sábado, 30 de outubro de 2010

Um olhar de senso comum para o Aikido

por Yoshio Kuroiwa

Aiki News #66 (February 1985)

Traduzido por Jefferson Bastreghi

Como não há competições no Aikidô, nós devemos avaliar cuidadosamente a natureza de nossa prática. O lado espiritual da prática também é importante, mas se nós o enfatizarmos demasiadamente, o nosso treinamento se tornará idealista por natureza e o aspecto realista será negligenciado. “Kata” (forma) e “waza” (técnica) devem ser corretamente reconhecidos na prática.

De Kata para Waza

Kata deveria ser praticado seguindo certa ordem ou método pré-arranjado, o qual é baseado numa relação racional (rial). Desta forma, nós não estamos caindo porque estamos sendo arremessados, mas sim praticando um kata que foi criado para sermos arremessados. Quando nós dominamos um movimento racional (kata), ele é expresso como um movimento natural (waza). Isto é, se você se torna hábil a executar um kata espontaneamente como resultado de prática repetida, você não está mais executando um kata e sim um waza. Nós aprendemos através do kata e nos tornamos inconsciente do fato. Em outras palavras, enquanto os movimentos necessitam de nossa atenção, eles são kata, quando os kata se tornam espontâneos, eles se tornam waza.
Nós praticamos inicialmente os kata básicos (kihon waza, técnicas básicas) para aprender os movimentos do Aikidô. A base é o padrão (o modo de ver e pensar) e uma perspectiva de senso comum para corretamente observar as coisas. Nós devemos entender a essência dos kata, não a aparência exterior dos mesmos.
Por exemplo, em um quebra-cabeça envolvendo peças de madeira que se encaixam, sabemos o lugar (estabilidade) de cada peça entendendo sua forma e natureza. Do mesmo modo, nós podemos expressar kata, os quais são comuns a todas as pessoas, mostrando as partes básicas comuns da estrutura do corpo humano (por exemplo, pontos como os cotovelos só se dobram para dentro) e devemos usar estas partes básicas racionalmente. Pode parecer exagerado usar os termos “racional” ou “lógico”, mas estes conceitos são somente um assunto de senso comum e não precisam de explicação.
Enquanto persistirmos em ver kata superficialmente, nós iremos começar a pensar que eles são de importância especial. Não podemos, sistematicamente ou racionalmente, explicar qualquer kata meramente aprendendo de uma maneira repetitiva sem um entendimento do porquê certos kata são considerados básicos. O que nós adquirimos aprendendo só repetitivamente é a preservação da forma (a transmissão da forma externa) e não a habilidade de criar (compreensão da essência do kata). Em outras palavras, nós não entendemos o quê estamos fazendo.
Base não é algo a ser praticado, mas a ser entendido. O que ela demonstra é a mecânica de como desequilibrar um oponente e criar uma oportunidade para a aplicação da técnica. Se você entende isso de forma errada significando liderar e guiar, irá passar a acreditar que alguém pode liderar o seu oponente circularmente. Isto acontece porque estamos inconscientes do fato de que liderar um parceiro circularmente implica em separação e não notamos que a prática é uma expressão de yin e o uso do poder em Aiki envolve empurrar.

