sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Miyamoto Musashi shinken-shobu

Miyamoto Musashi escreveu 13 pontos sobre como lutar em shinken-shobu, são eles:
  1. Toda técnica deve ser feita com uma combinação.
  2. Os dois pés devem se mover. Isso é natural. Nunca mova um só pé.
  3. Não favoreça só um pé.
  4. Mantenha a flexibilidade. Isso é essencial para você se adaptar à situação.
  5. Programe suas técnicas de acordo com o seu tamanho e conforto.
  6. Não favoreça somente uma técnica.
  7. O momento para atacar é quando o seu oponente pisca, toma ar, fica tenso ou vacila. Esse instante é chamado de suki. Suki é uma parada da mente. É um espaço entre os dois objetos ou momentos de tempo.
  8. Não deve haver nenhuma intenção; deve simplesmente acontecer. Isso é zen.
  9. Mantenha uma mentalização superior. Nunca considere perder. Se assim o fizer, será derrotado certamente.
  10. Em combate, mova-se como você age normalmente na vida cotidiana e vice-versa.
  11. Aja livre de qualquer pensamento ou ação preconcebida. Não deve haver qualquer sinal de esforço.
  12. Quando não há intenção, não há pensamento.
  13. Mantenha seu equilíbrio. Nunca se estenda em uma área grande  demais.

domingo, 28 de novembro de 2010

Atemi



Por: George S. Ledyard.
Tradução feita por Frederico Ventriglia.

Dojo Central- Instituto Takemussu Brazil Aikikai.

George Ledvard é o instrutor líder no Aikido Eastside, em Bellevue, Washington - um dojo que oferece aulas de Aikido tradicional e de táticas defensivas policial.


Alegações conflitantes têm sido feitas a respeito do lugar de atemi (golpe) na prática de Aikido. Alguns insistem que não há nenhum golpe em Aikido, acreditando que a intenção pacificadora da arte é perdida quando o atemi é usado. Porém, segundo Saotome Sensei, 0-Sensei considerava o atemi como o coração da prática de Aikido - e aqueles que trabalharam para preservar a integridade marcial de Aikido sabem por experiência própria que um atacante hábil pode derrotar técnicas de Aikido se não houver o uso de atemi.

Como o atemi pode ser usado nas técnicas de Aikido? Há três modos principais:

(1) Nós podemos usá-los como sendo a própria técnica,

(2) nós podemos usá-los como uma forma de facilitar a realização de outras técnicas, e

(3) nós podemos usá-los apenas como movimentos enérgicos o que eu chamaria de "o não-golpeamento do golpe".

Quando o atemi é usado como uma técnica, a intenção é terminar uma confrontação criando uma lesão física. Golpes que atacam órgãos vitais podem vir a matar; golpes que visam os membros podem impossibilitar o outro atacante de continuar e outros, podem causar um impacto suficiente para deixar atacante adversário inconsciente. O uso isolado do atemi para terminar uma confrontação geralmente não é praticado por Aikidokas dos estilos pós-guerra e, a maioria dos praticantes de Aikido que têm um conhecimento do funcionamento deste tipo de atemi adquiriu isto treinando outras artes. Aikidokas geralmente consideram o uso de golpes o último recurso, devido à ênfase do Aikido no princípio da não-violência; o ideal do Aikido é terminar uma confrontação sem causar dano sério no atacante. Assim, para melhor ou para pior, esta área de estudo não é enfatizada na maioria dos dojos de Aikido.

Os golpes podem ser usados para facilitar técnicas de não-impacto de dois modos diferentes:

Primeiro, podem ser aplicados atemi para causar uma dor intensa e então desviar a energia resistente do atacante. (Estes pode ser aplicado com ou sem dano, dependendo do tipo de golpe e do alvo.) No momento em que o atacante desvia sua atenção - e consequentemente seu ki - para o local da dor, a resistência dele para a técnica principal tende a diminuir drasticamente. A desvantagem deste uso de atemi é que, quando as técnicas são altamente dependentes da dor do atacante, elas são inseguras. Um atacante seriamente determinado pode não notar a dor, e consequentemente pode não haver o desvio de sua atenção. A escolha de mirar o atemi em pontos não-prejudiciais pode aumentar o risco de fracasso em uma situação de defesa pessoal.

Segundo, em lugar de causar lesão ou dor, podem ser usados golpes para mudar o alinhamento físico de um atacante resistente. (Deve-se considerar que uma lesão ou dor poderiam ser conseqüências secundárias.) Freqüentemente, quando um oponente bloqueou uma técnica, um Aikidoka está tão próximo de finalizá-la com sucesso que trocar por uma variação não é necessário. A simples aplicação de um impacto - como um golpe com o joelho na parte de trás da coxa superior quando um atacante resiste a um kokyunage - pode mudar o alinhamento do atacante, fazendo-o liberar a energia usada para bloquear a técnica. Nenhuma dor ou lesão é necessária neste tipo de impacto, desde que o objetivo seja simplesmente alterar a estrutura do atacante.

Outro aspecto do uso de atemi em Aikido cai debaixo do título "não-golpeamento do golpe". Aqui o golpe é usado sem intenção (por parte da pessoa que o executa) de realmente estabelecer contato. Muitos Aikidokas favorecem este "uso enérgico "de atemi, mas alguns não entendem que requer domínio de técnicas de impacto. O atacante realmente tem que acreditar que um golpe potencialmente prejudicial está sendo realizado e tem que sentir a necessidade de pôr sua atenção nele.

Imagine que você está atrás de um vidro transparente e altamente resistente quando alguém lança uma bola de baseball em direção à sua cabeça.

Se o lançamento é forte e com velocidade, induzirá você e abaixar - mesmo você sabendo que o vidro está lá - mas, se o lançamento for suave, você não reagirá a ele.

Por isto, o "não golpeamento" do atemi têm que ter a energia e o potencial de um golpe real para criar o efeito desejado. O atemi fraco simplesmente lançado por muitos Aikidokas simplesmente não terá efeito sobre um atacante bem treinado. O "não-golpeamento do golpe" é usado como distração. Para ser eficaz, o atemi precisa tirar a atenção do atacante - porque eles usam um bloqueio para lidar com o ataque.

Qualquer um que tentou aplicar técnicas de Aikido em oponentes realmente resistentes - como suspeitos sendo presos pela polícia - sabe é duro realizar uma técnica em alguém com a intenção de lhe bater. No dojo, nós treinamos para manter a conexão, mas os atacantes reais tentarão quebrar a conexão no momento em que sentem que coisas não estão indo a seu favor. Para estabelecer e manter a conexão, pode ser necessário um atemi, forçando assim o atacante a bloquear e se defender. Em alguns casos, a técnica de Aikido pode ser aplicada no braço que se defendeu , ao invés do braço (ou perna) que originalmente iniciou o ataque. Enquanto o atemi pode acertar, o que freqüentemente não é necessário, é muito mais fácil de estabelecer conexão com o corpo do atacante quando ele está se defendendo do que quando ele está atacando.







