domingo, 28 de novembro de 2010

Atemi



Por: George S. Ledyard.
Tradução feita por Frederico Ventriglia.

Dojo Central- Instituto Takemussu Brazil Aikikai.

George Ledvard é o instrutor líder no Aikido Eastside, em Bellevue, Washington - um dojo que oferece aulas de Aikido tradicional e de táticas defensivas policial.


Alegações conflitantes têm sido feitas a respeito do lugar de atemi (golpe) na prática de Aikido. Alguns insistem que não há nenhum golpe em Aikido, acreditando que a intenção pacificadora da arte é perdida quando o atemi é usado. Porém, segundo Saotome Sensei, 0-Sensei considerava o atemi como o coração da prática de Aikido - e aqueles que trabalharam para preservar a integridade marcial de Aikido sabem por experiência própria que um atacante hábil pode derrotar técnicas de Aikido se não houver o uso de atemi.

Como o atemi pode ser usado nas técnicas de Aikido? Há três modos principais:

(1) Nós podemos usá-los como sendo a própria técnica,

(2) nós podemos usá-los como uma forma de facilitar a realização de outras técnicas, e

(3) nós podemos usá-los apenas como movimentos enérgicos o que eu chamaria de "o não-golpeamento do golpe".

Quando o atemi é usado como uma técnica, a intenção é terminar uma confrontação criando uma lesão física. Golpes que atacam órgãos vitais podem vir a matar; golpes que visam os membros podem impossibilitar o outro atacante de continuar e outros, podem causar um impacto suficiente para deixar atacante adversário inconsciente. O uso isolado do atemi para terminar uma confrontação geralmente não é praticado por Aikidokas dos estilos pós-guerra e, a maioria dos praticantes de Aikido que têm um conhecimento do funcionamento deste tipo de atemi adquiriu isto treinando outras artes. Aikidokas geralmente consideram o uso de golpes o último recurso, devido à ênfase do Aikido no princípio da não-violência; o ideal do Aikido é terminar uma confrontação sem causar dano sério no atacante. Assim, para melhor ou para pior, esta área de estudo não é enfatizada na maioria dos dojos de Aikido.

Os golpes podem ser usados para facilitar técnicas de não-impacto de dois modos diferentes:

Primeiro, podem ser aplicados atemi para causar uma dor intensa e então desviar a energia resistente do atacante. (Estes pode ser aplicado com ou sem dano, dependendo do tipo de golpe e do alvo.) No momento em que o atacante desvia sua atenção - e consequentemente seu ki - para o local da dor, a resistência dele para a técnica principal tende a diminuir drasticamente. A desvantagem deste uso de atemi é que, quando as técnicas são altamente dependentes da dor do atacante, elas são inseguras. Um atacante seriamente determinado pode não notar a dor, e consequentemente pode não haver o desvio de sua atenção. A escolha de mirar o atemi em pontos não-prejudiciais pode aumentar o risco de fracasso em uma situação de defesa pessoal.

Segundo, em lugar de causar lesão ou dor, podem ser usados golpes para mudar o alinhamento físico de um atacante resistente. (Deve-se considerar que uma lesão ou dor poderiam ser conseqüências secundárias.) Freqüentemente, quando um oponente bloqueou uma técnica, um Aikidoka está tão próximo de finalizá-la com sucesso que trocar por uma variação não é necessário. A simples aplicação de um impacto - como um golpe com o joelho na parte de trás da coxa superior quando um atacante resiste a um kokyunage - pode mudar o alinhamento do atacante, fazendo-o liberar a energia usada para bloquear a técnica. Nenhuma dor ou lesão é necessária neste tipo de impacto, desde que o objetivo seja simplesmente alterar a estrutura do atacante.

Outro aspecto do uso de atemi em Aikido cai debaixo do título "não-golpeamento do golpe". Aqui o golpe é usado sem intenção (por parte da pessoa que o executa) de realmente estabelecer contato. Muitos Aikidokas favorecem este "uso enérgico "de atemi, mas alguns não entendem que requer domínio de técnicas de impacto. O atacante realmente tem que acreditar que um golpe potencialmente prejudicial está sendo realizado e tem que sentir a necessidade de pôr sua atenção nele.