Kata: Uma ferramenta para o treinamento

Nos treinamentos nós praticamos muitas técnicas, mas elas são todas variações de uma posição única. Por esta razão, ikkyo, shihonage e outras técnicas são a mesma coisa. A razão pela qual elas parecem diferentes é porque somente a aparência externa delas é vista. Kata são a expressão de um número de variações através de movimentos a partir de uma única posição e são nada mais do que uma ferramenta para treinar o corpo a se mover livremente. A idéia que um é todos e todos são um não é somente uma matéria espiritual. Isso é válido para nossos corpos também.
Não é que haja um método diferente dependente da técnica, por exemplo, ao dizer que ikkyo é praticado de um modo e tal e tal técnica de outro modo. Elas são todas manifestações de um único movimento. Podemos dizer que praticamos vários kata a fim de entender um único movimento original. Não é que ikkyo e shihonage têm valor como técnicas básicas. Nós as praticamos somente como meios convenientes de entender o yin e o yang de uma posição (fundamental).
A prática do Aikidô é uma prática yin. Usando Judô como um exemplo, é muito mais a prática com parceiro do que randori (prática livre). Prática yin representa primariamente uma seqüência de prática combinada. Desta forma, a mudança no treino da recepção do ataque à aplicação da técnica é somente possível onde existe uma diferença em habilidade. Quando a habilidade de um oponente é superior, isto não é possível. Este é um ponto-chave na prática.
Waza (movimento natural) são expressados de acordo com o nível da pessoa e a essência dos mesmos (técnicas) é manifestada diferentemente a cada vez. Isto se dá porque o que nós naturalmente possuímos (nossa habilidade como é posta para fora através da prática repetida) é expresso através de certas relações (formas).

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Uma vida de Aikido (03) última parte

por Gozo Shioda

Aiki News #74 (April 1987)

Traduzido por Jefferson Bastreghi

Capítulo Cinco: Fundamentos do Aikidô

Fundamentos são importantes para qualquer coisa. Fundamentos são importantes especialmente no Aikidô. Eu venho repetindo muitas vezes que não é um exagero dizer que o Aikidô se resume a fundamentos. Permita-me falar sobre esses fundamentos.

(1) Um coração puro

Quando praticar, você tem que excluir todos os outros pensamentos da sua mente e alcançar um coração puro. Você repete cada técnica com um estado vazio da mente. Compreender este estado vazio da mente é mais difícil do que você pode imaginar. Por isso, no início, você deve fazer um esforço consciente para remover todos os outros pensamentos da sua mente. O processo é o mesmo que compreender um estado espiritual de abnegação perfeita enquanto senta em meditação. Através de esforço repetido para atingir este estado vazio da mente, algum dia você irá inconscientemente atingir este objetivo. É então que você terá atingido um coração puro. Enquanto você estiver consciente de seu objetivo, você ainda não terá atingido este estado. Pode levar bastante tempo para atingir este objetivo. Este é um primeiro passo importante no seu treinamento. Se os fundamentos são a essência do Aikidô, isto pode ser considerado como o primeiro estágio dos fundamentos.

