas, Susanna e Abigail, assoprando bolhas de sabão com um de seus cachimbos de argila, Adams percebeu a “lição alegórica” da cena. Adams escreveu: "elas enchem o ar da sala com suas bolhas, seus balões de ar, que rolam e brilham refletindo a luz da lareira e das velas, e que são muito bonitas. Elas não poderiam ser um símbolo mais perfeito dos cenários político e teológico da vida humana. Só a moralidade é eterna! Todo o resto são balões e bolhas, do berço ao túmulo”.
Adams, que tinha sido um derrubador de poderes e então era um homem velho, refletiu sobre a impermanência dos fenômenos da vida. Quando praticamos artes marciais, mesmo ao nos prepararmos para o conflito, nos preparamos para encarar as necessidades da vida, não devemos esperar até a idade madura para refletirmos sobre o que é que realmente durará. Devemos indagar o que realmente vai afetar a qualidade de nossas vidas e das pessoas que tocamos. Posso dizer que pelo meu ponto de vista e pelo ponto de vista de John Adams, o importante não é a acumulação de poder em si, nossas graduações, títulos, troféus ou conhecimento. O que importa é a qualidade da energia, a determinação, o cuidado e gentileza, o foco, a auto-maestria, auto disciplina e a decência que incorporamos e passamos adiante para as pessoas a quem ensinamos e com as quais praticamos. Se nossa influência sobre esses assuntos for boa, ela permanecerá quando nós e as pessoas que conhecemos não existirmos mais, talvez po r gerações.
Para John Adams isso não era uma questão de filosofia abstrata. Ele se preocupava seriamente com a auto-defesa durante seu tempo na presidência. O princípio político que ele seguia a nível nacional me lembrou do principio do "karate ni sente nashi" (Não existe primeiro ataque no karate), o que seguimos no karate-do.
Durante seu tempo na presidência, a posição de John Adams sobre a defesa nacional era combatida por ambos os lados do espectro político. Dos dois partidos que se opunham a ele, um grupo defendia grandes gastos na defesa nacional e a ida imediata à guerra. O outro partido se opunha ao gasto com defesa e à ida a guerra. Adams tinha sofrido de primeira mão a Revolução Americana, e sabia o que significava uma luta. Ele acreditava que, sob as circunstâncias, a fraqueza tornava o ataque inevitável. Ele apoiava uma forte defesa nacional ao mesmo tempo em que lutava com todas as forças para evitar a guerra. Mas a posição de Adams prevaleceu e ele provou que estava certo.
Esta é uma boa demonstração do principio, familiar aos muitos praticantes do karate tradicional de Okinawa, do "sem ataque inicial" – ao treinar com constancia e atenção. “Sem ataque inicial" não é uma questão de pacifismo ou de passividade. É a prática da estratégia marcial e da moralidade ao mesmo tempo.
Parece claro que aos 90 anos a visão de John Adams sobre a impermanência das coisas e a resistência da virtude foi possível devido à forma como ele viveu sua vida. Ele foi vigoroso. Por fim sua mente estava em paz. No final de sua vida ele não remoia rancores, não temia o declínio de suas forças nem buscava um lugar na história. Ele era capar de distinguir o que era importante do que não era. Ele foi corajoso e forte. Sua mente era clara. Ele era capaz de compreender o que duraria e o que desapareceria.
Sua habilidade para obter este grau de clareza e compreensão foi o resultado da forma como ele viveu. É difícil para nós vermos como nossas ações do corpo, da mente, e das palavras (o termo técnico, do sânscrito, é nosso "karma") influencia a qualidade de nossa compreensão. Mas se olharmos atentamente veremos que nossas mentes condicionam nossas escolhas, a qualidade de nossas vidas e o impacto que temos sobre outras pessoas.
Por isso é útil compreendermos a fundamentação física do treinamento mental no karate. A idéia de "treinamento mental" no karate envolve um conceito muito mais amplo de mente que o que normalmente usamos no ocidente, em que a mente e o corpo normalmente são separados um do outro. Compreender a fundamentação física do treinamento mental do karate nos ajuda a explicar a relação entre a forma como nosso treinamento físico condiciona nossa mente, a e forma como isso influencia a maneira como tomamos decisões em situações de conflito ou não. Isso nos dá uma visão sobre a importância do principio do “sem ataque inicial”.
Quando usamos a palavra "mente" nos referimos a funções mentais muito diferentes. As que são importantes para o treinamento mental do karate incluem: a ligação entre nossos sentidos, mente e músculos, sensação, categorização, conceituação, cognição, cálculo, reflexão, percepção, atenção, compreensão, emoção, percepção (compreensão da própria atividade mental), estabilidade mental, clareza, noção de si, orientação filosófica, conhecimento, força de vontade, intenção, mente-acima-do-pensamento e compreensão da realidade... E todas estas coisas normalmente são amontoadas sob termo "mente.”.
Todos estes aspectos da mente possuem fundamentação física, e são todos susceptíveis a mudanças positivas através do bom uso do corpo. Isso apenas é lógico porque na realidade o corpo não é separado da mente. Eles estão integrados, e agem em conjunto.
Assim, na prática das artes marciais nem a “busca do conhecimento” nem a repetição mecânica dos movimentos serão suficientes para tornar suas capacidades de defesa mais eficientes, nem aprofundarão seu desenvolvimento como ser humano.
Na pratica do karate temos que saber o que estamos buscando, adquirir os meios que nos levarão adiante e seguir em frente. Devemos ser pacientes e firmes em nossos esforços. Devemos ser sempre escrupulosos ao examinar nossas motivações, nossos métodos e os resultados que estamos atingindo. Não devemos ser desviados, intimidados ou atrapalhados. Assim podemos esperar terminar o trabalho antes que o tempo termine. Isso é treinamento mental tanto quanto treinamento físico.
Com este alto grau de tenacidade e de atenção descobriremos o propósito do karate. Então poderemos usá-lo quando uma emergência ou as circunstancias exigirem – de um ponto de vista estratégico, como o de Adams, ou em nossa própria doutrina de “sem ataque inicial”.
Se o propósito do treinamento em artes marciais fosse principalmente matar, você poderia pular o trabalho e arranjar algum TNT. Se fosse apenas para se manter em segurança, você poderia arranjar um bunker e uma roupa de Kevlar. Se fosse principalmente para manter viva a arte que as pessoas de Okinawa praticavam há séculos, estaríamos carregando facas na cintura e enfrentando piratas Javaneses no Estreito de Malucca, de pé na proa de nossos navios.
Em um nível nacional, os pensamentos de John Adams sobre a defesa nacional estavam corretos para a sua época. A um nível pessoal, a habilidade em auto-defesa nos ajuda a cumprir nossas obrigações para com nós mesmos, nossas famílias e nossas comunidades. Livrar-nos e aos outros do medo, do sofrimento e da morte é uma grande obrigação, uma tarefa urgente e difícil. Exige que cuidemos de nossos corpos e mentes, que pratiquemos até o limite de nossas capacidades. Exige que transformemos nossos corpos e mentes comuns em algo que é profundamente e completamente humano. E não podemos desperdiçar tempo. Recebemos as ferramentas. Às vezes elas parecem simples demais Às vezes parecem tão maravilhosas como se estivessem fora do alcance. Mas nós as possuímos, como praticantes. Devemos usá-las bem.
Cada estágio é importante. Nenhum deve ser negligenciado: (a) ficar forte, flexível e saudável. (b) Regular seu corpo e a respiração. (c) Estabilizar e clarear a mente. (d) Criar relacionamentos generosos. (e) Servir às pessoas que precisam de você. (f) Ser um mestre de defesa-pessoal. Então você será destemido. Então você saberá o que está defendendo. Você saberá como melhor defender. Você poderá usar bem sua gentileza e sua força. Você poderá ser forte sem ser “militar”, e pacífico sem ser passivo.
A propósito, da mesma forma que aconteceu com o presidente que foi forte e pacífico, pode acontecer que seus esforços e suas boas qualidades, como um praticante sério, não sejam apreciadas. Pessoas poderão ficar no seu caminho e lhe criar dificuldades. Você poderá se sentir solitário. Se você for provocado para ficar irado, não fique. Continue fazendo o que é certo. Assim, no fim do dia, ou no fim da vida, verá que o que você fez é bom e permanecerá.
Jeffrey M. Brooks é um faixa preta Go Dan (quinto grau) de Matsubayashi Shorin Ryu, treinando em Okinawa, Japão, e nos Estados Unidos, com Shoshin Nagamine, o fundador do estilo, Takayoshi Nagamine, seu sucessor, e com muitos outros da linha do Matsubayashi Ryu e das tradições chinesas relacionadas. Faz seus estudos sobre o Budismo e a prática com o Rev. Issho Fujita, diretor residente do Valley Zendo e com Geshe Michael Roach do Asian Classics Institute. Ele tem a graduação de M.F.A. da NYU Film School e trabalha como escritor de discursos para pessoas públicas. Ele é o fundador e diretor do Northampton Karate e do Northampton Zendo em Northampton, Massachusetts, dando aulas diárias para adultos e crianças desde 1988. (www.northamptonkarate.com)
http://www.northamptonkarate.com
Fonte do Artigo: http://www.martialartsarticles.com