Um aspecto do golpeamento que é freqüentemente mal-interpretado fora de círculos de Aikido é a "projeção sem contato". Freqüentemente a pessoa pode assistir uma aula inteira de Aikido sem ver um golpe evidente. Se forem bem treinados, ambos os praticantes sabem onde os golpes podem estar, mas eles não fazem nada durante a execução das técnicas para fazer com que os golpes escondidos se manifestem. Assim, na maior parte do tempo, na pratica de Aikido , os golpes são implícitos e não explícitos.

Porém, na "projeção sem contato" os golpes se manifestam sob a forma do "não-golpeamento do golpe". Para uma "projeção sem contato" ser eficaz, o golpe precisa ser muito rápido para o atacante evitar ou bloquear, mas lento o bastante para o atacante evitar ser atingido quebrando sua postura levando-o a fazer a queda. Nas "projeção sem contato" os Aikidokas praticam interações marciais convincentes - um estudo enfatizado somente no Aikido.

Um uke treinado em tal estudo será arremessado no momento em que percebe o golpe, dando muitas vezes a quem está olhando, a impressão que ele está se jogando sozinho. Alguns observadores deduzem que o que eles estão vendo é falso sendo que envolve a cooperação dos ukes, enquanto outros com tendências mais místicas - acreditam que eles estão vendo pessoas sendo energicamente lançadas, sem contato físico ou força. (Cada um destes pontos de vista tem um pouco de verdade). Na prática de "projeção sem contato", estamos estudando um tipo de interação que normalmente não existe fora do dojo. Se alguém tentar projetar um parceiro ou oponente destreinado sem o tocar, vai provavelmente acertá-lo o golpe, já que o parceiro destreinado não sabe como evitar o golpe que seria executado uma queda.





Dentre os vários usos de atemi aqui discutidos, muitos praticantes de Aikido parecem se focalizar em apenas um e excluir os outros de seus repertórios de técnicas. Mas, a partir do momento em que o praticante se interessa pela aplicação das técnicas de Aikido fora do ambiente controlado do dojo, é necessário entender todos os aspectos do atemi.

Eu discuti três aspectos principais neste artigo, mas há outros, de formas mais sutis. Por exemplo, um de meus queridos amigos do Aikido deu um grande beijo no rosto do uke antes de lançá-lo com um iriminage. Se a pessoa ampliar a definição de "atemi" incluindo qualquer coisa que o nage faça para tomar a atenção do uke, isto também conta como atemi.

domingo, 21 de novembro de 2010

Fudo-Myo

"Quase a totalidade dos ocidentais desconhecem a figura de Fudo-Myo. Foi o Deus (Sama) protetor dos Guerreiros Ninjas e Samurais do antigo Japão. Estes quando partiam para uma batalha, não temiam a morte porque julgavam estar sob a proteção de Fudo-Myo.

Muitos conhecem Fudo-Myo como o Deus da guerra ou dos guerreiros, e é claro que o nome pode ser mal interpretado. Na verdade Fudo-Myo simboliza o lado guerreiro de cada um.
O fogo que envolve  Fudo-Myo simboliza o interior do ser humano que queima, porém sem ser qualquer sentimento nefasto, representa a pureza do espírito, ou podemos até dizer que é a essência do homem.
No seu rosto e corpo transparecem as emoções negativas, todavia, são para destruir vibrações negativas. Cultuando-o, você estará protegido dos males espirituais, das invejas, dos rancores e de outras energias negativas.
A espada em sua mão direita é a imposição da lei universal e da proteção. A corda na mão esquerda simboliza a liberdade, pois com Fudo-Myo nos libertamos de pensamentos negativos e assim nos tornamos livres.
Para os praticantes de artes marciais, Fudo-Myo é o reflexo de nosso maior oponente, nós mesmos. Para dominar os outros é necessário antes de tudo saber se dominar.
No mundo atual, o ser humano, cada vez mais vai perdendo sua origem e com ela, a dignidade e o respeito. A fé, a crença em um ser supremo está se distanciando cada vez mais. Pobres homens! Se soubessem que tudo neste mundo é transição, que tudo nos é emprestado, o nosso corpo, até a nossa vida!
Tanto o nosso corpo como a nossa mente devem ser tratados como um prédio em construção, onde o pilar mestre é a nossa consciência, apoiados com as vigas do saber e do treinamento.
Assim deve ser interpretado Fudo-Myo."

domingo, 14 de novembro de 2010

Entrevista com Hiroshi Tada

por Stanley Pranin


Aikido Journal #101 (1994)

Traduzido por Christiaan Oyens




Hiroshi Tada, 9º dan




AJ: Sensei, é verdade que o senhor começou a prática do aikido depois de ingressar na universidade de Waseda?


Tada Sensei: Sim, por causa da guerra não foi possível me inscrever no dojo até março de 1950.

Soube que o senhor treinou primeiro karate ao ingressar na universidade e só depois se sentiu atraído pelo aikido…


Na verdade não treinei muito karate, se bem que tenho um grau de dan. A princípio praticava ambas as artes, mas eu comecei a dedicar mais tempo ao aikido e ficou impossível de treinar as duas artes. Não é que eu tenha achado uma arte melhor que a outra, a questão era que admirava tanto Morihei Ueshiba Sensei. Eu o conhecia desde a minha infância.


Em 1942, eu estava em Shinkyo (hoje em dia Chan Chun, Manchuria), mas tinha acabado de perder a apresentação de Ueshiba Sensei na famosa Décima Exibição de Artes Marciais da universidade de Kenkoku. Meu primo, que é um ano mais velho do que eu, me disse que foi uma demonstração fantástica. Aparentemente quase ninguém conseguia receber ukemi de Ueshiba Sensei. Não estavam apenas sendo arremessados, era como se estivessem sendo eletrocutados por uma grande descarga elétrica.


Na quarta edição do Aikido Tankyu [uma publicação do Aikikai Hombu Dojo] o senhor escreveu que se sentia surpreso e impressionado pelos pensamentos inusitados de Ueshiba Sensei.


Eu tinha vinte anos ao ingressar no dojo e Sensei tinha sessenta e sete, uma diferença de uns quarenta e sete anos. Mas ele me arremessava com tanta facilidade, mesmo quando o atacava com toda força, que nesse sentido não se notava qualquer diferença de idade entre nós. Hoje acho isso compreensível, é claro.