(02) Calma no movimento

No zen nós buscamos um estado de calma estando inativos, mas no Aikidô nós tentamos atingir este estado em ação. As técnicas do Aikidô naturalmente incluem movimentos. Contudo, em movimento, você nunca deve perder o espírito de coração puro, mas sempre manter um estado mental normal.
No Aikidô você se move de acordo com o movimento do seu oponente. Você não vai contra o poder dele, mas sim você drena este poder para você. Às vezes, você controla seu oponente somente guiando o poder dele ou adicionando seu próprio poder ao dele, o qual você já absorveu.
Se, durante o seu movimento, você perde o seu espírito de coração puro, você irá perder visibilidade do movimento do seu oponente e o fluxo do poder dele. Isto irá resultar em um choque entre você e ele ou numa falta de sintonia no seu movimento que irá acabar destruindo a eficiência da técnica. Se você é mais poderoso que o seu oponente, você poderá acabar o imobilizando. Entretanto, você terá que derrotá-lo com força e não com Aikidô. Somente quando há paz nas suas ações, você será capaz de ver bem os movimentos do seu oponente e o fluxo do seu poder.
Eu freqüentemente vejo situações onde uma pessoa aplicando uma técnica no seu parceiro pensa que sua técnica está correta, mas falha em executá-la com sucesso. Isto se deve ao fato que ele está colidindo com o movimento ou fluxo de poder do seu parceiro em algum ponto. Um desejo crescente de derrotar o oponente resulta em uma perda de compostura e a inabilidade de vê-lo com um estado mental puro.
Quando eu era um iniciante, um graduado uma vez agarrou minha mão fortemente e eu tive problemas tentando me mover para aplicar uma técnica. Ueshiba Sensei me viu me esforçando bastante e então me disse: “Shioda, você deveria ser capaz de fazer melhor do que isso. A razão pela qual não consegue se mover é que você está somente prestando atenção no seu braço e colocando muita força nele. Se você olhar para os olhos dele, verá o todo e isto irá facilitar a aplicação da técnica.” De fato, eu estava somente prestando atenção no meu braço enquanto tentava arremessá-lo. Em outras palavras, além de falhar em ver o fluxo da força do meu oponente, eu também estava levantando meu centro de gravidade. Eu não percebia que a minha habilidade para concentração, a qual pode ocorrer somente quando o nosso corpo todo está unido, estava perturbada.
Eu então compreendi o significado das palavras de Ueshiba Sensei, isto é, se você encarar os olhos do seu oponente com um coração puro, isso irá ajudá-lo a vê-lo como um todo e saber a direção do fluxo da força dele. Ao mesmo tempo, você irá ver a sua própria reflexão como um todo nele. Desde então eu criei uma regra de me lembrar das palavras dele e o objetivo de treinamento que elas representam toda vez que eu pratico. O-Sensei nunca ensinou técnicas no modo passo-a-passo. Ele nos dizia para praticarmos muito e também freqüentemente nos dizia para “aprender técnicas e esquecê-las”. Isto significa que você aprende artes marciais não com o cérebro, mas sim com o corpo. Entretanto, eu acredito que há algo mais importante nas palavras dele. Se você encara o seu oponente com um coração puro, você irá começar a ver tanto ele quanto você mesmo muito claramente. Este coração puro se refere à uma atitude mental ou estado psicológico antes de praticar as técnicas. Nós devemos também aprender este importante fundamento instintivamente. Deste modo, até mesmo se o seu oponente está segurando uma arma, como por exemplo, uma faca, uma espada ou um bastão ou se há muitos oponentes, não há necessidade de se apavorar. Aqui está um poema relevante de Ueshiba Sensei:
“Quando cercado por uma floresta de lanças
Saiba que seu espírito é o seu escudo.”

(3) Quando enfrentar um inimigo, una-se a ele

Kiichihogen, um lendário personagem, é suposto ter dito as palavras acima. Aikidô é uma arte marcial onde unimos nosso ki com o dos nossos oponentes. Em outras palavras, você não briga contra o seu oponente. Se ele empurra você, você não o empurra de volta. Se ele o puxa, não o puxe de volta, harmonize-se com ele. Isto também é um dos princípios importantes do Aikidô. Também vale dizer que você não pode se harmonizar com seu oponente sem um coração puro como eu mencionei anteriormente. Harmonia é conformidade, não compromisso. União com seu oponente cria um fluxo único de movimento, que não é colisão. Desta maneira, você pode aplicar uma técnica sem usar força desnecessária. É por isto que mulheres, crianças e pessoas mais idosas sem força física podem continuar a praticar Aikidô.
Como o Aikidô não é uma arte marcial onde você inicia um ataque, mas sim uma arte de defesa pessoal, você pode se harmonizar com seu oponente de acordo com o modo como ele te aborda. Devido ao fato de seu oponente ser precedido pelo fluxo da força dele, você pode guiar o movimento dele para dentro do seu a fim de aplicar uma técnica.
Desta maneira, você e seu oponente se unem para criar um fluxo único. Por isto, quando algumas pessoas que não conhecem Aikidô vêem uma demonstração executada por praticantes experientes, eles suspeitam da arte e acreditam que tudo é combinado. Entretanto, se eles começam a praticar Aikidô, eles irão perceber mais tarde que a impressão deles sobre a arte estava incorreta.

sábado, 23 de outubro de 2010

pensamentos....




Matias. Academia central. disse...