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Entrevista com o Fundador do Aikido Ueshiba

A seguinte entrevista com O Sensei e seu filho, Kisshomaru, teve lugar cerca de vinte anos atrás e foi publicada em Aikido, por Kisshomaru Ueshiba,Tokyo, Kowado, 1957, pp. 198-219. Foi vertida do japonês por Stanley Pranin e Katsuaki Terasawa e conduzida por dois jornalistas anônimos. Contém uma riqueza de lances valiosos da vida de O Sensei, da história e do desenvolvimento do Aikido.

A: Quando eu estava no colégio, meu professor de filosofia nos mostrou o retrato de um famoso filósofo e agora estou impressionado com a semelhança entre vocês, Sensei.

UESHIBA: Entendo. Talvez eu devesse ter entrado no campo da filosofia ao invés. Meu lado espiritual é mais forte do que o lado físico.

B: Dizem que o Aikido é muito diferente do Karate do Judo.

UESHIBA: O Aikido é totalmente diferente daquilo que as pessoas em geral pensam a respeito das artes marciais.

B: Então, o que é o Aikido?

UESHIBA: Na minha opinião, pode-se dizer que é a verdadeira arte marcial. A razão disto é que ele é uma arte marcial baseada na verdade universal. Este universo é composto de muitas partes diferentes e ainda assim, o universo como um todo é uno como uma família e simboliza o estado último da paz. Por ter esta visão do universo, o Aikido não pode ser nada além de uma arte marcial da harmonia e de não violência. Por isso, pode se dizer que o Aikido é mais uma manifestação do Criador do Universo. Em outras palavras, o Aikido é como um gigante (imenso em natureza). Portanto, no Aikido, o céu e a terra se tornam os campos de treinamento. O estado mental do aikidoista deve estar pacificado e totalmente livre da violência. É dizer, aquele estado mental especial que transforma a violência em um estado de harmonia. E acho que este é o verdadeiro espírito das artes marciais japonesas. Esta terra nos foi dada para que a transformássemos num paraíso. A atividade guerreira é totalmente fora de contexto.

A: Então, ele é muito diferente das artes marciais tradicionais.

B: Então, isto significa que o senhor esteve ligado a Tenryu durante algum tempo?

UESHIBA: Sim. Ele ficou em minha casa por cerca de três meses.

B: Isso foi na Manchúria?

