domingo, 29 de agosto de 2010

Hagakure

O Livro do Samurai

"..se você for morto em batalha, você deve estar disposto a ter
o seu cadáver enfrentando o inimigo."
Yamamoto Tsunetomo

Hagakure – que pode ser traduzido tanto como “folhas ocultas” ou “oculto pelas folhas” – foi publicado em 10 de setembro de 1716, e é uma compilação das filosofias de Yamamoto Tsunemoto, um vassalo de Nabeshima Mitsuhige, o terceiro senhor do que agora é a prefeitura de Saga.

O livro é considerável não tanto pela suas filosofia, os quais dissertam desde assuntos profundos até mundanos passando por absurdos, mas pelo contexto histórico em que ele foi escrito. No ano em que Mitsuhige faleceu, em maio de 1700, o Japão havia completado exatamente 100 anos de paz. Isto havia deixado os samurai com o mesmo problema das forças militares modernas: o que é feito de um guerreiro disciplinado, orgulhoso, em épocas de paz duradoura? Essa mesma questão é discutida atualmente: assuntos políticos e problemas orçamentários se sobrepõe à prontidão e à moral militar. Considere então o quê o samurai, guerreiro do Japão feudal fanaticamente obcecado com honra e pronto para dar a vida pelo seu senhor, deve ter sentido ao ver a sua profissão se estagnar. O próprio Tsunemoto foi proibido de cometer junshi, o suicídio ritual em que o vassalo segue o seu senhor na morte, pelo Shogunato Tokugawa, e isso sem dúvida contribuiu para a sua frustração. Portanto, sob um ponto de vista, Hagakure não é apenas “O Livro do Samurai”, mas um último suspiro de uma casta em extinção.

(Entretanto, o “culto do guerreiro” haveria de aparecer mais duas vezes com trágicas conseqüências na história recente do Japão: uma vez durante as rebeliões do Exército Imperial que levaram ao Incidente da Manchúria e à Segunda Guerra Mundial, e outra em uma escala menor, quando um dos mais famosos autores do Japão Yukio Mishima cometeu o suicídio ritual samurai seppuku em um quartel general das forças armadas japonesas por várias razões, entre elas a sua obsessão com o Bushido, o código de conduta do guerreiro samurai.)

A filosofia do Hagakure é uma típica fusão entre o Zen e o Confuncionismo que prevalecia durante o período Edo (1600-1868). Este sistema social único foi promulgado pelo Shogunato Tokugawa porque a ênfase confuncionista em adoração aos antepassados junto com o Zen fortalecia a idéia de status quo no conceito do sistema de classes feudais, como a devoção filial e o respeito à profissão. Portanto, a idéia de que filhos de fazendeiros deveriam ser fazendeiros e de que filhos de samurais deveriam ser samurais foi fortalecida, protestar sobre a sua própria posição seria desrespeitar os próprios pais e infringir a lei era algo que trazia uma vergonha insuportável para todos, sua família e conhecidos.

Ainda que o Japão esteja se tornando cada vez mais ocidentalizado nos últimos tempos, as regras do Shogunato de 268 anos ainda tem forte influência no comportamento japonês. Portanto, para entender os japoneses, é útil entender a sua história sócio-política.


O Hagakure, além de pintar o retrato histórico do samurai durante o período Edo, tem alguns ensinamentos filosóficos preciosos, tais como:

  • Ter apenas sabedoria e talento é o que menos conta
  • É difícil os hábitos de um tolo mudarem para o altruísmo
  • Um samurai sem um grupo e sem cavalo não é um samurai
  • Um homem existe apenas por uma geração, enquanto seu sobrenome dura até o fim dos tempos
  • Continue a esporear um cavalo que já está correndo
  • Sem dúvida não há mais nada do que o propósito do momento presente. A vida inteira de um homem é feita de uma sucessão de momento após momento: se a pessoa entende completamente o momento presente, não haverá mais nada a fazer, e mais nada para se alcançar.
  • Em todas as negociações, é essencial ter uma aproximação sem idéias pré-concebidas. A pessoa deve dar constantemente a impressão de que ele está fazendo algo excepcional e isto é possível apenas com um pouco de empatia.
  • Uesugi Kenshin (um famoso daimyo) uma vez disse, “Eu nunca penso em ganhar do começo ao fim, mas sim em não ficar para trás em qualquer situação”
  • O fim é importante em todas as coisas (Yamamoto frisa este ponto várias vezes, usando vários exemplos para mostrar que se as coisas terminam mal, tudo que foi feito de bom anteriormente não vale nada. Isto enfatiza a idéia da pessoa estar focada em todo momento presente, para deste modo nunca ser negligente.)