Imagine que você está atrás de um vidro transparente e altamente resistente quando alguém lança uma bola de baseball em direção à sua cabeça.

Se o lançamento é forte e com velocidade, induzirá você e abaixar - mesmo você sabendo que o vidro está lá - mas, se o lançamento for suave, você não reagirá a ele.

Por isto, o "não golpeamento" do atemi têm que ter a energia e o potencial de um golpe real para criar o efeito desejado. O atemi fraco simplesmente lançado por muitos Aikidokas simplesmente não terá efeito sobre um atacante bem treinado. O "não-golpeamento do golpe" é usado como distração. Para ser eficaz, o atemi precisa tirar a atenção do atacante - porque eles usam um bloqueio para lidar com o ataque.

Qualquer um que tentou aplicar técnicas de Aikido em oponentes realmente resistentes - como suspeitos sendo presos pela polícia - sabe é duro realizar uma técnica em alguém com a intenção de lhe bater. No dojo, nós treinamos para manter a conexão, mas os atacantes reais tentarão quebrar a conexão no momento em que sentem que coisas não estão indo a seu favor. Para estabelecer e manter a conexão, pode ser necessário um atemi, forçando assim o atacante a bloquear e se defender. Em alguns casos, a técnica de Aikido pode ser aplicada no braço que se defendeu , ao invés do braço (ou perna) que originalmente iniciou o ataque. Enquanto o atemi pode acertar, o que freqüentemente não é necessário, é muito mais fácil de estabelecer conexão com o corpo do atacante quando ele está se defendendo do que quando ele está atacando.







Um aspecto do golpeamento que é freqüentemente mal-interpretado fora de círculos de Aikido é a "projeção sem contato". Freqüentemente a pessoa pode assistir uma aula inteira de Aikido sem ver um golpe evidente. Se forem bem treinados, ambos os praticantes sabem onde os golpes podem estar, mas eles não fazem nada durante a execução das técnicas para fazer com que os golpes escondidos se manifestem. Assim, na maior parte do tempo, na pratica de Aikido , os golpes são implícitos e não explícitos.

Porém, na "projeção sem contato" os golpes se manifestam sob a forma do "não-golpeamento do golpe". Para uma "projeção sem contato" ser eficaz, o golpe precisa ser muito rápido para o atacante evitar ou bloquear, mas lento o bastante para o atacante evitar ser atingido quebrando sua postura levando-o a fazer a queda. Nas "projeção sem contato" os Aikidokas praticam interações marciais convincentes - um estudo enfatizado somente no Aikido.

Um uke treinado em tal estudo será arremessado no momento em que percebe o golpe, dando muitas vezes a quem está olhando, a impressão que ele está se jogando sozinho. Alguns observadores deduzem que o que eles estão vendo é falso sendo que envolve a cooperação dos ukes, enquanto outros com tendências mais místicas - acreditam que eles estão vendo pessoas sendo energicamente lançadas, sem contato físico ou força. (Cada um destes pontos de vista tem um pouco de verdade). Na prática de "projeção sem contato", estamos estudando um tipo de interação que normalmente não existe fora do dojo. Se alguém tentar projetar um parceiro ou oponente destreinado sem o tocar, vai provavelmente acertá-lo o golpe, já que o parceiro destreinado não sabe como evitar o golpe que seria executado uma queda.





Dentre os vários usos de atemi aqui discutidos, muitos praticantes de Aikido parecem se focalizar em apenas um e excluir os outros de seus repertórios de técnicas. Mas, a partir do momento em que o praticante se interessa pela aplicação das técnicas de Aikido fora do ambiente controlado do dojo, é necessário entender todos os aspectos do atemi.