- "Não tem certo ou errado. Tem bonito e feio". 
Com esta frase Kawai sensei explicava as diferenças técnicas de cada professor.
Nos resta seguir o exemplo deste grande líder agregador não deixando nosso ego se inflar na medida em que vamos nos graduando. É uma tendência natural reconhecermos como correto o que estamos acostumados a ver e fazer(proteger o que é nosso). Por outro lado posso afirmar que é uma visão tendenciosa e ou apenas uma expressão de nossa arrogância.
Matias.-Ac Central.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Uma Vida de Aikido (02)

por Gozo Shioda

Aiki News #73 (December 1986)

Traduzido por Jefferson Bastreghi

A seguinte tradução da autobiografia em língua japonesa intitulada “Aikido Jinsei” (Uma vida de Aikidô) por Gozo Shioda Sensei do Yoshinkan Aikidô é publicada com as gentis permissões do autor e do editor, Takeuchi Shoten Shinsha. A série teve início em Aiki News nº 72.

Capítulo 3: O Aikidô é um Budô de Harmonia

Você não pode dizer que nunca irá encontrar situações onde o mais forte ameaça o mais fraco ou onde alguém age de uma maneira injusta ou onde você mesmo é exposto ao perigo. Se você alguma vez se encontrar numa situação deste tipo, você poderia certamente controlar o oponente usando o Aikidô que você aprendeu. Entretanto, você nunca deveria perder sua calma devido ao ódio pelo inimigo. Se isto acontece, você irá perder seu estado de pureza mental, que é importante no Aikidô e não será capaz de executar técnicas adequadas. Você pode sofrer uma derrota não esperada ou, pelo contrário, pode chegar ao extremo enquanto defende a si próprio, o que resulta em uma situação infeliz para você e seu inimigo. Você não deveria se esquecer que Aikidô é um budô de harmonia. Considerando que tenho 1,56m de altura e peso somente 50 quilos, eu sou freqüentemente provocado em discussões. Nestas situações eu sempre tentei sair com alguma piada e evitar cair em confusão sempre que possível. Entretanto, houve vezes onde eu tive que lidar com tais situações.

Um homem bêbado cai em um lago

Eu comecei meu dia levantando às 5 da manhã e fui passear com meus cachorros. Às vezes eu passeio de bicicleta e às vezes eu corro. Um dia eu estava andando em volta de uma lagoa no Parque Shakuji, próximo à minha casa. Um grande homem se aproximou de mim. Pareceu que ele tinha bebido de manhã e ele se comportava de uma maneira estranha. Quando ele se aproximou eu tentei evitá-lo passando pela direita, mas ele se moveu para o mesmo lado, como se para me bloquear. Quando eu mudei para a esquerda, ele também se moveu para a esquerda. Logo ele veio como se fosse se chocar comigo e de repente tentou me agarrar pelo colarinho. Como não havia nada mais que eu pudesse fazer, eu me livrei de sua mão levemente e tentei continuar andando. Então eu ouvi um barulho de água e o homem desapareceu. Ele caiu no lago. Eu estava um pouco surpreso e fui para a beirada do lago e perguntei se ele estava bem. O homem estava tentando sair do lago, colocando suas mãos na borda. Quando eu dei uma boa olhada nele, eu vi que ele tinha uma alga na cabeça, o que fazia com que ele parecesse um duende d’água (kappa). Eu me senti um pouco culpado por não ser capaz de reprimir minha risada e ofereci minha mão e o tirei de lá. Eu estava aliviado por saber que ele não estava ferido, mas ele, por outro lado, não gostou do que aconteceu e deixou o lugar sem uma palavra.

