quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A ORIGEM DO CONCEITO DE BUSHIDÔ E BUDÔ PARTE I


A ética e o espírito marciais, com que o Japão é identificado em todo a mundo (ainda que de modo simplista e estereotipado), estão na base do complexo sistema de normas de comportamento que é o bushidô. O termo designa a via, o caminho (dô) do bushi, o guerreiro de origem nobre. Com nome de bushi eram indicados os guerreiros na tradição feudal, enquanto o samurai – termo mais conhecido no Ocidente - era o guerreiro comprometido pelo dever de vassalagem para com o nobre feudal .
Uma determinação mais precisa das qualidades físicas e morais que deveria ter um bushi só emergiu ao fim dos tumultuosos séculos atravessados por guerras contínuas e lutas internas, no seio do Japão. Só com o período Tokugawa (1603-1868) e com a pacificação do Arquipélago, o bushi inicia uma consciente reflexão sobre si mesmo, sobre seu papel e suas motivações; antes os esforços eram voltados a uma direção bastante pratica. Eliminadas as necessidades da guerra, tendo mais tempo para se dedicar ao cultivo do espírito, verificou-se aquela aproximação de tradição marcial e do budismo zen que, erroneamente, se imagina que sempre foi a regra. Mas só com o fim das lutas que poder e com a relativa “desocupação” da classe militar (Buke) é que começou uma transformação do modo de se entender a prática marcial. Do bujutsu (“habilidade, técnicas marciais”), o cento de interesse se deslocou para o budô, a “via marcial”; as técnicas assumiram um valor menos ligado às suas aplicações práticas e se tornaram mais um meio de elevação espiritual que um instrumento de morte.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Porque fazer Iaido ou Kenjutsu

O Iaido- A espada que acalma

Iai tem como objetivo o autodomínio do praticante e a derrota do adversário sem a necessidade de desembainhar a katana, i.e. a conquista psicológica do adversário sem que haja necessidade do uso da espada.


O Iaido é uma mistura única de ética Confucionista, de métodos introspectivos do Zen budismo e da filosofia Taoista(?), tudo isso temperado pelo rigor do Bushido. O Iai proporciona um estado mental focado e sereno ao praticante, podendo ser entendido como uma disciplina meditativa.


A espada no Iaido é um instrumento espiritual, sem dimensão material. As horas de treinamento dedicadas para que se possa atingir o domínio da técnica são horas em que o praticante entra em contato com seu eu interior (espírito).


A Historia


A tradição e história do Iaido remontam cerca de 500 anos. O Iaido, como é conhecido atualmente, começou, provavelmente, com Iizasa Choisai, o fundador do estilo Tenshin Shoden Katori Shinto Ryu. Essa escola ou tradição incluía, em seu currículo, a prática com vários tipos de armas. Desde o uso da espada e do bastão (Jo) ao arremesso de facas e ao uso de lanças (Naginatas). Uma parte de seu currículo consistia na técnica de desembainhar rápido e golpear imediatamente com o uso de espadas. Essa técnica era usada para autodefesa ou ataque preventivo. Essa parte do currículo

tinha o nome de Iai Jutsu.

É reputado a Hayashizaki Jinsuke Shigenobu (1542-1621), como em toda Arte Marcial, ter recebido inspiração divina para o desenvolvimento de sua técnica, assim como Iizasa Choisai. Inspiração essa que o levou a desenvolver um conjunto de técnicas que denominou Muso Shinden Jushin Ryu Batto Jutsu. Aqui, a palavra Batto significa simplesmente desembainhar a espada.


O fator comum relevante em ambas às tradições (escolas) ou Ryu, assim como em muitas outras tradições que lidavam com katana, era que suas práticas envolviam somente o uso de katas1, i.e. sempre preconizavam adversários imaginários em seus treinos.


A Essência do Iaido


Como uma arte marcial pode ser efetiva quando é praticada somente com o uso de katas contra oponentes imaginários? Essa questão é mais profunda e difícil de responder do que pode parecer inicialmente. O problema começa na definição de ‘efetiva’ e que efeito se deseja obter. Claro que nos katas não existe oportunidade de comprovação da técnica do praticante em combate, como existe no kendo. O rigor na repetição dos movimentos do kata não deixa também espaço para adaptações em resposta às ações de um adversário real.