UESHIBA: Sim. Eu o conheci quando faziamos a ronda depois de uma celebração marcando o décimo aniversário da instalação do governo da Manchúria. Havia um homem de boa aparência na festa e muitas pessoas estavam curiosas, fazendo comentários como: "Este Sensei tem uma tremenda força. Que tal se testar contra ele?" Perguntei a alguém ao lado quem era ele. Me foi explicado que era o famoso Tenryu que havia de afastado da Sumo Wrestler's Association. Fomos então apresentados. Finalmente, acabamos medindo nossas forças. Sentei e disse a Tenryu, "Por favor, tente me empurrar. Empurre forte, não há necessidade de se conter." Por conhecer o segredo do Aikido, eu não poderia ser movido uma polegada. Mesmo Tenryu pareceu surpreso com isto. Como resultado dessa experiência, ele se tornou um estudante de Aikido. Era um bom homem.

A: Sensei, o senhor esteve também na Marinha?

UESHIBA: Sim, por um longo período. Começando por 1927 ou 28, por cerca de 10 anos. Eu era professor em meio período na Academia Naval.

B: O senhor instruía os soldados na época em que ensinou na Academia Naval?

UESHIBA: Ensinei muito os militares, começando pela Academia Naval em 1927-28. Por volta de 1932 ou 1933, comecei uma aula de artes marciais na Escola Toyama para o Exército. Então em 1941-42, ensinei Aikido aos alunos da Academia de Polícia Militar. Além disso, em certa ocasião, dei uma demonstração a convite do General Toshie Maeda, Superintendente da Academia do Exército.

B: Já que o Senhor treinou soldados, deve ter havido muitos tipos rudes e muitos episódios.

UESHIBA: Sim. Fui até mesmo emboscado, uma vez.

B: Por considerarem-no um professor autoritário?

UESHIBA: Não. Não foi por causa disso. Era para testar a minha força. Foi no tempo em que comecei a ensinar Aiki para a polícia militar. Uma noite, enquanto caminhava pelos campos de treinamento, senti que alguma coisa estranha estava acontecendo. Senti algo errado. Subitamente, de todas as direções, de trás dos arbustos e depressões, muitos soldados apareceram e me rodearam. Começaram a me golpear com espadas e rifles de madeira. Mas eu estava acostumado com aquele tipo de coisa e por isso, não me incomodei. Enquanto tentavam me atingir, eu girava meu corpo desta e daquela forma e eles caíam facilmente enquanto os golpeava. Finalmente, todos ficaram exaustos. De qualquer modo, o mundo é cheio de surpresas. Outro dia encontrei um dos homens que tinham me atacado. Sou conselheiro na Military Police Alumnae na Prefeitura de Wakayama. Durante um encontro recente, um indivíduo me reconheceu e veio sorrindo em minha direção. Depois de termos conversado alguns minutos, entendi que ele era uma dos homens que havia me atacado naquele dia, muitos anos atrás. Enquanto coçava a cabeça, me contava o seguinte: "Sinto muito por aquele incidente. Naquele dia, discutíamos se o novo professor de Aikido era ou não realmente forte. Uma parte de nós, policiais militares de sangue quente, conversava a respeito e decidimos testar o novo professor. Cerca de 30 homens ficaram na espreita. Ficamos completamente assombrados com o fato de que 30 homens auto confiantes não pudessem ter feito nada contra a sua força."

C: Houve outros episódios enquanto o senhor esteve na Escola Toyama?

UESHIBA: Medição de forças?... Um incidente teve lugar, acredito que antes do episódio com a polícia militar. Vários capitães que eram instrutores na Escola Toyama me convidaram para testar minha força contra eles. Todos estavam orgulhosos de suas habilidades dizendo coisas como: "Sou capaz de erguer tantos e tantos pesos", ou "parti um tronco de tantas polegadas de diâmetro". Se reuniram ao meu redor para testar meu poder. Expliquei a eles: "Não tenho força como vocês mas posso derrubar pessoas apenas com o meu dedo mínimo. Sinto por vocês se os arremessar. Então, vamos fazer isto, ao invés." Estendi meu braço direito e apoiei a ponta do dedo indicador na borda de uma mesa e os convidei a apoiarem seus ventres sobre o meu braço. Um, dois e então três oficiais se apoiaram sobre ele e naquele momento, todos arregalaram os olhos. Continuei até que seis homens estivessem apoiados e então pedi um copo de água ao oficial que estava em pé perto de mim. Enquanto eu tomava a água com a mão esquerda, todos estavam silenciosos, trocando olhares.

B:
À parte do Aikido, o senhor deve ter uma tremenda força física.

UESHIBA: Na verdade, não.

KISSHOMARU UESHIBA:
É claro que ele tem força, mas ela deve ser descrita como o poder do ki, mais do que força física. Algum tempo atrás, quando fomos a uma nova colônia no país, vimos sete ou oito lavradores tentando em vão levantar um enorme tronco de árvore. Meu pai parou para olhar por um instante e então pediu que se afastassem um pouco para que pudesse tentar. Levantou-o facilmente e de pronto, carregou o tronco. É totalmente inconcebível fazer este tipo de coisa usando mera força física. Também houve um incidente envolvendo um certo Mihamahiro.

B: O mesmo Mihamahiro da Associação de SumoTakasago Beya?

UESHIBA: Sim. Ele era da Província de Kishu. Quando estive em Shingu em Wakayama, Mihamahiro estava bem colocado nas classificações de Sumo. Tinha tremenda força e podia erguer três vigas que pesavam várias centenas de libras. Quando soube que Mihamahiro ia ficar na cidade, convidei-o para um encontro. Enquanto conversávamos, Mihamahiro disse, " Também ouvi dizer que o senhor, Sensei, possui grande força. Por quê não fazemos um teste?". "Está certo. Ótimo. Posso imobilizá-lo apenas com o meu dedo indicador", respondi. Então deixei que ele me empurrasse enquanto eu estava sentado. Este sujeito, capaz de erguer pesos imensos, bufou e bufou mas não pode me mover. Depois, redirecionei sua força para além de mim e ele saiu voando. Quando caiu, prendi-o com o dedo indicador, ficando totalmente imobilizado. Foi como um adulto prender um bebê. Então sugeri que tentássemos outra vez e deixei que ele me empurrasse contra a testa. Entretanto, ele não pode me mover de forma alguma. Então estendi minhas pernas para a frente e, balançando, tirei- as do chão e fiz com que me empurrasse. Mesmo assim, ele não pode me mover. Ficou surpreso e começou a estudar Aikido.