De qualquer maneira, ele tinha uma presença singular e era repleto de uma energia incomum. Eu senti que tinha encontrado um verdadeiro especialista nas artes marciais.


O fundador do aikido Morihei Ueshiba arremessando Tada, c. 1958


Ingressou no Tempukai na mesma época que começou o aikido?


Quando ingressei no Hombu Dojo, a maioria dos praticantes eram membros do Tempukai ou do Nishikai. Claro que naquele momento só tinham seis ou sete pessoas no dojo. Entre eles estavam Keizo Yokoyama e seu irmão mais novo, Yusaku, ambos sendo estudantes da universidade de Hitotsubashi. Yusaku passou os últimos dias da guerra na academia naval e entrou na universidade após o termino da guerra. Foi ele que me apresentou ao Tempukai e ao Ichikukai. Depois outra pessoa me ensinou sobre os exercícios de jejum. Estas práticas, associadas aos ensinamentos de Morihei Ueshiba Sensei, formaram a base do meu treinamento.


Fui apresentado ao Tempukai em Junho do mesmo ano que ingressei no Aikikai. Tempu Nakamura Sensei ministrava reuniões de estudo mensais no Templo Gekkoden de Gokokuji. Igual ao Aikikai, o Tempukai pouco fazia para se promover publicamente e as pessoas se ingressavam no Tempukai ao serem apresentadas por outros membros. Eu conheci Tempu Sensei e depois de ouvir o que ele tinha a dizer, aderi imediatamente.


Tempu Nakamura (1876-1968)


Ueshiba Sensei e Tempu Sensei se conheciam pessoalmente?


Sim. Foi antes de eu ter entrado no dojo, mas parece que tinham sido apresentados já há algum tempo pelo pai de Tadashi Abe, que era tanto um membro do Tempukai como aluno de Ueshiba Sensei. Inicialmente, o Tempukai era conhecido como Toitsu Tetsuigakkai (Sociedade Para o Estudo da União entre Medicina e Filosofia), e seu foco era a união entre mente e corpo. Eu participei de várias experiências do Tempu Sensei, então tive muito contato com ele.


Por quanto tempo foi membro ativo do Tempukai?


Até a minha ida para a Europa em outubro de 1964. Tempu Sensei faleceu em dezembro de 1968. Durante os meus seis anos na Europa, Morihei Ueshiba Sensei e Tempu Sensei, como o meu avô também, todos faleceram.


Ouvi falar que Tempu Sensei era um especialista com a espada.


Sim, ele era um expert em Zuihen-ryu battojutsu. Ele criou seu nome, Tempu, dos caracteres chineses “ten” e “pu” usados para escreverem a forma de Zuihen-ryu’s amatsukaze, algo em que ele era extremamente versado. Tempu Sensei era descendente do lorde Tachibana, o daimyo em Yanagawa. As artes marciais eram tão populares em Yanagawa quanto para o clã Saga de Kyushu, cuja reputação foi aclamada no livro intitulado: Hagakure [um texto clássico sobre o bushido, ditado por Tsunetomo Yamamoto em 1716]. O conteúdo singular das palestras de Tempu Sensei se dava pelo fato de ele falar mais de suas próprias experiências do que valorizar qualquer processo intelectual. Ueshiba Sensei agia da mesma forma. Idéias geradas no plano intelectual não têm o mesmo poder para atrair as pessoas.


Fale-nos, por favor, sobre o Ichikukai?


Um senhor chamado Tetsuju Ogura, era um dos últimos uchideshi de Tesshu Yamaoka. Durante o período Taisho, alunos e seguidores de Ogura junto com membros do clube de barcos de corrida da Universidade Imperial de Tókio (hoje Universidade de Tókio) criaram uma sociedade que praticava o misogi (ascetismo, rituais de purificação). Foi sob a direção de Masatetsu Inoue. No começo, o Ichikukai se congregava no dia 19 de cada mês, em comemoração à morte de Tesshu Yamaoka, falecido 19 de Julho, por isso o nome Ichikukai [ichiku em Japones significa “1 e 9,” i.e., 19].


Quando ingressei as reuniões aconteciam num dojo da era Taisho em Nogata-machi, Nakano. De quinta-feira a domingo nos sentávamos em seiza durante umas dez horas por dia, entoando uma passagem de um norito (prece Shinto), nos entregando completamente a esta tarefa. Era algo semelhante a recitar um mantra. Depois de passar por esta iniciação você se tornava um membro, aí podia freqüentar os encontros que ocorriam uma vez por mês, aos domingos. Ali eles faziam um exercício cântico chamado ichiman-barai, que consistia em tocar um sino de mão dez mil vezes. O som do sino não fica claro e pronunciado até o movimento da mão se tornar automático. Nas minhas aulas de aikido muitos dos meus alunos avançados fazem essa pratica.


O senhor treinou com o ken ou jo?


Houve um período em que O-Sensei ficava furioso com os alunos no dojo que tentavam treinar como o ken ou jo, e ele os proibia de usarem esta pratica. Porém, mais tarde ele começou a ensinar essas técnicas. Na minha infância eu tinha praticado arco e flecha japonesa que era tradição na minha família. Também pratiquei kendo no colégio. Isto foi durante a guerra, então não era uma disciplina esportiva. Depois quando comecei a treinar aikido eu praticava balançando o ken contra uma arvore perto da minha casa.


Treinamento individual é importante não importa a arte que você pratique. Você deve criar seu próprio programa de treinamento, começando por corrida. Aos vinte anos, e aos trinta também, eu me levantava todas as manhãs às 5:30 e corria uns quinze quilômetros. Após a corrida eu ia para casa e treinava golpeando com um bokken (espada de madeira) um monte de galhos amarrados. Naqueles tempos as casas em Jiyugaoka eram bem mais afastadas, então eu podia fazer barulho à vontade. Treinava usando a forma Jigen-ryu que tinha aprendido com O-Sensei em Iwama. Dizem que antigamente os guerreiros de Satsuma [em Kyushu] golpeavam trouxas de galhos dez mil vezes todos os dias, mas eu só conseguia umas quinhentas vezes, na melhor das hipóteses. No início, minhas mãos ficavam dormentes, mas depois de um tempo eu conseguia golpear uma arvore grande sem problemas. Fiz com que os meus alunos nas universidades de Waseda e Gakushuin treinassem desta forma. Acho este treino, um dos melhores para o aikido.


