domingo, 27 de dezembro de 2009

Pensamentos

“Praticar uma arte marcial como simples treino esportivo equivale a cultivar flores num jardim de cimento; não produz flor nem eficácia. Os esportes estão codificados por regulamentos estabelecidos para suprimir o máximo de perigo; é o objetivo do esporte. As artes marciais devem fomentar a audácia, o sangue-frio, a resistência, o golpe de vista, diante dum ataque armado ... dum combate em que se pode perder a vida ... não um título; é o objectivo das artes marciais”. Tadashi Abe (7.º dan de Aikido)


“Uma queda! Um golpe! Não terminam o combate, se a queda for amortecida, se o golpe foi superficial ... porquê considerar-se vencedor por estes fatores? O esporte é generoso em fazer crer no milagre. Se o combate for real ... se a mão segura uma faca ... essa glória será talvez póstuma. Entre a teoria e a prática, entre o esporte e a realidade, pode haver a diferença da vida e da morte”. Tadashi Abe (7.º dan de Aikido)

domingo, 13 de dezembro de 2009

Sokaku Takeda e sua visão sobre o AIki jiujitsu


Segundo informações do Aikido journal e do site www.aikidojournal.com e do site brasileiro www.aizen.org, .....

Em 1929, o Almirante Naval ISAMU TAKESHITA começou a estudar Daito Ryu com Sokaku Takeda Sensei e publicou em uma revista um artigo intitulado “Estórias sobre a bravura de Sokaku Takeda”. Este artigo chamou a atenção do jornal Tokyo Asahi, que mandou o jornalista YOICHI OZAKA a Osaka, em julho de 1930, para entrevistar Takeda Sensei que se encontrava viajando e ensinando naquela ilha do norte. O artigo a seguir foi escrito pelo Sr. Osaka e foi publicado, pela primeira vez, em 17 de Agosto de l930. * * * Há muitos anos atrás, o Daito Ryu Aikijujutsu existia como uma arte marcial secreta do Clã Aizu. Contudo, a partir do Período Meiji, este véu de mistério que escondia a arte, vem sendo levantado, graças aos esforços do Mestre Sokaku Takeda (1859 – 1943), o herdeiro legítimo da escola. O Daito Ryu é considerado a forma mais avançada das artes de defesa pessoal e não encontra o seu igual entre as outras artes marciais tradicionais, como o Kendo e o Judo. Por algum motivo desconhecido, Mestre Takeda, um artista marcial extraordinário, partiu para Hokkaido, renunciando ao Mundo, há cerca de 20 anos atrás. (*) Ele passou a levar a sua vida em completa reclusão, enquanto cultivava suas terras em Shirataki, em Kitami, no interior de Hokkaido. Embora ele tivesse chegado a ter mais de 30.000 estudantes em todo o Japão, o Mestre vivia no isolamento, a fim de evitar problemas mundanos. Levei 7 horas, viajando de trem para o Leste, após fazer o translado em Nayori, próximo à extremidade norte de Hokkaido, para chegar à casa escondida do Mestre, onde ele vivia em retiro, em Shirataki, em Kitami no Kuni. A sua casa tinha dois quartos de 10 tatami, sem portas de correr entre eles. Além destes quartos, havia uma grande sala de 20 tatami, com uma lareira baixa de 5 pés, rodeada por uma borda de madeira negra lustrosa. Embora estivessemos no meio do verão, havia um grande caldeirão pendurado, com duas pinças de ferro de 16 ou 17 polegadas jogadas nele. O quarto me lembrou, de todas as formas, da casa escondida de TSUKAHARA BOKUDEN (Mestre de Esgrima e fundador da Bokuden Ryu / Shinto Ryu) (1489 – 1571) ou daquela de MATAEMON ARAKI (1597? – 1638? ) (outro mestre, fundador da Araki Ryu) . A sua esposa me deu as boas-vindas, dizendo : “Muito obrigado pela sua gentil visita mas o meu marido viajou, no começo de Junho e ainda não voltou”.