Parte II

B: Então, em budo, não é bom ser forte. Desde a antigüidade A unificação da ken e do zen é ensinada desde a antigüidade. Sem dúvida, não se pode compreender a essência do budo sem esvaziar a mente. Nesse estado, nem o certo ou o errado têm significado.

UESHIBA: Como eu disse antes, a essência do budo é o Caminho do masakatsu e agatsu.

B: Ouvi uma estória sobre como o senhor se envolveu em um combate com cerca de 150 trabalhadores.

UESHIBA: Estive? Se me lembro... Deguchi Sensei foi à Mongólia em 1924 para realizar o seu objetivo de uma Comunidade Asiática maior, alinhada com a política nacional. Eu o acompanhei a seu pedido, embora estivesse convocado para o exército. Viajamos pela Mongólia e Manchuria. Neste último país, encontramos um grupo de bandidos montados e houve um pesado tiroteio . Devolvi o fogo com uma mauser (pistola alemã) e então comecei a correr para o meio dos bandidos, atacando-os violentamente e eles se dispersaram. Tive sucesso em escapar do perigo.

A: Sensei, sabemos que o senhor tem muitas ligações com a Manchuria. O Senhor passou muito tempo lá?

UESHIBA: Desde aquele incidente, tenho ido à Manchúria com bastante freqüência. Eu era conselheiro para artes marciais na organização Shimbuden, bem como na Kenkyoku University na Mongólia. Por esta razão, sou bem recebido naquele país.

B: Hino Ashihei escreveu uma estória chamada "Oja no Za" na Shosetsu Shincho, na qual relata a juventude de Tenryu Saburo, dissidente do mundo do Sumo e do seu encontro com a arte marcial do Aikido e seu verdadeiro espírito. Isto tem algo a ver com o senhor, Sensei?

UESHIBA: Sim.

UESHIBA: Sem dúvida, é muito diferente. Se olharmos para trás no tempo, veremos o quanto as artes marciais têm sido maltratadas. Durante o Período Sengoku (1482-1558, "Sengoku - = países em guerra) os suseranos locais usaram as artes marciais como uma ferramenta de luta a serviço de seus próprios interesses e para satisfazer o seu orgulho. Acho isto totalmente inadequado. Embora eu mesmo, durante a guerra, tenha ensinado artes marciais a soldados para serem usadas com o propósito de matar, fiquei profundamente perturbado depois que o conflito terminou. Isto me motivou a descobrir o verdadeiro espírito do Aikido sete anos depois, ao tempo em que surgiu a idéia de construir um paraíso na terra. A razão disto foi que, embora o céu e a terra (isto é, o universo físico) tenha alcançado um estado de perfeição e seja relativamente estável em sua evolução, a raça humana (o japonês, em particular) parece estar em um estado de revolução. Antes de mais nada, devemos mudar esta situação. A compreensão desta missão é o caminho para a evolução do homem universal. Quando cheguei a esta compreensão, concluí que o verdadeiro estado do Aikido é do amor e da harmonia. Assim, o bu (marcial) em Aikido é a expressão do amor. Eu estudei o Aikido para servir meu país. Desta forma, o seu espírito só pode ser o amor e a harmonia. O Aikido nasceu de acordo com os princípios de funcionamento do universo e portanto, ele é um budo (arte marcial) de vitória absoluta.

B: O senhor poderia falar a respeito dos princípios do Aikido? O público em geral vê o Aikido como algo místico, como ninjutsu, já que o senhor, Sensei, derrubou oponentes enormes com a velocidade da luz e levantou objetos pesando várias centenas de libras.

UESHIBA: Ele apenas parece ser místico. Em Aikido usamos completamente o poder do oponente. Assim, quanto maior a força que ele usa, mais fácil é para você.

B: Então, nesse sentido, há aiki em Judo, também, já que no Judo você se sincroniza com o ritmo do seu oponente. Se ele puxa, você empurra. Você se move de acordo com este princípio e o faz perder o equilíbrio e então aplica a sua técnica.

UESHIBA: Em Aikido, não existe agressividade, em absoluto. Atacar significa que o espírito já foi derrotado. Aderimos ao princípio da absoluta não resistência, que equivale a dizer, não nos opomos ao atacante. Assim, não há oponente em Aikido. A vitória em Aikido é masakatsu e agatsu; desde que ela seja obtida sobre todas as coisas de acordo com a missão do céu, você possui força absoluta.

B: Isto significa go no sen ? ( Este termo refere-se a uma resposta tardia a um ataque)

UESHIBA: Não, em absoluto. E tampouco é uma questão de sensen no sen ou go no sen. Se eu tentasse verbalizar, diria que você controla seu oponente sem tentar controlá-lo, isto é, o estado de vitória contínua. Não existe nenhuma questão de vencer ou perder e neste sentido, não há oponente em Aikido. Mesmo que você tenha um, este se torna parte de você, um parceiro que se pode controlar facilmente.

B: Quantas técnicas existem em Aikido?

UESHIBA: Existem cerca de 3.000 técnicas básicas e cada uma delas tem 16 variações... Assim, existem milhares. Dependendo da situação, você cria novas técnicas.

A: Quando o senhor começou a estudar artes marciais?

UESHIBA: Com 14 ou 15 anos. Primeiro aprendi Tenshinyo-ryu Jiujitsu com Tozawa Tokusaburo Sensei, e então Kito-ryu, Yagyu-ryu, Aioi-ryu, Shinkage-ryu, todas formas de Jiujitsu. Entretanto, pensei que deveria existir uma verdadeira forma de budo em algum lugar. Tentei Hozoin-ryu Sojitsu e Kendo. Mas todas estas artes estão voltadas para o combate um a um e não puderam me satisfazer. Assim, visitei muitos lugares no país procurando o Caminho e o treinamento... mas foi tudo em vão.