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Entrevista do Sensei Iwao Yamaguchi.

O Sensei Iwao Yamaguchi iniciou seus treinamentos em karate enquanto ainda
freqüentava a escola, na época de seu colegial, como complemento ao seu treinamento de Yoga. Somente mais tarde descobriu o Aikido. Treinou no Hombu Dojô em Tóquio e retornou a Okinawa, para ensinar como instrutor no Dojo Aiki Kai.

Entrevista:
Pelo que entendi, voce tem alguma experiência em Yoga. Esses conhecimentos podem ser aplicados no Aikido?
O Aikido que pratico é o resultado de meus conhecimentos e minhas experiências na vida --- a síntese de tudo do meu passado. Yoga é uma grande parte dele. O que aprendi da Yoga é que há uma Verdade Universal, um universo, e que os humanos são somente um fragmento dele. Aprendi que todos os humanos estão conectados e inter-relacionados como partes desse universo e da Verdade Universal. Enquanto isso é uma filosofia que aprendi da Yoga, também é o próprio Aikido. Mas daí para diante fica muito complicado e difícil de explicar. [Risos]

Com suas experiências combinados de Aikido e Yoga, voce poderia comentar sobre os aspectos físicos e espirituais da respiração?
Kokyu é a respiração. Não há descontinuidade entre inspiração e expiração --- eles estão continuamente conectados. Nós, como humanos, criamos um dia de 24 horas e, à meia noite já entramos na manhã seguinte. Mas, na realidade, não há descontinuidade de um dia para o próximo dia. A respiração, com inspiração e expiração, é a mesma coisa.
Similarmente, no Aikido, não há descontinuidade, entre parceiros. Nós somos um só. Quando pensamos intelectualmente sobre o que vamos fazer, é que difere do Aikido e kokyu. No kokyu, respiramos naturalmente, em harmonia com tudo mais. Não pensamos e dizemos a nós mesmos, "Eu vou respirar" ou "Vou expirar". No Aikido, nos movemos naturalmente, a expressão é natural, e respiramos naturalmente. Respirando naturalmente, nos tronamos um só com A Grande Harmonia. A harmonia que nós praticamos no Aikido é kokyu. Quando alguém empurra, nós não evitamos com força, o que não seria natural. Ao invés disso, damos a passagem. Se pó entra em meu nariz, eu espirro, é uma reação natural. Ë o mesmo no Aikido. Quando alguém empurra, você abre caminho, isso é espontâneo e natural --- como respirar. Quando o vento sopra, as árvores
se inclinam., é como respirar para dentro e expirar para fora. Não há ponto de parada ou ponto de partida; o processo é contínuo --- um fluir constante. Muitas pessoas pensam que a parte física, torcendo o pulso assim e de outros modos, é kokyu, mas não é. Kokyu deve ser a aceitação natural do ataque de um oponente e a harmonização com ele. O rio segue para o oceano, mas a que ponto ele se torna um só com o oceano? Em que ponto é que o rio perde sua identidade? A transição suave do rio para o oceano --- assim é como nós deveríamos interagir e harmonizar-nos com os outros. Na Yoga, nas várias posições existem diversas formas de respiração, mas isso nada mais é do que um aspecto físico do Aikido. Nós transcendemos a isso e nos movemos para além das formas.
 
Mas Sensei, quando alguém se confronta de repente com uma força, um choque, parece ser uma tendência natural parar de respirar por um momento. Voce está dizendo que isso não é natural?
Bem, se voce não respira voce morre, e voce tem que respirar para fora para poder respirar para dentro. A exalação é mais forte do que a inalação. Se alguém confronta voce com uma força repentina e voce encontra a força com força, isso não é Aikido. O principal do Aikido é ser capaz de aceitar a força. Essa é o básico do Aikido --- e da respiração

Qual é a conexão do ki com a respiração?
Quando voce expira, o ki vem para frente --- como se tivesse alguma coisa atrás dele. O ki vem das profundezas, do kokoro, de seu espírito, ou seu coração ou alma em conjunção com sua respiração. Mas é impossível mandar seu ki para frente simplesmente pensando. Somente quando o ki e o kokyu são unidos, quando há um desejo ou uma intenção, que o ki é atraído das profundezas.
 
