Objetivo: visando resumir a evidência dos efeitos que as artes marciais causam à saúde e ao preparo físico, destacar os pontos fortes dos diferentes tipos de artes marciais e para montar um quadro mais completo do impacto causado pelas artes marciais na saúde e também visando proporcionar base para futuras pesquisas sobre o exercício de artes marciais enquanto prescrição terapêutica.
Método: foram incluídos ensaios aleatórios e ensaios clinicamente controlados no estudo sobre os efeitos das artes marciais na saúde.
Resultados: A análise final resultou em um conjunto de 28 questionários (um genérico, sobre as artes marciais de um modo geral, um sobre o kung-fu, seis sobre o judô, três sobre o karatê e um sobre o tae-kwon-do). O tai-chi foi o mais estudado, seguido pelo judô e pelo karatê. Os temas investigados foram amplamente diversificados e incluíram saúde, contusões, efeitos morais, psicológicos e do ponto de vista da medicina natural. Em sua maior parte foram constatados efeitos positivos para a saúde. No Tai-chi não existe contato, o impacto é baixo, há suavidade corporal e concentração mental, sendo muito difundido entre idosos e comprovadamente benéfico para a saúde. As pesquisas feitas com o judô, o karatê e o taekwondo revelaram mais um direcionamento para o aumento das habilidades competitivas dos atletas do que propriamente para o aspecto de seus efeitos na saúde. Nenhuma publicação foi encontrada, quer quanto a métodos aleatórios, quer quanto a métodos clinicamente controlados a respeito do AIKIDO, kendo, sumo, kyudo, qi gong ou outras disciplinas.
Análise e conclusão: Considerando a intensa difusão da prática de artes marciais, seus efeitos sobre a fisiologia, morfologia, imunologia e neurologia serão profundamente estudadas com vistas a ajudar as pessoas a escolher a melhor disciplina ou estilo para atingir seus propósitos. Faz-se necessário categorizar e classificar as disciplinas e estilos conforme seus efeitos em diferentes sistemas corporais e níveis de contato, tanto quanto padronizar critérios de avaliação das artes marciais. Receitar artes marciais como exercício deve ser, portanto, deixar a teoria e partir para a prática.
Results. 5. Características das análises mais aprofundadas. As artes marciais, particularmente aquelas que adotam chutes e socos, podem ser classificadas com sendo de estilo externo e duro, interno e suave. Os internos e suaves, como o tai chi e o AIKIDO, a ênfase maior vai para o senso estético, a harmonia e a sensação de serenidade; tais artes têm recebido o apelido de “zen em movimento”.
Análise. 5. Indicação de prática de arte marcial para diferentes grupos.
Essa escolha de uma arte marcial para um determinado indivíduo deve estar fundada em fatores como haver ou não contato, haver ou não impacto, o estilo ser externo e duro, interno e suave e a freqüência com que lesões e acidentes possam ocorrer. A intensidade pode ser classificada pelos equivalentes metabólicos ou pelo nível cardiológico. O indivíduo, ao optar por alguma arte marcial deve ter em mente o objetivo pretendido. Se for por esporte – em que o objetivo é competir – estilos externos e duros como o judô têm preferência. Outros praticantes em potencial são direcionados para artes marciais que dão ênfase à busca da saúde mental, moral e física e ao auto-conhecimento. Tais escolas dão prioridade ao desenvolvimento e ao aperfeiçoamento das técnicas. Como exemplo desse tipo de disciplina citamos o AIKIDO e o TAI CHI.
[Observação pessoal final, como tradutor:
Como o trabalho foi feito por pesquisadores chineses, a tendência foi dedicar pelo menos 95% dele ao TAI CHI CHUAN, cuja descrição, como arte marcial, condiz em tudo com o AIKIDO, razão porque se insere abaixo o que concluem sobre o Tai Chi Chuan que, afinal, tem exatamente o mesmo significado de AIKIDO (“caminho pelo qual se busca estar em harmonia com toda energia vital”).] Sendo que terminando colocando o judô e o karatê como interesse de atletas que buscam aprimorar seu lado competitivo.