A: O treino ascético do guerreiro?

UESHIBA: Sim, a procura pelo verdadeiro budo. Quando eu ia a outras escolas, não poderia nunca desafiar o Sensei do dojo. Uma pessoa responsável por um dojo tem obrigações com muitas coisas e assim é muito difícil para ele demonstrar a sua verdadeira habilidade. Eu lhe renderia o respeito adequado e aprenderia com ele. Caso me julgasse superior, renderia meus respeitos e voltaria para casa.

B: Então o senhor não aprendeu Aikido desde o começo.

UESHIBA: Não o chamávamos Aikido então. Estudei todas as artes marciais.

B: Quando foi que o Aikido nasceu?

UESHIBA: Como já disse, fui a muitos lugares buscando o verdadeiro budo. Então, quando eu estava com cerca de 30 anos, me estabeleci em Hokkaido. Em uma ocasião, durante uma estada no Hisada Inn em Engaru, Província de Kitami, encontrei um certo Takeda Sokaku Sensei do clã Aizu. Ele ensinava Daito-ryu Jijitsu. Durante os 30 dias em que aprendi com ele, senti algo como que uma inspiração. Mais tarde, convidei este mestre para vir à minha casa e junto com 15 ou 16 empregados, nos tornamos alunos, procurando pela essência do budo.

A: O Senhor descobriu o Aikido enquanto aprendia Daito-ryu com Takeda Sokaku?

UESHIBA: Não. Seria mais preciso dizer que Takeda Sensei abriu meus olhos para o budo.

A: Então, houve alguma circunstância especial envolvendo a sua descoberta do Aikido?

UESHIBA: Sim. Aconteceu desta forma. Meu pai ficou seriamente doente em 1918. Pedi para deixar Takeda Sensei e fui para casa. No caminho, me foi dito que se eu fosse a Ayabe perto de Kyoto e dedicasse uma prece, qualquer doença seria curada. Assim, eu fui e lá encontrei Deguchi Onisaburo. Depois disso, quando cheguei em casa, soube que meu pai já estava morto. Embora tenha encontrado Deguchi apenas uma vez, decidi me mudar para Ayabe com minha família e acabei por permanecer ali até o fim do período Taisho (por volta de 1925). Sim... Naquela época eu estava com 40 anos de idade. Um dia, eu me enxugava perto de um poço. De repente, uma cascata de ofuscantes luzes douradas desceu do céu envolvendo meu corpo. Então imediatamente meu corpo foi se tornando maior e maior atingindo o tamanho do universo. Enquanto eu era dominado por esta experiência, subitamente compreendi que não se deveria pensar em tentar vencer. A forma do budo deve ser a harmonia. É preciso viver em harmonia. Isto é Aikido, e a forma antiga da postura em Kenjitsu. Depois desta compreensão, fiquei emocionado e não pude conter as lágrimas.

Parte III

A: Quando o senhor diz imobilizar alguém com um dedo, o senhor pressiona um ponto vital?

UESHIBA: Essencialmente o que faço é o seguinte: Desenho um círculo ao redor da pessoa. Seu poder está dentro desse círculo. Não importa quão forte alguém seja; não pode estender a sua força para além desse círculo. Ele se torna fraco. Assim, se você a imobiliza enquanto você está fora desse círculo, pode prender a pessoa com o seu dedo indicador ou seu dedo mínimo. Isto é possível porque o oponente já se tornou fraco.

B: Mais uma vez, é uma questão de física. Também em Judo, quando você arremessa um oponente ou o imobiliza, você se coloca do mesmo modo. Em Judo, você se movimenta de várias maneiras para tentar posicionar o oponente da mesma forma.

A: Sua esposa é da Prefeitura de Wakayama?

UESHIBA: Sim. Seu sobrenome de solteira em Wakayama era Takeda.

A: O nome da família Takeda tem uma relação muito estreita com as artes marciais.

UESHIBA: Pode-se dizer que sim. Minha família tem sido leal à Casa Imperial por muitas gerações. E temos sido absolutamente sinceros em nosso apoio. Na verdade, meus ancestrais se desfizeram das propriedades e fortuna e mudaram-se a serviço da família imperial.

B: Deve ter sido bastante difícil para a sua esposa, já que o senhor também, Sensei, está constantemente se mudando desde a juventude.

UESHIBA: Eu estava muito ocupado e não tive muito tempo de lazer para passar em casa.

KISSHOMARU: A família de meu pai era abastada e ele pode se dedicar ao budo shugyo (treinamento rigoroso em artes marciais). E outra coisa, mais uma das suas características é que ele se preocupa pouco com dinheiro. O seguinte incidente teve lugar em certa ocasião. Quando meu pai se estabeleceu em Tokyo em 1926, em sua segunda visita à capital, primeiro veio sozinho e depois, foi seguido pela família que veio de Tanba em 1927. Nos estabelecemos em Sarumachi, Shibashirogane em Tokyo. Alugamos aquele lugar com a ajuda do Sr. Kiyoshi Yamamoto, um dos filhos do General Ganbei Yamamoto. Naquele tempo, meu pai possuía muitas propriedades ao redor de Tanabe, incluindo tanto terras cultivadas como não cultivadas e terrenos montanhosos. Entretanto, tinha pouco dinheiro e teve que pedir emprestado. A despeito disto, nunca precisou vender qualquer terra. E mais, quando seus alunos traziam oferendas mensalmente ele dizia, "não quero este tipo de coisa". Dizia-lhes que oferecessem ao Kami-Sama (uma divindade) e nunca aceitou dinheiro diretamente. E quando precisava, ele se apresentava humildemente em frente ao altar do Kami-sama e recebia presentes da divindade . Nunca pensamos em cobrar pelo budo. A sala de treinamento na época era o salão de bilhar na mansão do Conde Shimazu. Muitos dignitários, incluindo oficiais tais como o Almirante Isamu Takeshita bem como vários aristocratas vinham praticar. O nome que usávamos era "Aikijujitsu" ou "Ueshiba-ryu Aikijitsu".