O que é o ki?
Bem, o universo está em existência por causa do ki. O corpo é uma coleção de ki, e quando morremos o ki retorna à sua fonte de existência. O universo do ki todo unido, é o campo físico. O quanto de ki nós podemos atrair para dentro de nossos corpos está relacionado com como vivemos nossa vida.
 
Me desculpe por fazer tantas perguntas simples, mas como o ki "aparece"?
Explicar o ki não é um processo intelectual; ou voce compreende ou não. A idéia de que seu corpo ser um receptor do ki tem muito a ver com seus sentimentos, suas atitudes.
 
O conceito do ki no Aikido é o mesmo do conceito de prana na Yoga?
Eu acho que quando as pessoa falam sobre prana na Yoga, provavelmente estão falando sobre ki. A Yoga reconhece sete chakras como principais, cada um afetando certa parte do corpo e cada um relacionado ao nosso bem-estar. E essa é a razão do Aikido: nosso bem-estar. Na Yoga, se desenvolvemos nossos chakras, isso certamente afetará a cada aspecto de nossas vidas, e isso também é verdadeiro no Aikido. Nos desenvolvendo no Aikido, nossas vidas mudam para melhor. Mas, não importa quanto nos aprofundamos na Yoga ou progredimos no Aikido, nós eventualmente morreremos de qualquer maneira.
Nossa alma, nosso ser --- isso é sobre isso que a Yoga e o Aikido são. Práticas desse tipo são apenas veículos para aperfeiçoar nossas almas, nosso Ser. Esse é sua missão na vida. Se voce congela a água ela se torna gelo, se voce a aquece ela simplesmente vira vapor. Não deixamos de acreditar na água simplesmente porque ela é vapor no momento. A alma é assim, sempre está em estado de transformação, mas é sempre a mesma. H2O é sempre H2O, sendo água, vapor ou gelo. Ë porque acreditamos num amanhã da alma que sempre lutamos para fazer–nos melhores no presente momento, no hoje. Se pensássemos que não iria haver amanhã, não haveria razão para lutarmos hoje.
E por isso que praticamos Aikido, porque acreditamos no futuro da alma. Muitos
instrutores tem outras opiniões diferentes, mas sempre voltamos para o que o fundador nos ensinou. Que é nosso caminho ir ao campo espiritual. O caminho foi preparado.
Nosso trabalho é continuar no caminho.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Conheça bem o seu inimigo!