1 No Kendo, o aluno aprende a confrontar-se com um oponente real, mas com o uso de uma espada de bambu. No Iaido, o praticante usa uma katana real ou uma imitação (Iaito) e enfrenta um adversário imaginário usando uma série de movimentos predeterminados. Esse tipo de prática é chamada de kata.


Como uma arte marcial contextualizada no mundo atual, é muito fácil enxergar, superficialmente, o Iaido e outras formas de esgrima como extemporâneas, simplesmente por não ser usual nem esperado que alguém saia pelas ruas portando uma espada.


O que deve ser notado no entanto é o que está por baixo dessa observação superficial. O que deve ser observado é o modo como o praticante deve se portar para evitar conflitos. Isso foi explicado milênios atrás por Sun Tsu em sua obra A Arte da Guerra e, posteriormente, por muitos estrategistas. O praticante que treina com dedicação e correção e com a orientação de um Sensei, desenvolve a habilidade de reconhecer situações difíceis e de como evitá-las antes que se tornem problemas de fato. Mesmo

sendo inevitáveis ele aprende a enfrentá-los antes que atinjam grandes proporções. Mesmo algumas sendo inevitáveis, o praticante aprende a manter um estado de espírito e postura corporal e mental, que não oferece, ao adversário, oportunidade de agredi-lo. Essa é a essência do Iaido, do Kendo e de outras Artes Marciais que não se transformaram simplesmente em esportes comerciais.

O Kanji ‘I’ também pode ser lido como ‘itte’ e ‘ai’ como ‘awasu’ na frase 'Tsune ni itte kyu ni awasu' que significa: seja onde e o que estiver fazendo, sempre esteja preparado. Como preparado entende-se não só estar alerta, mas também ter treinado rigorosamente para que, se necessário, uma técnica decisiva possa ser utilizada para terminar um conflito. Golpes com uma katana normalmente são cabais, mas esse não é o ponto. No mundo dos negócios a pessoa deve estar preparada e agir decisivamente quando

necessário. Será que a pessoa está preparada, tem a autoconfiança necessária?

Quando um amigo desaponta uma pessoa, ela consegue lidar bem com esse tipo de situação, entendendo completamente as implicações e as conseqüências de suas ações? Ao cruzar uma rua e um carro aparecer como do nada ou algo cai sob sua cabeça enquanto está caminhando, seu corpo se encontra suficientemente equilibrado e sua mente suficientemente clara para lidar com esse tipo de situação e se colocar em segurança? Todos esses são exemplos práticos da aplicação do Iaido no mundo

moderno.

A prática do Iaido é educativa tanto para jovens estudantes, como para executivos, gerentes e empresários, em resumo para todo aquele que precisa e quer aprimoramento nos principais valores humanos e de cidadania.


A Estrutura do Kata


Cada kata segue a mesma estrutura básica de quatro partes: Nukitsuke (desembainhar e cortar) Kirioroshi (corte principal com o uso das duas mãos) Chiburi (retirada do sangue da lâmina) e Noto (embainhar a espada); existem dentro desse formato variações consideráveis. Dentro das mais comuns encontram-se: golpear para frente com o tsuka (empunhadura da katana) antes de desembainhá-la, puxar a bainha (saya) para trás e golpear imediatamente girando-se para trás, cotar em ângulos diferentes de horizontal e vertical, e.g.: diagonalmente de baixo para cima e de cima para baixo ou pela lateral, entre outros.


O Formato de uma Seção de Treino


Após o aquecimento e alongamento, o treino começa com o rito de etiqueta de abertura, que consiste de kamiza ni rei (curvar-se para o lugar sagrado), sensei ni rei (curvar-se para o instrutor) e o to rei (curvar-se para o katana). Em seguida inicia-se uma seção de suburi (prática dinâmica de cortes) e kihon incluindo Chiburi e Noto. A depender do tamanho e nível da turma, outras técnicas derivadas dos katas são exercitadas antes da prática dos katas propriamente dita ser iniciada. A série de katas, freqüentemente, se inicia com o sensei explicando algum ponto que deve ser especialmente observado pela classe ou por algum subgrupo específico da mesma. A isso se segue a pratica formal, em que todos praticam os katas em conjunto sob o comando do líder do dojo ou um treino livre quando os katas são praticados sem sincronismo e individualmente, cabendo ao instrutor a observação e correção de pontos de cada praticante de forma individual. Ao final da seção, todos fazem a etiqueta de fechamento em conjunto.