Eu discuti três aspectos principais neste artigo, mas há outros, de formas mais sutis. Por exemplo, um de meus queridos amigos do Aikido deu um grande beijo no rosto do uke antes de lançá-lo com um iriminage. Se a pessoa ampliar a definição de "atemi" incluindo qualquer coisa que o nage faça para tomar a atenção do uke, isto também conta como atemi.

domingo, 21 de novembro de 2010

Fudo-Myo

"Quase a totalidade dos ocidentais desconhecem a figura de Fudo-Myo. Foi o Deus (Sama) protetor dos Guerreiros Ninjas e Samurais do antigo Japão. Estes quando partiam para uma batalha, não temiam a morte porque julgavam estar sob a proteção de Fudo-Myo.

Muitos conhecem Fudo-Myo como o Deus da guerra ou dos guerreiros, e é claro que o nome pode ser mal interpretado. Na verdade Fudo-Myo simboliza o lado guerreiro de cada um.
O fogo que envolve  Fudo-Myo simboliza o interior do ser humano que queima, porém sem ser qualquer sentimento nefasto, representa a pureza do espírito, ou podemos até dizer que é a essência do homem.
No seu rosto e corpo transparecem as emoções negativas, todavia, são para destruir vibrações negativas. Cultuando-o, você estará protegido dos males espirituais, das invejas, dos rancores e de outras energias negativas.
A espada em sua mão direita é a imposição da lei universal e da proteção. A corda na mão esquerda simboliza a liberdade, pois com Fudo-Myo nos libertamos de pensamentos negativos e assim nos tornamos livres.
Para os praticantes de artes marciais, Fudo-Myo é o reflexo de nosso maior oponente, nós mesmos. Para dominar os outros é necessário antes de tudo saber se dominar.
No mundo atual, o ser humano, cada vez mais vai perdendo sua origem e com ela, a dignidade e o respeito. A fé, a crença em um ser supremo está se distanciando cada vez mais. Pobres homens! Se soubessem que tudo neste mundo é transição, que tudo nos é emprestado, o nosso corpo, até a nossa vida!
Tanto o nosso corpo como a nossa mente devem ser tratados como um prédio em construção, onde o pilar mestre é a nossa consciência, apoiados com as vigas do saber e do treinamento.
Assim deve ser interpretado Fudo-Myo."

domingo, 14 de novembro de 2010

Entrevista com Hiroshi Tada

por Stanley Pranin


Aikido Journal #101 (1994)

Traduzido por Christiaan Oyens




Hiroshi Tada, 9º dan




AJ: Sensei, é verdade que o senhor começou a prática do aikido depois de ingressar na universidade de Waseda?


Tada Sensei: Sim, por causa da guerra não foi possível me inscrever no dojo até março de 1950.

Soube que o senhor treinou primeiro karate ao ingressar na universidade e só depois se sentiu atraído pelo aikido…


Na verdade não treinei muito karate, se bem que tenho um grau de dan. A princípio praticava ambas as artes, mas eu comecei a dedicar mais tempo ao aikido e ficou impossível de treinar as duas artes. Não é que eu tenha achado uma arte melhor que a outra, a questão era que admirava tanto Morihei Ueshiba Sensei. Eu o conhecia desde a minha infância.


Em 1942, eu estava em Shinkyo (hoje em dia Chan Chun, Manchuria), mas tinha acabado de perder a apresentação de Ueshiba Sensei na famosa Décima Exibição de Artes Marciais da universidade de Kenkoku. Meu primo, que é um ano mais velho do que eu, me disse que foi uma demonstração fantástica. Aparentemente quase ninguém conseguia receber ukemi de Ueshiba Sensei. Não estavam apenas sendo arremessados, era como se estivessem sendo eletrocutados por uma grande descarga elétrica.


Na quarta edição do Aikido Tankyu [uma publicação do Aikikai Hombu Dojo] o senhor escreveu que se sentia surpreso e impressionado pelos pensamentos inusitados de Ueshiba Sensei.


Eu tinha vinte anos ao ingressar no dojo e Sensei tinha sessenta e sete, uma diferença de uns quarenta e sete anos. Mas ele me arremessava com tanta facilidade, mesmo quando o atacava com toda força, que nesse sentido não se notava qualquer diferença de idade entre nós. Hoje acho isso compreensível, é claro.


De qualquer maneira, ele tinha uma presença singular e era repleto de uma energia incomum. Eu senti que tinha encontrado um verdadeiro especialista nas artes marciais.