Entrevistando Kar l Geis – por David Russell-
(Esta entrevista foi conduzida por e-mail, durante um período de 2 semanas. O texto foi escrito por Karl Geis. As perguntas elaboradas por David Russell. O artigo foi revisado por Nicholas Lowry e apareceu, originalmente, no Aikido Journal on Line).
RUSSELL : Existe muita controvérsia no meio do Aikido sobre como enfrentar a velocidade de ataque de um karateka. Como você prepara os seus estudantes para enfrentarem estes ataques?
KARL GEIS : eu creio que um bom começo está em definir o que é um artista marcial. Existem basicamente 3 formas de nos defendermos de um ataque e todas três são eficientes se forem individualmente usadas como originalmente concebidas. Temos a possibilidade de força contra força, como no Karate, no boxe, no Taekwondo e em outras artes traumáticas. Uma Segunda forma está nas artes corpo-a-corpo, como o Judo, a Luta Livre, etc...Por último, temos as artes de esquiva, como o Aikido e algumas formas de Jujutsu, etc...Percebemos que as três artes são mutuamente excludentes. Por exemplo, é dificil se agarrar e bater ao mesmo tempo. É difícil se esquivar e se agarrar ao mesmo tempo, assim como é difícil bater e se esquivar ao mesmo tempo.
Com base nos princípios acima, a minha definição de um artista marcial é a de uma pessoa que estuda exclusivamente uma destas três idéias. Ao estudarmos uma arte desta forma, o nosso subsconsciente aprende rapidamente como reagir a praticamente todas as formas possíveis de ataque. Se misturarmos estas artes, contudo, coisas estranhas acontecem.
Por exemplo, se o nosso subsconsciente aprendeu a bloquear com a mão esquerda e bater com a direita ao defender um soco de direita, a nossa resposta será instantânea. Contudo, se tivermos estudado como evitar o soco, o nosso subconsciente se confunde e retorna a decisão para a mente consciente. A diferença está em que o subconsciente toma uma decisão em 1/25 de segundo, enquanto que a mente consciente toma a mesma decisão em ¾ de segundo, ou seja, aproximadamente 18 vezes mais rápida.
Todo e qualquer artista marcial que verdadeiramente internalizou a sua arte não cometerá o erro de ser seduzido pelo jogo do adversário. Isto é, se lidarmos com um soco de acordo com um artista marcial, estamos perdidos. Se, contudo, lidarmos com o mesmo soco, sendo inconveniente com o nosso atacante...Na minha opinião, a melhor forma de conseguir isto é não nos colocando onde os artistas marciais costumam se colocar. O atacante, desta forma, se verá forçado a enfrentar uma situação desconhecida para ele e terá que ajustar apropriadamente a sua estratégia. De qualquer jeito, a pessoa que está usando o movimento como uma parte da sua defesa não se fere e, em geral, tem bastante tempo para mudar o seu posicionamento.
É um fato notório que qualquer um que ataque um karateka, um boxeador, um lutador de Taekwondo ou de qualquer outra arte traumática está assumindo um risco e pode se dar mal. Contudo, quando examinamos as fraquezas, assim como as forças, de qualquer arte traumática, descobrimos muitos furos na armadura.
Se usarmos a nossa arte sobre estes “buracos” de fraqueza, descobriremos que podemos controlar a situação com uma grande facilidade.
Quais são as fraquezas das artes traumáticas e como podemos utilizar estas fraquezas contra elas?
As lutas traumáticas treinam sob certas regras. Uma vez que o modo sob o qual treinamos ensina ao nosso subsconsciente como reagir em uma “luta real”, tais regras programam os seus lutadores de uma maneira que nos permite explorar as suas fraquezas.
Em primeiro lugar, evite lutar próximo – faça com que ele venha à sua procura! As regras das artes traumáticas exigem que os oponentes se enfrentem. Esta é uma regra necessária ou não haverá luta porque um adversário evasivo é difícil, se não impossível, de atingir sem um enorme esforço da parte do atacante. É por isto que um árbitro é necessário ou não haverá luta. Devemos ficar atentos a este esforço extraordinário e contra-atacar quando o oponente estiver concentrado em um ataque.
Em segundo lugar, cubra as suas mãos! As regras de uma luta traumática não permitem que se segure as maõs do adversário ou qualquer parte do seu corpo, porque, quando assim fazemos, o boxe acaba e a luta livre começa. De um modo geral, lutadores traumáticos, como uma modalidade, não lutam agarrados. Também se exige um árbitro para que os lutadores não fiquem em “clinch”. Qualquer lutador traumático de valor lhe dirá que é virtualmente impossível evitar que um oponente hábil consiga um “clinch”.
Em terceiro lugar, mantenha-se em movimento em direção a zonas seguras. Aprendemos, na década de 60, que os artistas traumáticos não se saiam bem contra os boxeadores e as regras do Karate Profissional e do Kickboxing foram mudadas, exigindo que um lutador chutasse um determinado número de vezes por round. Esta foi uma regra necessária para manter o valor do esporte e da sua imagem.