O Keiko


Esse termo significa treino ou prática, mas é mais que isso. É o estágio em que os

movimentos são aperfeiçoados por repetição lenta, dividindo-se o kata em suas partes
componentes e pela contextualização da técnica em situações e confronto real. Com o
tempo, o praticante começa a entender os princípios de Metsuke (correto uso dos olhos),
Seme (pressão sobre o adversário) com o objetivo de controlar o adversário. Durante o
keiko também são apreendidos os conceitos de Maai (distância de combate) e Ma
(tempo - timing).

O Currículo


O aluno, após aprender as bases de como segurar a katana e cortar, é introduzido gradualmente aos doze katas padronizados pela All Japan Kendo Federation. Esses katas foram desenvolvidos para servir como um padrão para ensino, graduação e competição de forma. Seus movimentos são derivados das formas das escolas antigas (koryu) mais difundidas e, embora representando um estudo base para preparação da prática de koryu, eles continuam sendo usados mesmo em estágios mais avançados,

como as formas padrão utilizadas pelos sensei para demonstrar princípios básicos da técnica.

Além das formas padronizadas, existem as formas das escolas antigas (koryu). As escolas antigas mais difundidas no Japão são Muso Shinden Ryu e Muso Jikiden Eishin Ryu, ambas são derivadas da tradição Muso Shinden Jushin Ryu Batto Jutsu. Essas escolas têm cinco conjuntos de katas, três praticados como solo (Iaido) e dois praticados a dois (Ken jutsu). À medida que o estudante progride, o alcance da

interpretação dos katas se amplia. Enquanto os estudantes iniciantes têm um conjunto de movimentos rigidamente definidos, os estudantes mais avançados já são capazes de imaginar o Kasso Teki (inimigo imaginário) se movimentando e agindo diferentemente.

Assim, eles adaptam os katas de acordo com a necessidade. De modo similar, nas práticas em duo, o estudante (shidachi) deve aprender a cobrir seus pontos fracos (Suki - aberturas), caso falhe, o professor (uchidachi) deve mostar-lhe onde está fraco, podendo atacá-lo de forma diferente do prescrito originalmente no kata. Isso é o início do aprendizado de como estar sempre preparado para qualquer eventualidade no Iaido. Em nosso Dojo adotatamos o estilo Muso Shinden Ryu


O significado de Muso Shinden Ryu



Os dois primeiros kanji pronunciam-se "musoo" e significam "sonho, visão";

O terceiro kanji, que pode ser pronunciado como "shin" ou "jin", significa "deus, divindade, espírito";
O quarto, pronunciado como "den" ou "ten", significa "transmitido";
O quinto kanji se pronuncia "ryuu".
Assim pode-se traduzir Muso-Shinden como uma escola:
"transmitida em sonho por divindade." ou "inspirada por sonho divino." ou "transmitida por visão divina."

Ela se divide em 3 níveis: Shoden (básico) com 12 formas, Chuden (intermediário) com 10 formas e Okuden (formas profundas), este subdivide-se em: Tate Hiza No Bu com 8 formas, Tachi no Bu com 10 formas e Seiza No Bu 3 formas.


Os Nomes dos Katas do Iaido


SEITEI GATA


1. Ippon-Me - Mae

2. Nihon-Me - Ushiro
3. Sanbon-Me - Uke nagashi
4. Yonhon-Me - Tsuka ate
5. Gohon-Me - Kesa giri
6. Roppon-Me - Morote zuki
7. Nanahon-Me - Sanpo giri
8. Hachihon-Me - Ganmen ate
9. Kyuhon-Me - Soete zuki
10. Juppon-Me - Shiho giri
11. Juichihon-Me - Soh giri
12. Juunihon-Me - Nuki uchi
 