4. Os efeitos saudáveis das artes marciais:
As artes marciais requerem o desenvolvimento mental e corporal de seus praticantes. Por tal razão diferem dos demais esportes e atividades físicas que se atêm ao treinamento físico, puro e simples.
Podem também ser classificadas por sua função e filosofia em tradicionais e não-tradicionais, conforme o caminho de seus ensinamentos. Instrutores tradicionais enfatizam o aprimoramento pessoal enquanto os não tradicionais enfatizam a auto defesa. Ao instruir seus discípulos, os tradicionalistas enfocam três prioridades, nessa ordem: desenvolvimento espiritual, disciplina e forma física (incluindo estética e coordenação). Os não tradicionais enfatizam o combate, a disciplina e o desenvolvimento espiritual. Ambas as escolas apregoam suas vantagens, incentivando a busca pela auto confiança e sua aplicação prática no cotidiano. O tai chi, a arte marcial mais estudada, originária da China, por volta do século XIII, e é baseada na imagem de uma luta entre um grou e uma serpente. A filosofia por trás da prática do tai chi está interligada com a teoria médica chinesa, que sustenta que uma boa saúde é resultado da energia vital, o chi (ki), circulando livremente pelo corpo. A doença ocorre como conseqüência do bloqueio do chi. O tai chi consegue estimular e desbloquear o chi, que passa a fluir livremente, a partir de uma postura correta e de muita aceitação e relaxamento. Embora largamente praticada durante séculos na China como expressão artística, ritual religioso, técnica de relaxamento, exercício e auto defesa, só lá pelo início dos anos 80 que os cientistas chineses começaram a estudar o potencial benéfico do tai chi em termos de saúde. Tai chi é o estilo mais popular das disciplinas marciais. Provavelmente seja mesmo a arte marcial mais popular do mundo, já que dez milhões de chineses e outros povos mundo afora o praticam diariamente. Seus movimentos característicos são circulares, contínuos, de forma vagarosa, controlada e ritmada. Foram documentados vários benefícios do tai chi entre idosos, como a diminuição da tensão, melhoria na agilidade e no equilíbrio, controle da postura e diminuição no endurecimento das extremidades. O tai chi também barra a decadência do sistema ósseo e muscular, associado à deterioração da capacidade funcional, com o aumento do risco de quedas e fraturas de quadris, que ocorre em conseqüência do envelhecimento. Outro benefício adicional do tai chi é que, comparado à maioria dos medicamentos, sai bem mais barato e quase nada em termos de iniciativa tecnológica. Tai chi possui numerosos componentes curativos, incluindo a) desde pequenos até amplos graus de abertura na movimentação; b) flexão dos joelhos; c) postura correta da cabeça em relação ao tronco; d) rotação harmoniosa entre cabeça, tronco e membros; e e) movimentos diagonais assimétricos de braços e pernas. Quanto às necessidades metabólicos a prática do tai chi equivale a andar a uma velocidade de 6km/h (seis quilômetros por hora) e confere ao ritmo cardíaco uma melhoria de 50%, na prática de qualquer forma de tai chi, mesmo a mais simples. Como o tai chi foi muito bem examinado quanto a esses aspectos benéficos ao sistema cardiovascular, força e equilíbrio, as conclusões ora obtidas são referenciais.
O judô é uma arte marcial japonesa em que os oponentes usam o equilíbrio e o peso do corpo, com um mínimo de esforço físico para projetar ou imobilizar o outro. Sobre o judô encontramos seis artigos com análises aleatória ou clinicamente controladas deixando o judô, assim, como a segunda disciplina de arte marcial mais estudada. No entanto a maioria desses estudos dedicou seu objetivo ao aspecto da melhoria da habilidade competitiva dos atletas e não em seus efeitos sobre a saúde. É o que faz do judô um esporte olímpico.
O karatê é uma forma tradicional de combate desarmado, de origem japonesa, em que se empregam pancadas e chutes rápidos. Incluímos três artigos relacionados ao karatê em nosso estudo. Assim como o judô, as pesquisas sobre o karatê vinham focadas na melhoria da habilidade competitiva dos atletas.
Contribuição: Nereu A. G. Peplow