Desafiado para uma disputa por um professor de Karatê

Não há nada que eu possa fazer sobre ser muito pequeno, pois eu nasci assim e as pessoas provavelmente pensam que podem facilmente me superar. Embora isso tem sido um aborrecimento, às vezes eu costumava ser desafiado para uma disputa.
Um dia, um professor de karatê 6º dan veio ao dojô introduzido por um conhecido e me desafiou para uma disputa. Eu relutantemente aceitei o seu desafio. Quando eu fiquei parado na frente dele no centro do dojô, ele repentinamente me atacou com um “Shokentsuki”. No momento que ele atacou, eu recebi seu golpe com a palma da mão e me harmonizei com seu pulso. O professor passou voando por mim, porque o momento do seu ataque e o meu movimento se combinaram perfeitamente. Desde aquele incidente, eu tenho relações amigáveis com ele.

Brincadeira Maliciosa de Soldados de Ocupação

O incidente seguinte ocorreu logo após a guerra. Naquela época, minha casa era localizada em Tokorozawa. Eu estava no caminho para casa no último trem da Linha Seibu, a qual naqueles dias era ainda chamada de Linha Musashino. Dois soldados de ocupação bêbados entraram neste trem. Era a época em que o Exército de Ocupação reinava e casos de comportamento intolerável de soldados eram comuns. Os soldados no trem estavam se divertindo em cutucar as cabeças ou tocar os narizes dos japoneses. Entretanto, ninguém os parava e as pessoas sofriam o insulto de cabeça baixa. Logo um dos soldados veio até mim e tentou bater na minha bochecha com sua mão direita dizendo “Papa-san”. Eu agarrei sua mão levemente com minha mão esquerda. Então ele tentou fazer o mesmo com sua mão esquerda. Eu a agarrei com minha mão direita e executei o que nós chamamos de técnica yonkajo firmemente com as duas mãos. O grande homem caiu de costas no chão. Infelizmente para ele, havia uma camada de óleo no chão de madeira. Sua face e roupas se tornaram negras como carvão e ele pareceu bem miserável. Os soldados devem ter realmente se surpreendido com isto, porque eles ficaram quietos. Eu ainda me lembro o olhar de deleite de todos os passageiros japoneses.

Mulher japonesa violentada por soldados de ocupação

Nos dias que se seguiram à guerra, os japoneses em geral se encontravam em um estado de letargia e você nada podia fazer sobre o Exército de Ocupação. Até a polícia japonesa teve trabalho em lidar com eles. Eu gostaria de relatar um incidente onde eu testemunhei, por acaso, um incidente de comportamento violento. Isto ocorreu no dia de Ano Novo em 1947. Naquela tarde, o sol estava ainda alto e eu estava no meu caminho de volta de uma visita à casa de meus parentes após estender meus cumprimentos de ano novo. Quando me aproximei da estação Ebisu, eu vi um grupo de pessoas de pé ao redor de um posto policial. Eu também fui espiar devido à curiosidade e vi uma jovem dona de casa chorando em frente a um policial. Juntando as estórias que ouvi, ela parecia ter sido violentada por um soldado negro numa rua próxima. Eu pensei que ser um soldado de ocupação não era pretexto para tal ato e disse ao policial que ele deveria prendê-lo imediatamente. O oficial de polícia olhou perplexo e estava relutante em interferir em tais assuntos. Entretanto, até mesmo se ele fosse um soldado americano, tal ato não deveria de modo algum ser permitido. Então, eu disse a ele: “Eu vou pegá-lo. Por favor, chame a polícia militar imediatamente”. O policial olhou duro para mim e disse, “Você? É impossível. Melhor você não fazer isso!”. Ele me parou por bondade, mas eu saí rapidamente apesar de seu conselho. Então, eu ouvi o estampido de uma arma. Quando olhei na direção do tiro, eu vi um dos seis soldados negros segurando sua arma sobre sua cabeça por diversão e ameaçando pessoas ao redor dele. Transeuntes estavam todos assustados e em pânico, alguns deles correndo para uma loja próxima para se esconderem. Eu andei em direção ao homem, pouco a pouco. Talvez ele tenha pensado que eu era apenas uma criança e deu as costas para mim. Eu aproveitei a chance e dei uma pancada nas suas costas com minha cabeça. No instante que ele virou, eu o golpeei repetidamente com o lado da minha mão com toda minha força enquanto pulava próximo a ele. Enquanto ele estava desorientado, eu arranquei a arma de sua mão e a joguei longe. Então eu apliquei um shihonage e o joguei no chão. Naquela hora, um jipe da PM veio com a sirene apitando de longe. Como poderia se esperar, os soldados ficaram impotentes contra os PM´s e foram levados antes que pudessem fugir.
Então eu retornei para o posto policial. A atitude do oficial de polícia a meu respeito mudou completamente e ele até mesmo usou uma linguagem mais formal. Entretanto, a jovem mulher ainda estava chorando, dizendo que ela não poderia voltar para casa. Então eu a confortei e a levei de volta para a casa dela. Eu disse a seu marido, que veio até a porta, que sua esposa havia caído num fosso e sujado seu kimono e disse que eu tinha me preocupado com ela e a levado para casa. Seu marido ficou muito agradecido pelo que eu havia feito e me convidou para entrar. Eu foi tratado com “arroz prateado”, isto é, arroz branco, o que você não podia comer freqüentemente naqueles dias, servido por sua esposa que já tinha então retomado sua compostura. Então eu fui para casa.
parte 2 de 3 partes