Em quarto lugar, faça com que ele se mova! Se você observar um artista traumático executando um kata, você ficará impressionado com a sua velocidade. No entanto, ao assistirmos uma luta, fica dificil saber qual o estilo ou modalidade do lutador porque, adivinhe!, você não vê a posição do cavalo, etc...Todos acabam se tornando um kickboxing normal. Porque ? Porque todas as artes traumáticas eficientes no ringue devem operar sob os mesmos princípios e regras e se manterem usando as mesmas técnicas, não importa como se chamem.
Socos e pontapés extremamente rápidos são possíveis a partir de uma base estacionária, mas esta velocidade cai drasticamente quando o atacante precisa se mover, ao mesmo tempo em que tenta chutar ou socar um alvo móvel. Tudo se torna muito difícil e muito, muito, arriscado.
Em quinto lugar, nunca se agarre com um especialista nesta área. Há um grande número de grandes lutadores traumáticos que não tem o menor interesse em se envolver com um especialista em luta agarrada no solo. Este é um ponto que, realmente, foi estabelecido pelos irmãos Gracie.
Em sexto lugar, empurre o rosto do oponente com a sua palma da mão! Em geral, os lutadores traumáticos não estão acostumados com ataques com a palma da mão. É bem entendido que não costumamos empurrar coisas com os nós dos nossos dedos. E os boxeadores provavelmente deixariam de usar tanto os socos, se pudessem bater com a palma das suas mãos. O ser humano gera muito mais força, batendo com a palma da mão, sempre que possível, que usando os punhos ou os nós dos dedos.
Em sétimo lugar, aprenda instintivamente a distância necessária para evitar um soco ! Um soco ou um pontapé são instrumentos muito delicados, os quais tem, normalmente, pouca penetração e exigem distâncias curtas. Isto, é claro, é a base para eficiência das artes traumáticas. O uso dos punhos limita, necessariamente, a distância de penetração efetiva de um soco.
Em oitavo lugar, aprenda a atacar sempre em movimento! O uso de pontapés contra um oponente que não inicia o primeiro ataque é muito difícil. Quem quer usar um pontapé, não pode se movimentar muito ao mesmo tempo e, portanto, precisa parar a cada instante em que chuta e um alvo continuamente em movimento frustará a maior parte das suas tentativas de chutar. Por outro lado, se você está se movendo, enquanto ele soca ou chuta, você terá muitas oportunidades para atacar.
Em nono lugar, mesmo o aikidoka com pouca prática, além de treinar constantemente movimentos de esquiva, tem também a opção de chutar (embora muita gente ignore isto). No judo, nós temos o ATEMIWAZA (técnicas traumáticas), embora estas técnicas não sejam executadas em um contexto de Força contra Força. Elas são mantidas como uma reserva, para serem usadas quando o adversário ataca com um chute e se encontra em um momento rápido de desequilíbrio, às vezes em um pé só. O Atemiwaza de Judo é uma forma “suave” de chutar ou socar, compatível com os princípios elementares do Aikido, isto é, com a nossa ênfase em precisão e oportunidade, em oposição à força e deve ser usada apenas em caso de fraqueza técnica profunda. Estas técnicas suaves são muito eficientes quando usadas contra partes do tornozelo, joelho, canela ou coxa. Usadas contra um atacante, em momentos específicos do ataque, podem provocar consequências catastróficas, de imediato ou a longo prazo.
Em geral, as regras da maior parte das lutas traumáticas não permitem ataques abaixo da linha da cintura. Desta forma, o seu treinamento de defesas contra este tipo de ataque é, geralmente, deficiente. Todos os meus mestres sempre me ensinaram que o que você pratica é o que você fará durante uma competição.
Existem outras armas que você pode empregar e que o tornarão um alvo muito improvável de ser escolhido. Prefiro não divulgar estas idéias por razões éticas.
Em outras palavras, não é que não tenhamos algumas armas de longa distância. Apenas as usamos de uma forma diferente e em oportunidades diferentes dos lutadores traumático; quando estamos em uma zona de segurança; e quando podemos usá-las em conjunto com a movimentação de esquiva compatível com o nosso estudo do Aikido.
Todos percebem que uma arte traumática não pode ser desenvolvida sem as restrições acima citadas. Todas aquelas proibições devem ser obedecidas na prática ou no treinamento ou a competição se transformaria em uma luta-livre ou num vale-tudo, etc...Infelizmente, praticar continuamente sob tais condições, evitando as técnicas perigosas de uma determinada arte, leva invariavelmente o praticante a se sentir seguro quando o caso é bem outro.
David Russell : qual o contexto filosófico que você sente como importante quando você lida com outras artes?