B: Qual é a idade ideal para começar a treinar Aikido?

KISSHOMARU: Você pode começar por volta de 7 ou 8 anos de idade, mas o treinamento sério, ideal, deve começar aos 15 ou 16 anos. Fisicamente falando, a estrutura do corpo se torna mais vigorosa e os ossos mais fortes nessa idade. Além disso, o Aikido tem muitos aspectos espirituais ( é claro, assim como outras formas de budo ) e assim, nessa idade, começa-se a adquirir uma perspectiva do mundo e da natureza do budo. Assim, por tudo isto, eu diria que 15, 16 anos é uma boa idade para começar o estudo do Aikido.

B: Comparado com o judo, em Aikido há bem poucas ocasiões em que se se atraca com o oponente. Assim, não há necessidade de muita força física. Além disso, pode-se lidar não apenas com um, mas muitos oponentes ao mesmo tempo. Isto é realmente o ideal como budo. Mas, por outro lado, ele pode ser também usado como ferramenta em briga de rua. Nesse aspecto, há também muitos "brigões" que vêm estudar Aikido?

KISSHOMARU:
É claro, este tipo de indivíduo aparece também. Mas quando este tipo pratica o Aikido com a intenção de usá-lo como ferramenta para brigar, não fica muito tempo. O budo não é como dançar ou assistir um filme. Chuva ou sol, você deve praticar todo o tempo, durante o dia-a-dia para progredir. Em particular, o Aikido é como um treinamento espiritual praticado sob a forma de budo. Não pode nunca ser cultivado como ferramenta para aqueles que o usariam para a briga. Também, indivíduos com tendência à violência param de agir assim quando aprendem Aikido.

B: Compreendo... Através do treinamento constante, eles param de se comportar como "brigões".

UESHIBA: Como o Aikido não é um bu (método marcial) de violência mas uma arte marcial de harmonia, não se age violentamente. Você converte o oponente violento de forma gentil. Eles não podem se comportar assim por muito tempo.

B: Compreendo. Não é controlar a violência com a violência, mas transformar a violência em harmonia.

A: O que o Senhor ensina em primeiro lugar como fundamento do Aikido? Em Judo, aprende-se ukemi (queda)...

KISSHOMARU: Primeiro, a movimentação do corpo (Taisabaki) e então, o fluxo de ki...

A: o quê é o fluxo de ki?

KISSHOMARU: Em Aikido, treinamos constantemente o controle do ki do nosso parceiro através do movimento de nosso próprio ki, atraindo-o para o nosso próprio movimento. A seguir, aprendemos como girar o corpo, movendo-o juntamente com os braços e pernas. Então, o corpo se torna unificado e se move suavemente.

B: Assistindo a prática do Aikido, os alunos parecem cair naturalmente. Que tipo de treino vocês fazem para o ukemi?

KISSHOMARU: Diferente do Judo, onde você se atraca com o oponente, em Aikido quase sempre se mantém alguma distância. Consequentemente, um tipo mais livre de ukemi é possível . Ao invés de cair com um baque como no Judo, fazemos quedas circulares, uma forma muito natural de ukemi. Assim, praticamos aqueles quatro elementos com muita diligência.

B: Então vocês praticam Tai no sabaki (movimentação do corpo), ki no nagare (fluxo de ki), Tai no tenkan Ho (giro de corpo), ukemi e então começam a praticar técnicas. Que tipo de técnica o senhor ensina primeiro?

KISSHOMARU: Shihonage, uma técnica para arremessar um oponente em muitas direções diferentes. Isto é feito da mesma maneira que a técnica de espada. É claro, usamos bokken (espadas de madeira) também. Como eu disse antes, em Aikido, mesmo o inimigo se torna parte do seu movimento. Posso movê-lo como desejar. Segue-se então, naturalmente, que quando se pratica com quaisquer meios que se tenha disponíveis, como um bastão ou uma espada de madeira, estes se tornam também uma parte de você, como um braço ou uma perna. Portanto, em Aikido, aquilo que você está segurando deixa de ser um mero objeto, para se tornar uma extensão do seu próprio corpo. Em seguida, Iriminage. Nesta técnica, você entra assim que o oponente tenta golpeá-lo e nesse momento, aplicam-se dois ou três atemi (golpes em pontos dolorosos). Por exemplo, o oponente ataca a lateral do seu rosto com um soco ou com a mão-espada (tegatana). Usando a força do oponente, você faz uma abertura com o seu corpo para a esquerda e para trás, enquanto conduz a mão direita do atacante com suas duas mãos estendidas, continuando na direção do movimento. Então, segurando a mão do oponente, você a move em círculo ao redor da cabeça dele. Ele então cai com o braço "enrolado" ao redor cabeça... Isto também é o fluxo de ki. O oponente ataca com a mão direita; você move a mão na direção do ki dele...Há várias teorias sofisticadas a respeito. O oponente fica totalmente enfraquecido, ou melhor, a força do oponente é dirigida na direção em que você quer levá-lo. Assim, quanto mais força o oponente tiver, mais fácil é para você. Por outro lado, se você se chocar com a força dele, não pode nunca esperar derrotar uma pessoa muito forte.

Parte IV

UESHIBA: Além disso, em Aikido, nunca se vai contra a força do atacante. Quando ele o ataca, golpeando ou cortando com uma espada, há essencialmente uma linha ou um ponto. Tudo o que você precisa fazer é evitá-los.

KISSHOMARU UESHIBA: Depois fazemos as seguintes técnicas: suwari waza shomenuchi ikkyo, nikkyo; então técnicas de articulação e imobilização assim por diante...

B: O Aikido tem muitos elementos espirituais. Quando tempo leva para adquirir uma compreensão básica do Aikido, desde o princípio?