domingo, 17 de outubro de 2010

Novo grupo de Aikido Soshin Dojo nas Gemeas do Iguaçu

Aikido Soshin dojo em União da Vitória
Rua Castro Alves ao lado da Antiga Refrigeração Iguaçu
Treinos 3ª e 5ª da 19:00 as 20:30
Informações com  Alvir Cordeiro Jr 
fone: 42 8835-6870

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Uma vida de Aikido (01)

por Gozo Shioda

Aiki News #72 (September 1986)

Traduzido por Jefferson Bastreghi

Os capítulos seguintes de Aikido Jinsei (uma vida de Aikidô), a autobiografia de Gozo Shioda Sensei, são reproduzidos com as gentis permissões do autor e do editor, Takeuchi Shoten Shinsha.

Tomo Um: Yoshinkan Aikido

Capítulo 1: Os fundamentos da prática Yoshinkan

O nome do meu dojô, “Yoshinkan”, é o mesmo que o meu pai, que amava o budô, usou quando ele construiu um dojô em sua propriedade. Eu continuei a usar aquele nome desde então em sua memória. O Sr. Todo Kato, meu avô por parte de mãe, tirou este nome dos caracteres contidos na frase “Gu o mamori kokorozashi o utsusazu mokumoku toshite sono kami o yashinau” (Cultive seu espírito silenciosamente, nunca esquecendo que você não é nada além de um tolo) do poema entitulado Saikontan. Esta é a origem do nome.
Eu freqüentemente ouço pessoas dizerem que o dojô Yoshinkan é uma escola dura. Eu acredito que há um desentendimento a respeito desse ponto. Entre aqueles que praticam Aikidô há aqueles que desejam se tornar mestres na arte ou desenvolver suas mentes e corpos através do Aikidô, e aqueles que querem praticar somente para melhorar sua saúde. Há homens e mulheres jovens, crianças e também pessoas mais velhas. Mas, em todos os casos, estudantes do Yoshinkan têm que praticar repetidamente a fim de dominar os fundamentos do Aikidô. Eles podem usar músculos que eles não têm usado por um bom tempo ou descobrir movimentos do corpo que eles nunca fizeram antes. Tais pessoas podem experimentar um pouco de dor até eles se acostumarem com tais coisas. Entretanto, Aikidô sem fundamentos corretos não é Aikidô. Se você praticar casualmente somente porque parece mais fácil deste jeito, você não irá obter sucesso em melhorar suas técnicas ou saúde. Desde que é impossível exagerar em dizer que o Aikidô se resume ao básico, nós somos rigorosos em nossa instrução até mesmo com iniciantes, a fim de permitir que eles adquiram a base técnica desde o início.
É importante para aqueles que querem se tornar peritos ou aperfeiçoar seu Aikidô, adquirir um total domínio dos fundamentos. Quando você se posiciona contra um oponente, aplica técnicas ou mantém seu foco de atenção após uma técnica (zanshin), estas habilidades são todas construídas sobre um entendimento dos fundamentos e são necessárias a fim de derrotar um oponente forte. Eu irei explicar a seguir quais são os fundamentos do Aikidô, mas neste momento é suficiente dizer que conforme você se torna mais experiente, você é capaz de produzir força surpreendente até mesmo em movimentos rápidos, se você naturalmente dominou os fundamentos.
O-Sensei Ueshiba disse, “No Aikidô, vencedores e perdedores são decididos em um instante.” Isto é de fato verdade. A menos que você supere seu oponente com um simples golpe, você não pode chamar sua arte de “budô”. Somente quando você se apóia nas bases, você pode derrotar seu oponente com um simples golpe.