O fundador do aikido Morihei Ueshiba arremessando Tada, c. 1958


Ingressou no Tempukai na mesma época que começou o aikido?


Quando ingressei no Hombu Dojo, a maioria dos praticantes eram membros do Tempukai ou do Nishikai. Claro que naquele momento só tinham seis ou sete pessoas no dojo. Entre eles estavam Keizo Yokoyama e seu irmão mais novo, Yusaku, ambos sendo estudantes da universidade de Hitotsubashi. Yusaku passou os últimos dias da guerra na academia naval e entrou na universidade após o termino da guerra. Foi ele que me apresentou ao Tempukai e ao Ichikukai. Depois outra pessoa me ensinou sobre os exercícios de jejum. Estas práticas, associadas aos ensinamentos de Morihei Ueshiba Sensei, formaram a base do meu treinamento.


Fui apresentado ao Tempukai em Junho do mesmo ano que ingressei no Aikikai. Tempu Nakamura Sensei ministrava reuniões de estudo mensais no Templo Gekkoden de Gokokuji. Igual ao Aikikai, o Tempukai pouco fazia para se promover publicamente e as pessoas se ingressavam no Tempukai ao serem apresentadas por outros membros. Eu conheci Tempu Sensei e depois de ouvir o que ele tinha a dizer, aderi imediatamente.


Tempu Nakamura (1876-1968)


Ueshiba Sensei e Tempu Sensei se conheciam pessoalmente?


Sim. Foi antes de eu ter entrado no dojo, mas parece que tinham sido apresentados já há algum tempo pelo pai de Tadashi Abe, que era tanto um membro do Tempukai como aluno de Ueshiba Sensei. Inicialmente, o Tempukai era conhecido como Toitsu Tetsuigakkai (Sociedade Para o Estudo da União entre Medicina e Filosofia), e seu foco era a união entre mente e corpo. Eu participei de várias experiências do Tempu Sensei, então tive muito contato com ele.


Por quanto tempo foi membro ativo do Tempukai?


Até a minha ida para a Europa em outubro de 1964. Tempu Sensei faleceu em dezembro de 1968. Durante os meus seis anos na Europa, Morihei Ueshiba Sensei e Tempu Sensei, como o meu avô também, todos faleceram.


Ouvi falar que Tempu Sensei era um especialista com a espada.


Sim, ele era um expert em Zuihen-ryu battojutsu. Ele criou seu nome, Tempu, dos caracteres chineses “ten” e “pu” usados para escreverem a forma de Zuihen-ryu’s amatsukaze, algo em que ele era extremamente versado. Tempu Sensei era descendente do lorde Tachibana, o daimyo em Yanagawa. As artes marciais eram tão populares em Yanagawa quanto para o clã Saga de Kyushu, cuja reputação foi aclamada no livro intitulado: Hagakure [um texto clássico sobre o bushido, ditado por Tsunetomo Yamamoto em 1716]. O conteúdo singular das palestras de Tempu Sensei se dava pelo fato de ele falar mais de suas próprias experiências do que valorizar qualquer processo intelectual. Ueshiba Sensei agia da mesma forma. Idéias geradas no plano intelectual não têm o mesmo poder para atrair as pessoas.


Fale-nos, por favor, sobre o Ichikukai?


Um senhor chamado Tetsuju Ogura, era um dos últimos uchideshi de Tesshu Yamaoka. Durante o período Taisho, alunos e seguidores de Ogura junto com membros do clube de barcos de corrida da Universidade Imperial de Tókio (hoje Universidade de Tókio) criaram uma sociedade que praticava o misogi (ascetismo, rituais de purificação). Foi sob a direção de Masatetsu Inoue. No começo, o Ichikukai se congregava no dia 19 de cada mês, em comemoração à morte de Tesshu Yamaoka, falecido 19 de Julho, por isso o nome Ichikukai [ichiku em Japones significa “1 e 9,” i.e., 19].