Karl Geis : ÉTICA : Ser sincero consigo mesmo.
Nunca devemos subestimar a arte do outro. Nunca me esqueço que, ao descobrir uma fraqueza em outra arte, eu descubro, ao mesmo tempo, uma força. As pessoas tem uma tendência a desvalorizar a outra arte, sem uma análise mais criteriosa. Proceder desta forma em um combate real é uma falha imperdoável. Todos os grandes generais da História sempre alertaram para o mesmo princípio básico : CONHEÇA BEM O SEU INIMIGO! Nunca presuma, sem antes testar a sua teoria.
Existem muitas técnicas que, teoricamente, são muito poderosas mas, na maioria das vezes, elas são inúteis. Lutadores de Jiu-jitsu nem sempre se saem bem contra lutadores de judo. No entanto, lutadores de Jiu-Jitsu praticam muitas técnicas perigosas, enquanto que os judoka só treinam as técnicas seguras. Uma técnica perigosa tem que ser treinada com extrema precaução. Por outro lado, uma técnica segura pode ser treinada até que a sua execução se torne super-rápida e muito mais eficiente, com a vantagem adicional de, teoricamente, não machucar ninguém permanentemente.

Fonte: http://www.aizen.org/Artigo/Visualizar.aspx?id=4

domingo, 1 de agosto de 2010

Ueshiba e o Adversário (Paulo Coelho fala do Aikido em sua coluna)


Criado pelo japonês Morihei Ueshiba (1883-1969), o aikido é a única arte marcial que pratiquei, e em minha opinião é uma das mais interessantes. Ano passado publiquei nesta coluna alguns dos textos de Ueshiba, coletados por seus discípulos durantes suas conversas. Este ano, quero desenvolver livremente algumas de suas idéias a respeito dos confrontos pelos quais temos que passar:
A) Quem tem um objetivo na vida irá se defrontar com uma força oposta; para eliminar esta força, é preciso aprender como fazê-la trabalhar a seu favor.
B) Um verdadeiro guerreiro jamais sacrifica seus amigos para derrotar o adversário; portanto, ele tem que aprender a detectar e resolver os problemas antes que eles se manifestem.
C) A melhor maneira de enfrentar-se com o adversário é convencê-lo da inutilidade de seus gestos. O guerreiro mostra que seu objetivo não é destruir nada, mas construir sua própria vida. Quem caminha em direção ao seu sonho busca a harmonia e o entendimento antes de qualquer coisa, e não se importa de explicar mil vezes o que deseja, até ser escutado e entendido.
D) Não fique olhando o tempo todo os problemas que estão no seu caminho: eles terminarão por hipnotizá-lo, impedindo qualquer ação. Tampouco fique concentrado demais nas suas próprias qualidades, porque elas foram feitas para serem exibidas.
E) A força de um homem não está na coragem de atacar, mas na capacidade de resistir aos ataques. Desta maneira, prepare-se - através de meditação, exercícios, e uma profunda consciência de seus propósitos - para agüentar firme e continuar no caminho, mesmo que tudo e todos à sua volta procurem afastá-lo de sua meta.
F) Em situações extremas, principalmente quando você já está quase perto do seu objetivo, o Universo irá testar os seus propósitos, exigindo o máximo de sua energia.
G) Esteja preparado para grandes provas, à medida que o sonho se torna realidade.
H) Não olhe sua vida com ressentimento, e esteja preparado para aceitar tudo aquilo que os deuses lhe ofereceram; cada dia traz em si a alegria e a fúria, dor e prazer, escuridão e luz, crescimento e decadência. Tudo isso faz parte do ciclo da natureza - portanto não tente reclamar ou lutar contra a ordem cósmica. Aceite-a, e ela o aceitará.
I) Se o seu coração for suficientemente grande, ele será capaz de acolher todos aqueles que se opõem ao seu destino; e uma vez que você os tenha acolhido com amor, será capaz de anular a força negativa que seus adversários traziam.
J) Quando perceber que um adversário se aproxima, avance e lhe diga palavras delicadas. Se ele insistir na sua agressividade, não aceite a luta a não ser que ela vá lhe acrescentar algo; neste caso, utilize a força do oponente, e não gaste a sua energia.
L) Saiba o momento correto de usar cada uma das quatro qualidades que a natureza nos ensina. Dependendo das circunstâncias, seja duro como um diamante, flexível como uma pena, generoso como a água, ou vazio como o ar. Se a origem do seu problema é o fogo, não adianta contra-atacar com mais fogo, porque isso só irá aumentar o incêndio: neste caso, apenas a água será capaz de combater o mal.

Nunca o problema pode lhe ensinar como reagir a ele - só você tem poder para isso.
Fonte: http://oglobo.globo.com/oglobo/colunas/coelho.htm