É claro que não é bom usar força física excessiva. Apenas segure o bokken, ou até um pedaço de pau feito de madeira verde suavemente e aperte com o dedo mindinho e o quarto dedo na hora do impacto. Será desenvolvida naturalmente a velocidade e a habilidade de apertar os dedos fechados corretamente. Este tipo de prática suave é importante, porque se você pratica usando força o tempo todo, você poderá acabar arremessando e aplicando as técnicas nas articulações com demasiada força, e isto pode ser perigoso.


Em Lido, Venezia, Itália, 1968


É lamentável que o espaço limitado nos nossos dojos modernos não permita mais este tipo de treinamento. Eu gostaria de aos poucos reorganizar as coisas a fim de tornar estes treinos mais accessíveis.


O que acabo de descrever é uma forma básica de praticar golpes, mas o trabalho dos pés, o movimento das mãos e o desenvolvimento de ki através de kokyuho são os elementos importantes do treinamento individual.


O senhor estudou Morihei Sensei e planejou seu método de treinamento baseado no que observou?


Sim. É muito importante observar o treinamento pessoal de seu professor nos mínimos detalhes e aprende-lo bem; caso contrário, você poderá tirar conclusões erradas e precipitadas e acabar perdendo seu tempo com treinos equivocados e sem sentido. De qualquer forma, você precisa revisar o que o seu professor lhe ensinou e criar algo que dê continuidade a estes ensinamentos, aí você deve praticar isto de novo e de novo até conseguir fazê-lo. Assim você criará seu próprio método de treinamento.


Eu acho que se você deseja se tornar um especialista no que faz – seja isto um tipo de arte marcial, esporte, algum tipo de arte ou o que for – você deve treinar pelo menos duas mil horas por ano quando você estiver com entre os vinte e quarenta anos. Isto significa cinco ou seis horas por dia. Depende de cada pessoa, mas a maioria do tempo será investida em treinamento individual. Depois de treinar só, você pode ir para o dojo para confirmar, experimentar e trabalhar tudo o que você adquiriu.


Usar uma arvore como seu parceiro num treino de aikido é uma excelente maneira de treinar com vigor porque você pode golpear com muito mais força do que se o seu parceiro fosse um ser humano. Não é apropriado treinar com força excessiva quando seu parceiro é uma pessoa, você deve usar esse tempo para desenvolver linhas corretas, limpas e afiadas.

O Ueshiba Sensei chegou a falar com o senhor sobre Daito-ryu ou Onisaburo Degushi?


Ueshiba Sensei falava sempre com muito respeito sobre seus professores, incluindo Takeda Sensei e o reverendo Onisaburo Degushi. O que me lembro claramente sobre seus discursos a respeito do Daito-ryu, é que ele o considerava um excelente método de treinamento. Após seus treinos, O-Sensei retornava com freqüência para o dojo e conversava sobre diversos assuntos.


Soube que Ueshiba Sensei falava sobre religião, especificamente sobre a religião Omoto…


Sim, e às vezes eu entendia perfeitamente o que ele estava dizendo, enquanto outras vezes me deixava completamente confuso. Mas ele também nos disse, “Isto é apenas a minha maneira de falar, eu quero que cada um de vocês interprete o que digo da sua própria maneira, explorem isto profundamente e transmitam isto em palavras apropriadas para os novos tempos”.


O aikido é mais proveitoso para a humanidade do que se possa crer, mesmo sob a ótica de alguém como eu que se especializa em aikido. Em 1952, após a minha formatura da universidade, todos os meus amigos ficaram surpresos com a minha decisão de me especializar em aikido, provavelmente porque foi tão perto do fim da guerra. Mas para mim, o aikido de Ueshiba Sensei abrange toda a essência da cultura japonesa e eu enxergava nesta arte algo que poderia ser muito importante para o Japão no futuro.


Na verdade, o aikido parece ter se estabelecido com mais solidez na Europa do no que no Japão. De qualquer maneira, para começar algo do zero, dentro de um novo contexto cultural, o treinamento de aikido se torna impossível sem uma clara compreensão do que seja o aikido e quais sejam suas metas de treinamento. Sem estes requisitos, seria como pular num trem sem saber sua direção ou destino. Em outras palavras, é importante traçar uma direção clara para os treinos de aikido desde o inicio. Quanto a decidir sobre métodos de treinamento, seria impraticável pedir a pessoas que querem treinar duas a três vezes por semana que treinem da mesma forma que as pessoas que querem treinar várias horas por dia. Parece-me adequado que cada um treine dentro do contexto de seu dia a dia. Porém, aqueles que desejam se tornar especialistas ou que querem explorar o aikido profundamente, precisam traçar um plano de onde estão indo e como irão fazer para chegar lá.


No All Japan Demonstration


Não posso dizer o que é certo ou errado sobre métodos de treinamento. A maioria dos artistas marciais não está numa posição de ficar criticando as técnicas dos outros, pois em muitos casos, uma pessoa que aparenta ser fraca pode acabar demonstrando uma força extraordinária.


Poderia nos contar sobre sua organização na Itália?


O nome official do Itália Aikikai é L’Associazione di Cultura Tradizionale Giapponese (Associação de Cultura Tradicional Japonesa), e é reconhecida como uma organização oficial pelo Ministério da Cultura Italiano. Como o nome sugere, o aikido é praticado ali como uma forma de cultura tradicional. É evidente que o que eles fazem ali é diferente de qualquer prática esportiva. Acho que seria difícil para um japonês morando no Japão entender esta situação. Ou seja, eles praticam o aikido como uma forma de “meditação em movimento”. Em paises como Itália, Suíça e Alemanha, a frase “ki no renma” (cultivação do ki) está sendo usada no seu sentido original, em japonês.




fonte: http://www.aikidojournal.com/article?articleID=88&lang=br


terça-feira, 2 de novembro de 2010

nomes posição bokken

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sábado, 30 de outubro de 2010

Um olhar de senso comum para o Aikido

por Yoshio Kuroiwa

Aiki News #66 (February 1985)

Traduzido por Jefferson Bastreghi

Como não há competições no Aikidô, nós devemos avaliar cuidadosamente a natureza de nossa prática. O lado espiritual da prática também é importante, mas se nós o enfatizarmos demasiadamente, o nosso treinamento se tornará idealista por natureza e o aspecto realista será negligenciado. “Kata” (forma) e “waza” (técnica) devem ser corretamente reconhecidos na prática.