KISSHOMARU UESHIBA: Não posso generalizar, já que existem pessoas coordenadas e descoordenadas, mas quando alguém pratica por cerca de três meses, começa a ter alguma compreensão do que é o Aikido. E aqueles que tenham completado três meses de prática, treinarão por seis . Se praticar por seis, então poderá continuar por um tempo indefinido. Aqueles que têm apenas um interesse superficial desistirão antes do três meses.

B: Vai haver um exame de shodan no dia 28 deste mês. Quantos faixas pretas existem atualmente?

KISSHOMARU UESHIBA: A graduação mais alta é a oitava e existem quatro deles. Há seis faixas-pretas de sétimo grau . E os de primeiro grau são bastante numerosos, mas , é claro, isto inclui somente aqueles que contataram o Hombu Dojo depois da Guerra.

B: Sei que há um número considerável de pessoas aprendendo Aikido em países estrangeiros também.

KISSHOMARU UESHIBA: O Sr. Tohei tem visitado o Havaí e os Estados Unidos com o propósito de ensinar Aikido. O Aikido é mais popular no Havaí onde há 1200 ou 1300 praticantes. Esta estimativa para o Havaí seria equivalente a 70 ou 80.000 Aikidoistas em Tokyo. Há bem poucos faixas-pretas na França também. Há um francês que começou a estudar Aikido depois de se machucar praticando Judo. Eles queria experimentar o espírito do Aikido mas não foi possível conseguir isto na França. Sentiu que para buscar o verdadeiro espírito do Aikido, teria que ir ao berço da arte. Por esta razão, veio ao Japão. O Embaixador do Panamá também está estudando Aikido mas parece que o clima no Japão é muito frio e não pratica no inverno. Há também uma senhora chamada Onada Haru que foi a Roma estudar escultura. Vem ao dojo desde o tempo em que era estudante na Escola de Belas Artes de Tokyo. Acabei de receber uma carta onde diz ter conhecido um italiano que pratica Aikido e a tratou muito bem.

A: E a respeito da interpretação das técnicas do Aikido?

UESHIBA: Os pontos essenciais são masakatsu, agatsu e katsuhayai. Como eu disse antes, masakatsu significa a "vitória correta" e agatsu significa vencer de acordo com a missão celeste que foi dada a você. Katsuhayai representa o estado mental da "vitória rápida".

A: O Caminho é longo , não é?

UESHIBA: O Caminho do Aikido é infinito. Estou agora com 76 anos de idade mas continuo a minha busca. Não é uma tarefa fácil dominar o Caminho no budo ou nas artes. Em Aikido, você deve compreender cada fenômeno do Universo. Por exemplo, a rotação da Terra e o mais intrincado e longínquo sistema do universo. É um treinamento para a vida inteira.

B: Assim, Aiki é o ensinamento do Kami (Deus) tanto quanto um caminho marcial. Então, qual é o espírito do Aikido?

UESHIBA: Aikido é ai (harmonia). Você faz desta grande harmonia do universo o seu coração e então deve tornar sua própria a missão de proteção e de amor por todas as coisas. Realizar esta missão deve ser o verdadeiro budo. O verdadeiro budo significa vencer-se a si mesmo e eliminar o coração combativo do inimigo. Não, é um caminho de absoluta auto-perfeição no qual o verdadeiro inimigo é eliminado. A técnica do aiki é o treinamento ascético e um caminho através do qual se alcança um estado de unificação do corpo e do espírito pela compreensão do princípio do Céu.

B: Então Aiki é o Caminho para a paz do mundo.

UESHIBA: O objetivo último do Aiki é a criação de um paraíso na terra. De qualquer modo, o mundo inteiro deve estar em harmonia. Então não teremos necessidade de bombas atômicas ou de hidrogênio. Poderá ser um mundo confortável e prazeiroso.


"O Caminho é infinitamente vasto. Desde a antigüidade até o presente, até mesmo os maiores sábios foram incapazes de perceber e compreender a verdade; as explicações e ensinamentos dos mestres e santos apenas expressam parte do todo. Não é possível a alguém falar de tais coisas em sua integridade - apenas caminhe na direção da luz e do calor, aprenda com os deuses e através da virtude da prática devotada, torne-se um com o divino. Busque a iluminação ao longo deste gume"

terça-feira, 10 de novembro de 2009

O Básico da Pratica; Ser Livre Como a Natureza

Por Endo Seishiro, Aikido Saku Dojocho 8 Dan, Traduzido para o português por Jaqueline Sá Freire – Instituto Takemussu Hikari Dojo

O Aikido começou a se difundir a cerca de 50 anos no Japão, e nos últimos 35 anos se expandiu para o mundo. A popularidade do Aikido hoje é impressionante; organizações de Aikido já foram autorizadas pelo Hombu Dojo em mais de 70 paises, e mesmo ainda sem autorização, o Aikido está se tornando popular em vários outros paises. E enquanto o Aikido continua a se expandir, e o numero de alunos com mais de 20 a 30 anos de prática aumenta cada vez mais, eu fico imaginando qual é o tipo de prática que deveríamos almejar. Acredito que praticamos para adquirir um movimento dinâmico e uma liberdade que existe no coração do movimento. Entretanto, acho que os alunos que vêm praticando por mais tempo tendem a ser mais duros e fazem movimentos muito estereotipados. Como uma pessoa vê a prática de outra? Que significado podemos encontrar na contínua repetição de movimentos da prática de waza?Eu me lembro de uma historia sobre Pablo Casals, um grande violoncelista que tocava (e rezava) pela paz mundial na época das guerras mundiais. Quando ele tinha 13 anos, ele encontrou as Suítes para violoncelo solo de Bach, algo em que ninguém tinha interesse naquela época, e começou a tocar essas suítes todos os dias. Como as suítes de Bach consistem em seis movimentos, ele tocava uma por dia, e portanto, tocava cada movimento pelo menos uma vez por semana. Ele continuou essa prática diariamente até morrer aos 96 anos de idade. "Era como uma oração em minha casa," ele dizia. Acho que ele purificava sua mente primeiro tocando uma das suítes de Bach, e assim, energizado, ele podia fazer suas maravilhosas performances. Acredito que as performances criativas de um gênio como Casals são o resultado de uma “liberação da mente e do corpo", a qual ele atingiu através de sua incessante busca por uma prática básica. Apesar das diferenças entre a musica e o Aikido, eu realmente fui inspirado por essa historia, e sinto que existe nela alguma coisa importante para mim, enquanto eu persigo a prática do Aikido através de minha vida. Ueshiba Morihei, o Fundador do Aikido, em seus últimos dias, às vezes aparecia no Hombu Dojo e perguntava ao Shihan que estava no comando naquele momento, "O que você está ensinando agora?" O Shihan respondia que estava demonstrando shiho-nage, e o Fundador respondia, "O que é shiho-nage?" Em sua prática o Fundador demonstrava seus waza de forma livre, frequentemente fazendo a mesma técnica de varias formas diferentes, dizendo "Agora, faça desta maneira” e "Desta vez, faça assim". Ele costumava dizer que o Aikido é o caminho do Kanagara. Minha compreensão do caminho do kanagara é ser e agir de uma maneira natural. Eu acredito que o Fundador era sempre natural ao agir contra o ataque do oponente e produia seu waza para isso. Apenas a liberação da mente e do corpo podem capacitá-lo para utilizar totalmente seu corpo, livre do preconceito mental de que o waza deva ser feito de uma maneira especifica. Manter o que é básico, ser criativo e agir de maneira natural, isso é a liberação do corpo e da mente que Casals e Morihei atingiram. Vamos segui-los?