Quando ingressei as reuniões aconteciam num dojo da era Taisho em Nogata-machi, Nakano. De quinta-feira a domingo nos sentávamos em seiza durante umas dez horas por dia, entoando uma passagem de um norito (prece Shinto), nos entregando completamente a esta tarefa. Era algo semelhante a recitar um mantra. Depois de passar por esta iniciação você se tornava um membro, aí podia freqüentar os encontros que ocorriam uma vez por mês, aos domingos. Ali eles faziam um exercício cântico chamado ichiman-barai, que consistia em tocar um sino de mão dez mil vezes. O som do sino não fica claro e pronunciado até o movimento da mão se tornar automático. Nas minhas aulas de aikido muitos dos meus alunos avançados fazem essa pratica.


O senhor treinou com o ken ou jo?


Houve um período em que O-Sensei ficava furioso com os alunos no dojo que tentavam treinar como o ken ou jo, e ele os proibia de usarem esta pratica. Porém, mais tarde ele começou a ensinar essas técnicas. Na minha infância eu tinha praticado arco e flecha japonesa que era tradição na minha família. Também pratiquei kendo no colégio. Isto foi durante a guerra, então não era uma disciplina esportiva. Depois quando comecei a treinar aikido eu praticava balançando o ken contra uma arvore perto da minha casa.


Treinamento individual é importante não importa a arte que você pratique. Você deve criar seu próprio programa de treinamento, começando por corrida. Aos vinte anos, e aos trinta também, eu me levantava todas as manhãs às 5:30 e corria uns quinze quilômetros. Após a corrida eu ia para casa e treinava golpeando com um bokken (espada de madeira) um monte de galhos amarrados. Naqueles tempos as casas em Jiyugaoka eram bem mais afastadas, então eu podia fazer barulho à vontade. Treinava usando a forma Jigen-ryu que tinha aprendido com O-Sensei em Iwama. Dizem que antigamente os guerreiros de Satsuma [em Kyushu] golpeavam trouxas de galhos dez mil vezes todos os dias, mas eu só conseguia umas quinhentas vezes, na melhor das hipóteses. No início, minhas mãos ficavam dormentes, mas depois de um tempo eu conseguia golpear uma arvore grande sem problemas. Fiz com que os meus alunos nas universidades de Waseda e Gakushuin treinassem desta forma. Acho este treino, um dos melhores para o aikido.


É claro que não é bom usar força física excessiva. Apenas segure o bokken, ou até um pedaço de pau feito de madeira verde suavemente e aperte com o dedo mindinho e o quarto dedo na hora do impacto. Será desenvolvida naturalmente a velocidade e a habilidade de apertar os dedos fechados corretamente. Este tipo de prática suave é importante, porque se você pratica usando força o tempo todo, você poderá acabar arremessando e aplicando as técnicas nas articulações com demasiada força, e isto pode ser perigoso.


Em Lido, Venezia, Itália, 1968


É lamentável que o espaço limitado nos nossos dojos modernos não permita mais este tipo de treinamento. Eu gostaria de aos poucos reorganizar as coisas a fim de tornar estes treinos mais accessíveis.


O que acabo de descrever é uma forma básica de praticar golpes, mas o trabalho dos pés, o movimento das mãos e o desenvolvimento de ki através de kokyuho são os elementos importantes do treinamento individual.


O senhor estudou Morihei Sensei e planejou seu método de treinamento baseado no que observou?


Sim. É muito importante observar o treinamento pessoal de seu professor nos mínimos detalhes e aprende-lo bem; caso contrário, você poderá tirar conclusões erradas e precipitadas e acabar perdendo seu tempo com treinos equivocados e sem sentido. De qualquer forma, você precisa revisar o que o seu professor lhe ensinou e criar algo que dê continuidade a estes ensinamentos, aí você deve praticar isto de novo e de novo até conseguir fazê-lo. Assim você criará seu próprio método de treinamento.


Eu acho que se você deseja se tornar um especialista no que faz – seja isto um tipo de arte marcial, esporte, algum tipo de arte ou o que for – você deve treinar pelo menos duas mil horas por ano quando você estiver com entre os vinte e quarenta anos. Isto significa cinco ou seis horas por dia. Depende de cada pessoa, mas a maioria do tempo será investida em treinamento individual. Depois de treinar só, você pode ir para o dojo para confirmar, experimentar e trabalhar tudo o que você adquiriu.