De Kata para Waza

Kata deveria ser praticado seguindo certa ordem ou método pré-arranjado, o qual é baseado numa relação racional (rial). Desta forma, nós não estamos caindo porque estamos sendo arremessados, mas sim praticando um kata que foi criado para sermos arremessados. Quando nós dominamos um movimento racional (kata), ele é expresso como um movimento natural (waza). Isto é, se você se torna hábil a executar um kata espontaneamente como resultado de prática repetida, você não está mais executando um kata e sim um waza. Nós aprendemos através do kata e nos tornamos inconsciente do fato. Em outras palavras, enquanto os movimentos necessitam de nossa atenção, eles são kata, quando os kata se tornam espontâneos, eles se tornam waza.
Nós praticamos inicialmente os kata básicos (kihon waza, técnicas básicas) para aprender os movimentos do Aikidô. A base é o padrão (o modo de ver e pensar) e uma perspectiva de senso comum para corretamente observar as coisas. Nós devemos entender a essência dos kata, não a aparência exterior dos mesmos.
Por exemplo, em um quebra-cabeça envolvendo peças de madeira que se encaixam, sabemos o lugar (estabilidade) de cada peça entendendo sua forma e natureza. Do mesmo modo, nós podemos expressar kata, os quais são comuns a todas as pessoas, mostrando as partes básicas comuns da estrutura do corpo humano (por exemplo, pontos como os cotovelos só se dobram para dentro) e devemos usar estas partes básicas racionalmente. Pode parecer exagerado usar os termos “racional” ou “lógico”, mas estes conceitos são somente um assunto de senso comum e não precisam de explicação.
Enquanto persistirmos em ver kata superficialmente, nós iremos começar a pensar que eles são de importância especial. Não podemos, sistematicamente ou racionalmente, explicar qualquer kata meramente aprendendo de uma maneira repetitiva sem um entendimento do porquê certos kata são considerados básicos. O que nós adquirimos aprendendo só repetitivamente é a preservação da forma (a transmissão da forma externa) e não a habilidade de criar (compreensão da essência do kata). Em outras palavras, nós não entendemos o quê estamos fazendo.
Base não é algo a ser praticado, mas a ser entendido. O que ela demonstra é a mecânica de como desequilibrar um oponente e criar uma oportunidade para a aplicação da técnica. Se você entende isso de forma errada significando liderar e guiar, irá passar a acreditar que alguém pode liderar o seu oponente circularmente. Isto acontece porque estamos inconscientes do fato de que liderar um parceiro circularmente implica em separação e não notamos que a prática é uma expressão de yin e o uso do poder em Aiki envolve empurrar.

Kata: Uma ferramenta para o treinamento

Nos treinamentos nós praticamos muitas técnicas, mas elas são todas variações de uma posição única. Por esta razão, ikkyo, shihonage e outras técnicas são a mesma coisa. A razão pela qual elas parecem diferentes é porque somente a aparência externa delas é vista. Kata são a expressão de um número de variações através de movimentos a partir de uma única posição e são nada mais do que uma ferramenta para treinar o corpo a se mover livremente. A idéia que um é todos e todos são um não é somente uma matéria espiritual. Isso é válido para nossos corpos também.
Não é que haja um método diferente dependente da técnica, por exemplo, ao dizer que ikkyo é praticado de um modo e tal e tal técnica de outro modo. Elas são todas manifestações de um único movimento. Podemos dizer que praticamos vários kata a fim de entender um único movimento original. Não é que ikkyo e shihonage têm valor como técnicas básicas. Nós as praticamos somente como meios convenientes de entender o yin e o yang de uma posição (fundamental).
A prática do Aikidô é uma prática yin. Usando Judô como um exemplo, é muito mais a prática com parceiro do que randori (prática livre). Prática yin representa primariamente uma seqüência de prática combinada. Desta forma, a mudança no treino da recepção do ataque à aplicação da técnica é somente possível onde existe uma diferença em habilidade. Quando a habilidade de um oponente é superior, isto não é possível. Este é um ponto-chave na prática.
Waza (movimento natural) são expressados de acordo com o nível da pessoa e a essência dos mesmos (técnicas) é manifestada diferentemente a cada vez. Isto se dá porque o que nós naturalmente possuímos (nossa habilidade como é posta para fora através da prática repetida) é expresso através de certas relações (formas).

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Uma vida de Aikido (03) última parte

por Gozo Shioda

Aiki News #74 (April 1987)

Traduzido por Jefferson Bastreghi

Capítulo Cinco: Fundamentos do Aikidô

Fundamentos são importantes para qualquer coisa. Fundamentos são importantes especialmente no Aikidô. Eu venho repetindo muitas vezes que não é um exagero dizer que o Aikidô se resume a fundamentos. Permita-me falar sobre esses fundamentos.

(1) Um coração puro

Quando praticar, você tem que excluir todos os outros pensamentos da sua mente e alcançar um coração puro. Você repete cada técnica com um estado vazio da mente. Compreender este estado vazio da mente é mais difícil do que você pode imaginar. Por isso, no início, você deve fazer um esforço consciente para remover todos os outros pensamentos da sua mente. O processo é o mesmo que compreender um estado espiritual de abnegação perfeita enquanto senta em meditação. Através de esforço repetido para atingir este estado vazio da mente, algum dia você irá inconscientemente atingir este objetivo. É então que você terá atingido um coração puro. Enquanto você estiver consciente de seu objetivo, você ainda não terá atingido este estado. Pode levar bastante tempo para atingir este objetivo. Este é um primeiro passo importante no seu treinamento. Se os fundamentos são a essência do Aikidô, isto pode ser considerado como o primeiro estágio dos fundamentos.