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Samurais



O termo samurai corresponde à elite guerreira do Japão feudal. A palavra samurai vem do verbo Saburai, que significa "aquele que serve ao senhor". A classe dos samurais, dominou a história do Japão por cerca de 700 anos, de 1185 à 1867. E ao longo desse período, os samurais exerceram diferentes funções em determinadas épocas, passando de duelistas à soldados de infantaria da corte imperial, equipados inclusive com armas de fogo.
No início, os samurais realizavam atividades minoritárias tais como, as funções de cobradores de impostos e servidores da corte imperial. Com o passar do tempo, o termo samurai foi sancionado e os primeiros registros, datam do século X, situando-os ainda como guardiões da corte imperial, em Kyoto e como membros de milícias particulares a soldo dos senhores provinciais. Nessa época, qualquer cidadão poderia tornar-se um samurai. Este cidadão por sua vez, teria que se engajar nas artes militares para então, por fim, ser contratado por um senhor feudal ou daimyo, mas enquanto isso não acontecia, esses samurais, eram chamados de ronin.
Na Era Tokugawa (1603), quando os samurais passaram a constituir a mais alta classe social (bushi), não era mais possível à um cidadão comum, tornar-se samurai, pois o título "bushi", começou a ser passado de geração em geração. Só um filho de samurai poderia tornar-se samurai e este tinha direito a um sobrenome. Desde o surgimento dos samurais, só estes tinham direito a um sobrenome, mas com a ascensão dos samurais como uma elite guerreira sob os auspícios da corte imperial, todos os cidadãos passaram a ter um sobrenome.

A partir desta época, a posição do samurai consolidou-se como um grupo seleto da sociedade. As armas e armaduras que usavam eram símbolos de distinção e a manifestação de ser um samurai. Porém para armar um samurai era necessário mais que uma espada e uma armadura. Parte de seu equipamento, era psicológico e moral; eram regidos por um código de honra muito precioso, o bushido (caminho do guerreiro), no qual a honra, lealdade e coragem eram os princípios básicos. A espada era considerada a alma do samurai. Todo bushi (nome da classe dos samurais), portava duas espadas presas ao Obi (faixa que segura o quimono), o katana (espada longa - de 60 a 90 cm) e wakisashi (de 30 a 60 cm), essas espadas eram o símbolo-distintivo do samurai.

Os samurais não tinham medo da morte, que era uma conseqüência normal e matar fazia parte de suas obrigações. Porém, deveriam morrer com honra defendendo seu senhor, ou defendendo a própria reputação e o nome de seus ancestrais. Se viessem a falhar ou cometessem um ato de desonra para si próprio, manchando o nome de seu senhor ou familiares, o samurai era ensinado a cometer o Harakiri ou Seppuku, ritual de suicídio através do corte do ventre.

Se um samurai perdesse o seu Daymio (título dado ao senhor feudal, chefe de um distrito) por descuido ou negligência na hora de defende-lo, o samurai era instruído a praticar o harakiri. Entretanto, se a morte do Daymio não estivesse relacionada à ineficiência ou falta de caráter do samurai, este se tornava um ronin, ou seja, um samurai que não tinha um senhor feudal para servir, desempregado. Isto era um problema, pois não conseguindo ser contratado por outro senhor e não tendo quem provesse seu sustento, freqüentemente tinha que vender sua espada para poder sobreviver ou se entregar ao bandidismo.

Nos campos de batalha assim como em duelos, os combatentes enfrentavam-se como verdadeiros cavalheiros. Na batalha, um guerreiro costumava galopar até a linha de frente inimiga para anunciar sua ascendência, uma lista de feitos pessoais, bem como as façanhas do seu exército ou de sua facção. Depois de encerrada tais bravatas é que os guerreiros atacavam-se. O mesmo acontecia num duelo. Antes de entrar em combate, os samurais se apresentavam, reverenciavam seus antepassados e enumeravam seus feitos heróicos para depois entrarem em combate.


Fora do campo de batalha, o mesmo guerreiro que colhia cabeças como troféu de combate era também um fervoroso budista. Membro da mais alta classe, empenhava-se em atividades culturais, como arranjos florais (ikebana), poesia, além de assistir a peças de teatro nô, uma forma de teatro solene e estilizada para a elite e oficiar cerimônias do chá, alguns se dedicavam a atividades artísticas tais como a escultura e a pintura.
O estilo de vida e a tradição militar dos samurais dominaram a cultura japonesa durante séculos, e permanecem vivos no Japão até os dias de hoje.



domingo, 1 de novembro de 2009