 
Fonte : http://www.aizen.org

domingo, 2 de janeiro de 2011

Aikido - Uma Pequena Visão

Muitas pessoas chegam ao Aikido com uma idéia pré-concebida do que este seja. Normalmente seu único contato com o Budo (Artes marciais de origem japonesa, vinculadas à idéia de auto-aperfeiçoamento), foi através de filmes ou de alguma demonstração que assistiram de Karate ou Judô. Quando estas pessoas visitam um Dojo de Aikido, quase sempre se sentem frustradas com o que vêem, já que não encontram o que esperavam... golpes de alto impacto visual, físico e sonoro! O que acabam na verdade encontrando são movimentos bonitos, circulares e até certo ponto harmoniosos. A primeira impressão destas pessoas já pré-dispostas a qualificar as artes marciais como algo fisicamente bruto, é quase sempre de surpresa e desagrado pois para seus olhos tudo o que vêem é combinado, como se os praticantes estivessem executando algum tipo de ritual ou dança folclórica.
“Isso não funcionaria numa situação real!”... É quase sempre o que pensam e muitas vezes dizem. A prática do Aikido é Budo! Não um simples sistema de defesa pessoal, seus movimentos e formas envolvem tanto o trabalho específico de defesa pessoal, movimentação e posicionamento do corpo, estudo da relação e direcionamento de forças, controle respiratório, emocional... como também trabalhos mais sutis com a consciência do aluno (Na verdade poderíamos dizer que neste aspecto é onde se encontra a pedra fundamental das artes de desenvolvimento interno.). Para as pessoas com um pouco mais de conhecimento sobre o assunto, o Budo é tido como ferramenta para se cultivar as qualidades latentes do ser humano, expandindo seu potencial individual para assim alcançar o benefício de toda a humanidade.
Essas qualidades latentes são tanto internas(ao aluno - “sua consciência”) como externas(situações - ação e reação). Poder-se-ia dizer que a função do Budo é o aprimoramento interno do indivíduo, e que tal aprimoramento começa a partir do cultivo de qualidades que o próprio aluno possui em menor ou maior escala dentro de si mesmo. O Budo utiliza-se de ferramentas para fomentar situações externas e internas durante a prática, onde a ação do aluno torna-se a própria manifestação física de sua consciência(estado mental). Matéria(físico) e consciência(mental) tornam-se movimento, ou seja, ação direcionada que no nosso caso é a manifestação do Aikido. No Ocidente não estamos acostumados a observar a consciência como uma força, já no Budismo(Tibetano) acredita-se na existência de duas forças reais: a matéria e a consciência. É lógico que a consciência depende até certo ponto da matéria, e a alteração ou mutação da matéria depende também da consciência. Através da consciência pode-se alterar a matéria ou corpo físico... no nosso caso isso esta invariavelmente relacionado a forma do Kata(forma técnica).
O Aikido é uma arte marcial onde se utiliza movimentos complexos, sempre mantendo um foco consciente de harmonização e não destruição. Quando observamos um soco ou chute sendo usado como simples veiculo de destruição, prontamente podemos dizer que tais sistemas marciais(escolas) que os utilizam visando apenas tais aspectos destrutivos do uso do corpo, tem por meta principal simplesmente subjugar o oponente. No Aikido não existe tal uso do corpo ou sentimento puramente de agressão gratuita, seus movimentos exigem algo mais no sentido de que o objetivo não é derrubar ou derrotar a situação, mas sim a harmonização das ações e sentimentos... através do estudo dos fundamentos naturais. Esses fundamentos ou leis naturais envolvem todos os diferentes aspectos das interações de forças do universo.