(02) Calma no movimento

No zen nós buscamos um estado de calma estando inativos, mas no Aikidô nós tentamos atingir este estado em ação. As técnicas do Aikidô naturalmente incluem movimentos. Contudo, em movimento, você nunca deve perder o espírito de coração puro, mas sempre manter um estado mental normal.
No Aikidô você se move de acordo com o movimento do seu oponente. Você não vai contra o poder dele, mas sim você drena este poder para você. Às vezes, você controla seu oponente somente guiando o poder dele ou adicionando seu próprio poder ao dele, o qual você já absorveu.
Se, durante o seu movimento, você perde o seu espírito de coração puro, você irá perder visibilidade do movimento do seu oponente e o fluxo do poder dele. Isto irá resultar em um choque entre você e ele ou numa falta de sintonia no seu movimento que irá acabar destruindo a eficiência da técnica. Se você é mais poderoso que o seu oponente, você poderá acabar o imobilizando. Entretanto, você terá que derrotá-lo com força e não com Aikidô. Somente quando há paz nas suas ações, você será capaz de ver bem os movimentos do seu oponente e o fluxo do seu poder.
Eu freqüentemente vejo situações onde uma pessoa aplicando uma técnica no seu parceiro pensa que sua técnica está correta, mas falha em executá-la com sucesso. Isto se deve ao fato que ele está colidindo com o movimento ou fluxo de poder do seu parceiro em algum ponto. Um desejo crescente de derrotar o oponente resulta em uma perda de compostura e a inabilidade de vê-lo com um estado mental puro.
Quando eu era um iniciante, um graduado uma vez agarrou minha mão fortemente e eu tive problemas tentando me mover para aplicar uma técnica. Ueshiba Sensei me viu me esforçando bastante e então me disse: “Shioda, você deveria ser capaz de fazer melhor do que isso. A razão pela qual não consegue se mover é que você está somente prestando atenção no seu braço e colocando muita força nele. Se você olhar para os olhos dele, verá o todo e isto irá facilitar a aplicação da técnica.” De fato, eu estava somente prestando atenção no meu braço enquanto tentava arremessá-lo. Em outras palavras, além de falhar em ver o fluxo da força do meu oponente, eu também estava levantando meu centro de gravidade. Eu não percebia que a minha habilidade para concentração, a qual pode ocorrer somente quando o nosso corpo todo está unido, estava perturbada.
Eu então compreendi o significado das palavras de Ueshiba Sensei, isto é, se você encarar os olhos do seu oponente com um coração puro, isso irá ajudá-lo a vê-lo como um todo e saber a direção do fluxo da força dele. Ao mesmo tempo, você irá ver a sua própria reflexão como um todo nele. Desde então eu criei uma regra de me lembrar das palavras dele e o objetivo de treinamento que elas representam toda vez que eu pratico. O-Sensei nunca ensinou técnicas no modo passo-a-passo. Ele nos dizia para praticarmos muito e também freqüentemente nos dizia para “aprender técnicas e esquecê-las”. Isto significa que você aprende artes marciais não com o cérebro, mas sim com o corpo. Entretanto, eu acredito que há algo mais importante nas palavras dele. Se você encara o seu oponente com um coração puro, você irá começar a ver tanto ele quanto você mesmo muito claramente. Este coração puro se refere à uma atitude mental ou estado psicológico antes de praticar as técnicas. Nós devemos também aprender este importante fundamento instintivamente. Deste modo, até mesmo se o seu oponente está segurando uma arma, como por exemplo, uma faca, uma espada ou um bastão ou se há muitos oponentes, não há necessidade de se apavorar. Aqui está um poema relevante de Ueshiba Sensei:
“Quando cercado por uma floresta de lanças
Saiba que seu espírito é o seu escudo.”

(3) Quando enfrentar um inimigo, una-se a ele

Kiichihogen, um lendário personagem, é suposto ter dito as palavras acima. Aikidô é uma arte marcial onde unimos nosso ki com o dos nossos oponentes. Em outras palavras, você não briga contra o seu oponente. Se ele empurra você, você não o empurra de volta. Se ele o puxa, não o puxe de volta, harmonize-se com ele. Isto também é um dos princípios importantes do Aikidô. Também vale dizer que você não pode se harmonizar com seu oponente sem um coração puro como eu mencionei anteriormente. Harmonia é conformidade, não compromisso. União com seu oponente cria um fluxo único de movimento, que não é colisão. Desta maneira, você pode aplicar uma técnica sem usar força desnecessária. É por isto que mulheres, crianças e pessoas mais idosas sem força física podem continuar a praticar Aikidô.
Como o Aikidô não é uma arte marcial onde você inicia um ataque, mas sim uma arte de defesa pessoal, você pode se harmonizar com seu oponente de acordo com o modo como ele te aborda. Devido ao fato de seu oponente ser precedido pelo fluxo da força dele, você pode guiar o movimento dele para dentro do seu a fim de aplicar uma técnica.
Desta maneira, você e seu oponente se unem para criar um fluxo único. Por isto, quando algumas pessoas que não conhecem Aikidô vêem uma demonstração executada por praticantes experientes, eles suspeitam da arte e acreditam que tudo é combinado. Entretanto, se eles começam a praticar Aikidô, eles irão perceber mais tarde que a impressão deles sobre a arte estava incorreta.

sábado, 23 de outubro de 2010

pensamentos....




Matias. Academia central. disse...




- "Não tem certo ou errado. Tem bonito e feio". 
Com esta frase Kawai sensei explicava as diferenças técnicas de cada professor.
Nos resta seguir o exemplo deste grande líder agregador não deixando nosso ego se inflar na medida em que vamos nos graduando. É uma tendência natural reconhecermos como correto o que estamos acostumados a ver e fazer(proteger o que é nosso). Por outro lado posso afirmar que é uma visão tendenciosa e ou apenas uma expressão de nossa arrogância.
Matias.-Ac Central.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Uma Vida de Aikido (02)

por Gozo Shioda

Aiki News #73 (December 1986)

Traduzido por Jefferson Bastreghi

A seguinte tradução da autobiografia em língua japonesa intitulada “Aikido Jinsei” (Uma vida de Aikidô) por Gozo Shioda Sensei do Yoshinkan Aikidô é publicada com as gentis permissões do autor e do editor, Takeuchi Shoten Shinsha. A série teve início em Aiki News nº 72.

Capítulo 3: O Aikidô é um Budô de Harmonia

Você não pode dizer que nunca irá encontrar situações onde o mais forte ameaça o mais fraco ou onde alguém age de uma maneira injusta ou onde você mesmo é exposto ao perigo. Se você alguma vez se encontrar numa situação deste tipo, você poderia certamente controlar o oponente usando o Aikidô que você aprendeu. Entretanto, você nunca deveria perder sua calma devido ao ódio pelo inimigo. Se isto acontece, você irá perder seu estado de pureza mental, que é importante no Aikidô e não será capaz de executar técnicas adequadas. Você pode sofrer uma derrota não esperada ou, pelo contrário, pode chegar ao extremo enquanto defende a si próprio, o que resulta em uma situação infeliz para você e seu inimigo. Você não deveria se esquecer que Aikidô é um budô de harmonia. Considerando que tenho 1,56m de altura e peso somente 50 quilos, eu sou freqüentemente provocado em discussões. Nestas situações eu sempre tentei sair com alguma piada e evitar cair em confusão sempre que possível. Entretanto, houve vezes onde eu tive que lidar com tais situações.