Capítulo 2: O desenvolvimento de habilidade real não tem nada a ver com lutar em competições

Não há forma de competição no Aikidô. Nós executamos as técnicas e quedas em revezamento enquanto praticamos repetitivamente. Por causa disto, algumas pessoas jovens sentem-se insatisfeitas e reclamam que eles não podem medir sua evolução sem competição.
Eles podem se sentir assim particularmente por causa da extrema popularidade dos esportes e estão acostumados com situações onde vencedores e perdedores são decididos através de competições. Nos esportes existem certas regras acordadas. É por causa disto que competições são realizadas e vencedores e perdedores podem ser determinados. Entretanto, Aikidô não é um esporte, mas sim um budô. Ou você derrota seu oponente, ou ele derrota você. Você não pode reclamar que ele não seguiu as regras. Você tem que superar seu oponente de um modo apropriado a cada situação.
Quando eu era jovem, eu sabia meu nível de habilidade até certo ponto através de prática e demonstrações. Desde que eu meramente acreditava em mim mesmo e tentava afiar minhas habilidades naturalmente através de treinamento, eu uma vez duvidei se realmente eu poderia lidar com uma situação de luta real. Um dia, eu me encontrei em uma situação que me fez perceber a eficiência maravilhosa do Aikidô que eu vinha praticando e me fez ser grato por ter começado. Desde então eu senti uma confiança surgir diante de mim. Deixe-me recontar o incidente para vocês.
Era julho de 1941, quase cinco meses antes de o Japão declarar guerra aos Estados Unidos. Eu tinha então 26 anos. Shunroku Hata, um general do exército, era um amigo próximo de meu pai e me tratava com afeição. Ele era supremo comandante da força expedicionária para a China. Ele me levou para Beijing como seu secretário particular. Eu parei no aeroporto de Shangai para descansar no caminho até Hanoi, seguindo ordem do General. Enquanto passeava pelo aeroporto, eu acabei encontrando por acaso um dos meus calouros da Universidade de Takushoku, um homem chamado Uraoka. Nós nos abraçamos e pulamos com alegria. Como eu escreverei sobre este encontro na segunda seção, eu não irei entrar em detalhes aqui.
É neste ponto que nós entramos na nossa história. Uraoka disse-me que ele me levaria para uma pessoa de cargo de alto-nível no estabelecimento francês. Com meu coração agitado, eu o segui até um certo estabelecimento por volta das 8 horas da noite. Depois de terem nos mostrado um quarto, Uraoka começou a negociar com um homem que parecia um cambista e uma discussão começou. O calouro socou o homem no rosto. Sua boca começou a sangrar e ele correu gritando. Eu não entendi o que estava acontecendo e fiquei parado lá como um idiota. Uraoka, carrancudo, gritou para mim, “Shioda, nós iremos morrer em dois ou três minutos. Ele com certeza irá voltar com seus colegas para
se vingar de nós. Por favor, fique pronto rápido!”. Eu sugeri que corrêssemos.

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