Nas artes marciais em geral existe a necessidade por parte do praticante de aprender a forma ou Kata. Isso é necessário para que ele desenvolva uma percepção de sua própria movimentação forçada(movimentação pré-concebida por seu próprio corpo e intelecto) e mais profundamente a influência de seu estado mental atual com a execução desta movimentação. Essa movimentação forçada pode ser usada com êxito em uma situação extrema(risco de vida) onde seja necessário se defender de um agressor, porém o que deve ficar claro é que a defesa pessoal em si é somente um subproduto, o estudo principal das artes marciais vinculadas ao espírito do Budo é voltado para a conscientização do resultado restrito da defesa-pessoal. O aluno deve tomar consciência através da execução da forma, que a mesma é restrita a uma determinada situação de agressão. Como provavelmente o aluno vai praticar com pessoas de diferentes características tanto físicas como psicológicas, ele acaba por perceber que o Kata não é uma estrutura fixa, mas sim fluida... suscetível a adaptações necessárias à sua execução dependendo das características únicas de cada ação de ataque. Essa liberdade, ou talvez seja melhor nos referirmos a ela como criatividade por parte do aluno durante a execução de um Kata, é considerado um estágio avançado no treinamento. Essa criatividade e adaptabilidade foi basicamente definida pelo próprio fundador do Aikido, Morihei Ueshiba, como Takemusu Aiki(Um termo freqüentemente utilizado pelo fundador para definir o espírito da verdadeira arte marcial japonesa. Em uma tradução livre seria algo como: O Nascimento de técnicas infinitas enraizadas no fluxo natural da Natureza.)
No início o Kata ou forma é executada de forma rígida(modelo pré-estabelecido), não se dando ao iniciante muita liberdade dentro da forma. Neste primeiro contato do aluno com a forma, o mesmo é obrigado a adaptar-se a ela e não o inverso. Com o avanço da prática o aluno consegue executar a forma de maneira mais natural, adaptando-se não mais tanto a ela mas sim a um período específico da execução da mesma(seqüência específica de movimentos dentro do próprio Kata principal). Sendo assim, o aluno começa a ver que um Kata, exemplo Shomen Uti Dai Iti Kyo Omote, na verdade é formado por vários Katas menores(com funções específicas)... ou seja, seqüências menores de movimentos que somados criam o Kata específico estudado, no caso do nosso exemplo o Dai Iti Kyo. Essa consciência ele já obtêm neste estágio de maneira quase inconsciente, não criando uma nova técnica diferente toda a vez que executa um Kata, mas sim uma nova execução de uma técnica específica(uma aplicação dos princípios inerentes a forma estudada, não necessariamente a construção formal da mesma).
A função do Uke(atacante) dentro do Aikido é bem específica: Empenhar-se em proporcionar um ataque onde seja possível ao Nague(aquele executa) estudar os princípios intrínsecos a uma técnica específica. Portanto, veja bem, é o Uke que oferece a oportunidade de estudá-la. Sem esta compreensão por parte do Uke, o estudo da forma torna-se inviável para o Nague.
O que diferencia o Aikido de outras artes marciais é exatamente esse ponto observado no parágrafo acima, não existe um atacante e um defensor, ou um vencedor e um perdedor. Existe na verdade pessoas ajudando-se mutuamente não através de vitórias ou derrotas, mas através do companheirismo. Muitos professores e esportistas de outras artes marciais, e as vezes até mesmo do próprio Aikido, criticam essa visão fundamentalmente altruísta do Aikido, afirmando ser essa um ilusão... que o mundo em que vivemos hoje é altamente competitivo, e que você deve ser o melhor através da superação de outras pessoas... e que sem a competição externa o aluno torna-se uma ovelha entre lobos, que sem a competição o aluno não se empenharia tanto em aprender.
Para mim essa atitude de tornar-se o melhor pela superação de outras pessoas, ou depender de um estímulo externo deste tipo (competição simplesmente realizada para demonstrar ou reafirmar um sentimento de superioridade perante outro ser vivo), é obter uma confiança equivocada em si mesmo através da posse de um sentimento de superioridade. Acredito que a força de vontade que leva o aluno a buscar subjugar os demais é a vergonha de ser o mais fraco ou o desejo de torna-se o mais forte... Será realmente que o Budo resume-se a isso? Será realmente que estas pessoas estão certas em afirmar que para progredir na vida é necessário possuir este tipo de caráter ou índole? Pelo menos hoje, para mim, acredito que o ser humano possui um potencial muito maior do que simplesmente subjugar os demais... E que o Aikido pode ser uma excepcional ferramenta ou meio para o auto-aperfeiçoamento e não simplesmente mais um método de defesa-pessoal.
Rubens Caruso Júnior Sensei


fonte:   http://www.aikidopesquisa.com.br/artigo_aikido_uma_pequena_visao.htm