Um homem bêbado cai em um lago

Eu comecei meu dia levantando às 5 da manhã e fui passear com meus cachorros. Às vezes eu passeio de bicicleta e às vezes eu corro. Um dia eu estava andando em volta de uma lagoa no Parque Shakuji, próximo à minha casa. Um grande homem se aproximou de mim. Pareceu que ele tinha bebido de manhã e ele se comportava de uma maneira estranha. Quando ele se aproximou eu tentei evitá-lo passando pela direita, mas ele se moveu para o mesmo lado, como se para me bloquear. Quando eu mudei para a esquerda, ele também se moveu para a esquerda. Logo ele veio como se fosse se chocar comigo e de repente tentou me agarrar pelo colarinho. Como não havia nada mais que eu pudesse fazer, eu me livrei de sua mão levemente e tentei continuar andando. Então eu ouvi um barulho de água e o homem desapareceu. Ele caiu no lago. Eu estava um pouco surpreso e fui para a beirada do lago e perguntei se ele estava bem. O homem estava tentando sair do lago, colocando suas mãos na borda. Quando eu dei uma boa olhada nele, eu vi que ele tinha uma alga na cabeça, o que fazia com que ele parecesse um duende d’água (kappa). Eu me senti um pouco culpado por não ser capaz de reprimir minha risada e ofereci minha mão e o tirei de lá. Eu estava aliviado por saber que ele não estava ferido, mas ele, por outro lado, não gostou do que aconteceu e deixou o lugar sem uma palavra.

Desafiado para uma disputa por um professor de Karatê

Não há nada que eu possa fazer sobre ser muito pequeno, pois eu nasci assim e as pessoas provavelmente pensam que podem facilmente me superar. Embora isso tem sido um aborrecimento, às vezes eu costumava ser desafiado para uma disputa.
Um dia, um professor de karatê 6º dan veio ao dojô introduzido por um conhecido e me desafiou para uma disputa. Eu relutantemente aceitei o seu desafio. Quando eu fiquei parado na frente dele no centro do dojô, ele repentinamente me atacou com um “Shokentsuki”. No momento que ele atacou, eu recebi seu golpe com a palma da mão e me harmonizei com seu pulso. O professor passou voando por mim, porque o momento do seu ataque e o meu movimento se combinaram perfeitamente. Desde aquele incidente, eu tenho relações amigáveis com ele.

Brincadeira Maliciosa de Soldados de Ocupação

O incidente seguinte ocorreu logo após a guerra. Naquela época, minha casa era localizada em Tokorozawa. Eu estava no caminho para casa no último trem da Linha Seibu, a qual naqueles dias era ainda chamada de Linha Musashino. Dois soldados de ocupação bêbados entraram neste trem. Era a época em que o Exército de Ocupação reinava e casos de comportamento intolerável de soldados eram comuns. Os soldados no trem estavam se divertindo em cutucar as cabeças ou tocar os narizes dos japoneses. Entretanto, ninguém os parava e as pessoas sofriam o insulto de cabeça baixa. Logo um dos soldados veio até mim e tentou bater na minha bochecha com sua mão direita dizendo “Papa-san”. Eu agarrei sua mão levemente com minha mão esquerda. Então ele tentou fazer o mesmo com sua mão esquerda. Eu a agarrei com minha mão direita e executei o que nós chamamos de técnica yonkajo firmemente com as duas mãos. O grande homem caiu de costas no chão. Infelizmente para ele, havia uma camada de óleo no chão de madeira. Sua face e roupas se tornaram negras como carvão e ele pareceu bem miserável. Os soldados devem ter realmente se surpreendido com isto, porque eles ficaram quietos. Eu ainda me lembro o olhar de deleite de todos os passageiros japoneses.

Mulher japonesa violentada por soldados de ocupação

Nos dias que se seguiram à guerra, os japoneses em geral se encontravam em um estado de letargia e você nada podia fazer sobre o Exército de Ocupação. Até a polícia japonesa teve trabalho em lidar com eles. Eu gostaria de relatar um incidente onde eu testemunhei, por acaso, um incidente de comportamento violento. Isto ocorreu no dia de Ano Novo em 1947. Naquela tarde, o sol estava ainda alto e eu estava no meu caminho de volta de uma visita à casa de meus parentes após estender meus cumprimentos de ano novo. Quando me aproximei da estação Ebisu, eu vi um grupo de pessoas de pé ao redor de um posto policial. Eu também fui espiar devido à curiosidade e vi uma jovem dona de casa chorando em frente a um policial. Juntando as estórias que ouvi, ela parecia ter sido violentada por um soldado negro numa rua próxima. Eu pensei que ser um soldado de ocupação não era pretexto para tal ato e disse ao policial que ele deveria prendê-lo imediatamente. O oficial de polícia olhou perplexo e estava relutante em interferir em tais assuntos. Entretanto, até mesmo se ele fosse um soldado americano, tal ato não deveria de modo algum ser permitido. Então, eu disse a ele: “Eu vou pegá-lo. Por favor, chame a polícia militar imediatamente”. O policial olhou duro para mim e disse, “Você? É impossível. Melhor você não fazer isso!”. Ele me parou por bondade, mas eu saí rapidamente apesar de seu conselho. Então, eu ouvi o estampido de uma arma. Quando olhei na direção do tiro, eu vi um dos seis soldados negros segurando sua arma sobre sua cabeça por diversão e ameaçando pessoas ao redor dele. Transeuntes estavam todos assustados e em pânico, alguns deles correndo para uma loja próxima para se esconderem. Eu andei em direção ao homem, pouco a pouco. Talvez ele tenha pensado que eu era apenas uma criança e deu as costas para mim. Eu aproveitei a chance e dei uma pancada nas suas costas com minha cabeça. No instante que ele virou, eu o golpeei repetidamente com o lado da minha mão com toda minha força enquanto pulava próximo a ele. Enquanto ele estava desorientado, eu arranquei a arma de sua mão e a joguei longe. Então eu apliquei um shihonage e o joguei no chão. Naquela hora, um jipe da PM veio com a sirene apitando de longe. Como poderia se esperar, os soldados ficaram impotentes contra os PM´s e foram levados antes que pudessem fugir.
Então eu retornei para o posto policial. A atitude do oficial de polícia a meu respeito mudou completamente e ele até mesmo usou uma linguagem mais formal. Entretanto, a jovem mulher ainda estava chorando, dizendo que ela não poderia voltar para casa. Então eu a confortei e a levei de volta para a casa dela. Eu disse a seu marido, que veio até a porta, que sua esposa havia caído num fosso e sujado seu kimono e disse que eu tinha me preocupado com ela e a levado para casa. Seu marido ficou muito agradecido pelo que eu havia feito e me convidou para entrar. Eu foi tratado com “arroz prateado”, isto é, arroz branco, o que você não podia comer freqüentemente naqueles dias, servido por sua esposa que já tinha então retomado sua compostura. Então eu fui para casa.
parte 2 de 3 partes

domingo, 17 de outubro de 2010

Novo grupo de Aikido Soshin Dojo nas Gemeas do Iguaçu

Aikido Soshin dojo em União da Vitória
Rua Castro Alves ao lado da Antiga Refrigeração Iguaçu
Treinos 3ª e 5ª da 19:00 as 20:30
Informações com  Alvir Cordeiro Jr 
fone: 42 8835-6870

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Uma vida de Aikido (01)

por Gozo Shioda

Aiki News #72 (September 1986)

Traduzido por Jefferson Bastreghi

Os capítulos seguintes de Aikido Jinsei (uma vida de Aikidô), a autobiografia de Gozo Shioda Sensei, são reproduzidos com as gentis permissões do autor e do editor, Takeuchi Shoten Shinsha.