Usar uma arvore como seu parceiro num treino de aikido é uma excelente maneira de treinar com vigor porque você pode golpear com muito mais força do que se o seu parceiro fosse um ser humano. Não é apropriado treinar com força excessiva quando seu parceiro é uma pessoa, você deve usar esse tempo para desenvolver linhas corretas, limpas e afiadas.

O Ueshiba Sensei chegou a falar com o senhor sobre Daito-ryu ou Onisaburo Degushi?


Ueshiba Sensei falava sempre com muito respeito sobre seus professores, incluindo Takeda Sensei e o reverendo Onisaburo Degushi. O que me lembro claramente sobre seus discursos a respeito do Daito-ryu, é que ele o considerava um excelente método de treinamento. Após seus treinos, O-Sensei retornava com freqüência para o dojo e conversava sobre diversos assuntos.


Soube que Ueshiba Sensei falava sobre religião, especificamente sobre a religião Omoto…


Sim, e às vezes eu entendia perfeitamente o que ele estava dizendo, enquanto outras vezes me deixava completamente confuso. Mas ele também nos disse, “Isto é apenas a minha maneira de falar, eu quero que cada um de vocês interprete o que digo da sua própria maneira, explorem isto profundamente e transmitam isto em palavras apropriadas para os novos tempos”.


O aikido é mais proveitoso para a humanidade do que se possa crer, mesmo sob a ótica de alguém como eu que se especializa em aikido. Em 1952, após a minha formatura da universidade, todos os meus amigos ficaram surpresos com a minha decisão de me especializar em aikido, provavelmente porque foi tão perto do fim da guerra. Mas para mim, o aikido de Ueshiba Sensei abrange toda a essência da cultura japonesa e eu enxergava nesta arte algo que poderia ser muito importante para o Japão no futuro.


Na verdade, o aikido parece ter se estabelecido com mais solidez na Europa do no que no Japão. De qualquer maneira, para começar algo do zero, dentro de um novo contexto cultural, o treinamento de aikido se torna impossível sem uma clara compreensão do que seja o aikido e quais sejam suas metas de treinamento. Sem estes requisitos, seria como pular num trem sem saber sua direção ou destino. Em outras palavras, é importante traçar uma direção clara para os treinos de aikido desde o inicio. Quanto a decidir sobre métodos de treinamento, seria impraticável pedir a pessoas que querem treinar duas a três vezes por semana que treinem da mesma forma que as pessoas que querem treinar várias horas por dia. Parece-me adequado que cada um treine dentro do contexto de seu dia a dia. Porém, aqueles que desejam se tornar especialistas ou que querem explorar o aikido profundamente, precisam traçar um plano de onde estão indo e como irão fazer para chegar lá.


No All Japan Demonstration


Não posso dizer o que é certo ou errado sobre métodos de treinamento. A maioria dos artistas marciais não está numa posição de ficar criticando as técnicas dos outros, pois em muitos casos, uma pessoa que aparenta ser fraca pode acabar demonstrando uma força extraordinária.


Poderia nos contar sobre sua organização na Itália?


O nome official do Itália Aikikai é L’Associazione di Cultura Tradizionale Giapponese (Associação de Cultura Tradicional Japonesa), e é reconhecida como uma organização oficial pelo Ministério da Cultura Italiano. Como o nome sugere, o aikido é praticado ali como uma forma de cultura tradicional. É evidente que o que eles fazem ali é diferente de qualquer prática esportiva. Acho que seria difícil para um japonês morando no Japão entender esta situação. Ou seja, eles praticam o aikido como uma forma de “meditação em movimento”. Em paises como Itália, Suíça e Alemanha, a frase “ki no renma” (cultivação do ki) está sendo usada no seu sentido original, em japonês.




fonte: http://www.aikidojournal.com/article?articleID=88&lang=br


terça-feira, 2 de novembro de 2010

nomes posição bokken

clique na imagem para ampliar