Tomo Um: Yoshinkan Aikido

Capítulo 1: Os fundamentos da prática Yoshinkan

O nome do meu dojô, “Yoshinkan”, é o mesmo que o meu pai, que amava o budô, usou quando ele construiu um dojô em sua propriedade. Eu continuei a usar aquele nome desde então em sua memória. O Sr. Todo Kato, meu avô por parte de mãe, tirou este nome dos caracteres contidos na frase “Gu o mamori kokorozashi o utsusazu mokumoku toshite sono kami o yashinau” (Cultive seu espírito silenciosamente, nunca esquecendo que você não é nada além de um tolo) do poema entitulado Saikontan. Esta é a origem do nome.
Eu freqüentemente ouço pessoas dizerem que o dojô Yoshinkan é uma escola dura. Eu acredito que há um desentendimento a respeito desse ponto. Entre aqueles que praticam Aikidô há aqueles que desejam se tornar mestres na arte ou desenvolver suas mentes e corpos através do Aikidô, e aqueles que querem praticar somente para melhorar sua saúde. Há homens e mulheres jovens, crianças e também pessoas mais velhas. Mas, em todos os casos, estudantes do Yoshinkan têm que praticar repetidamente a fim de dominar os fundamentos do Aikidô. Eles podem usar músculos que eles não têm usado por um bom tempo ou descobrir movimentos do corpo que eles nunca fizeram antes. Tais pessoas podem experimentar um pouco de dor até eles se acostumarem com tais coisas. Entretanto, Aikidô sem fundamentos corretos não é Aikidô. Se você praticar casualmente somente porque parece mais fácil deste jeito, você não irá obter sucesso em melhorar suas técnicas ou saúde. Desde que é impossível exagerar em dizer que o Aikidô se resume ao básico, nós somos rigorosos em nossa instrução até mesmo com iniciantes, a fim de permitir que eles adquiram a base técnica desde o início.
É importante para aqueles que querem se tornar peritos ou aperfeiçoar seu Aikidô, adquirir um total domínio dos fundamentos. Quando você se posiciona contra um oponente, aplica técnicas ou mantém seu foco de atenção após uma técnica (zanshin), estas habilidades são todas construídas sobre um entendimento dos fundamentos e são necessárias a fim de derrotar um oponente forte. Eu irei explicar a seguir quais são os fundamentos do Aikidô, mas neste momento é suficiente dizer que conforme você se torna mais experiente, você é capaz de produzir força surpreendente até mesmo em movimentos rápidos, se você naturalmente dominou os fundamentos.
O-Sensei Ueshiba disse, “No Aikidô, vencedores e perdedores são decididos em um instante.” Isto é de fato verdade. A menos que você supere seu oponente com um simples golpe, você não pode chamar sua arte de “budô”. Somente quando você se apóia nas bases, você pode derrotar seu oponente com um simples golpe.

Capítulo 2: O desenvolvimento de habilidade real não tem nada a ver com lutar em competições

Não há forma de competição no Aikidô. Nós executamos as técnicas e quedas em revezamento enquanto praticamos repetitivamente. Por causa disto, algumas pessoas jovens sentem-se insatisfeitas e reclamam que eles não podem medir sua evolução sem competição.
Eles podem se sentir assim particularmente por causa da extrema popularidade dos esportes e estão acostumados com situações onde vencedores e perdedores são decididos através de competições. Nos esportes existem certas regras acordadas. É por causa disto que competições são realizadas e vencedores e perdedores podem ser determinados. Entretanto, Aikidô não é um esporte, mas sim um budô. Ou você derrota seu oponente, ou ele derrota você. Você não pode reclamar que ele não seguiu as regras. Você tem que superar seu oponente de um modo apropriado a cada situação.
Quando eu era jovem, eu sabia meu nível de habilidade até certo ponto através de prática e demonstrações. Desde que eu meramente acreditava em mim mesmo e tentava afiar minhas habilidades naturalmente através de treinamento, eu uma vez duvidei se realmente eu poderia lidar com uma situação de luta real. Um dia, eu me encontrei em uma situação que me fez perceber a eficiência maravilhosa do Aikidô que eu vinha praticando e me fez ser grato por ter começado. Desde então eu senti uma confiança surgir diante de mim. Deixe-me recontar o incidente para vocês.
Era julho de 1941, quase cinco meses antes de o Japão declarar guerra aos Estados Unidos. Eu tinha então 26 anos. Shunroku Hata, um general do exército, era um amigo próximo de meu pai e me tratava com afeição. Ele era supremo comandante da força expedicionária para a China. Ele me levou para Beijing como seu secretário particular. Eu parei no aeroporto de Shangai para descansar no caminho até Hanoi, seguindo ordem do General. Enquanto passeava pelo aeroporto, eu acabei encontrando por acaso um dos meus calouros da Universidade de Takushoku, um homem chamado Uraoka. Nós nos abraçamos e pulamos com alegria. Como eu escreverei sobre este encontro na segunda seção, eu não irei entrar em detalhes aqui.
É neste ponto que nós entramos na nossa história. Uraoka disse-me que ele me levaria para uma pessoa de cargo de alto-nível no estabelecimento francês. Com meu coração agitado, eu o segui até um certo estabelecimento por volta das 8 horas da noite. Depois de terem nos mostrado um quarto, Uraoka começou a negociar com um homem que parecia um cambista e uma discussão começou. O calouro socou o homem no rosto. Sua boca começou a sangrar e ele correu gritando. Eu não entendi o que estava acontecendo e fiquei parado lá como um idiota. Uraoka, carrancudo, gritou para mim, “Shioda, nós iremos morrer em dois ou três minutos. Ele com certeza irá voltar com seus colegas para
se vingar de nós. Por favor, fique pronto rápido!”. Eu sugeri que corrêssemos.

este artigo contém mais duas partes...