“Como ela é despreocupada”, eu pensei. “Se fosse em Tóquio, uma pessoa imediatamente chamaria a polícia para procurá-lo”. “Ah, sim!”, ela acrescentou, “Recebi uma carta dele há três ou quatro dias atrás. Ele me disse que estaria em um lugar chamado Koshimizu, perto de Abashiri. Mas logo estará viajando de novo e não faço idéia de quando ele voltará para casa. Talvez você o encontre em Koshimizu, mas pode ser também que ele já tenha partido. Isto me desanimou um pouco mas acabei decidindo deixar para lá e levar mais 7 horas de trem, descer na estação de Furuoke, quatro pontos antes de Abashiri, lugar famoso por causa de uma prisão. Eu seguiria então por uma trilha, atravessando uma cadeia de montanhas de 2,5 milhas. Era por volta de meia-noite quando finalmente chegamos à cidadezinha de Koshimizu. Chegando a uma estalagem, um velho de 67 ou 68 anos, que parecia um samurai do passado chegou e me perguntou o que eu queria e de onde vinha: Eu lhe apresentei o meu cartão e o segui. Neste momento, eu ouvi alguém atras do “shoji” dizer : “O quê ? Um jornalista? Que aborrecimento! O que é que ele quer com um velho da roça como eu ? Mas não adianta reclamar. Se ele já está aqui, mande-o entrar!” Ele me saudou com as seguintes palavras : “Eu não queria lhe receber porque é um incômodo para mim, mas parece que não há outro jeito!” Ele vestia um quimono axadrezado de verão, com uma faixa ao redor da sua cintura. Qualquer um pensaria que ele não passava de um camponês pobre pela sua aparência. Não parecia Ter a sua idade, que era 72 anos. Parecia mais jovem e muito vigoroso. Era baixo, provavelmente com menos de 5 pés. Descobri, mais tarde, que ele pesava por volta de 100 libras. Mesmo assim, seus olhos me encaravam fixamente, dando a impressão que não se satisfariam senão quando penetrassem as profundezas da minha alma. “O que é que você quer de um velho como eu”, ele perguntou. “Eu gostaria de falar sobre as artes marciais”.

“Se é sobre agricultura que você quer falar, eu sei alguma coisa. Eu posso cultivar sozinho um campo de 2 hectares. Eu posso arrancar raízes de cêrca de 30 árvores grandes. Ah, Ah, Ah...” Mas logo a conversa voltou-se, com naturalidade, para as artes marciais, o assunto preferido de Sokaku Takeda, começando por cada escola e passando a outros tópicos. O Mestre, que gradualmente ficava excitado, à medida em que falava, fez com que o seu melhor estudante (o velho que eu conhecera primeiro) ficasse no meio da sala e o enfrentasse. Parece que este velho era um admirador fanático de Sokaku e vinha estudando com ele há 20 anos. "Uma vez que a nossa conversa está animada, deixe-me mostrar algumas técnicas. Vamos, ataque-me de qualquer direção!” A sua base forte, com os pés ligeiramente afastados, fazia com que ele parecesse realmente grande. O seu olhar era assustador, da forma com que encarava o seu estudante. Logo em seguida, o seu oponente o atacou com toda a força. E acabou no chão, tendo sido arremessado facilmente por Takeda Sensei, cuja grito parecia o som de um trovão. O estudante murmurou : “Eu me rendo!” A técnica fora tão bem executada que me deixou insatisfeito. Assisti a 10 encontros deste tipo, mas as técnicas eram executadas tão rapidamente que eu não conseguia entender como ele conseguia executar os seus arremessos ou imobilizar o seu adversário, ao ponto de ele não poder, sequer, gemer. "Parece combinado, não?" “É, parece”, falei sem pensar. “Você já praticou Yawara (um outro nome do Jujutsu) ? Levante-se!” Eu me levantei.

“Aperte o meu pescoço, com força”. Sou uma pessoa bem grande e o estrangulei com toda a minha força. Ele então me perguntou : “Está pronto?” Assim que ele gritou, minhas mãos, que envolviam o seu pescoço, pareceram se quebrar. Ele então me pediu para segurar o seu braço direito com as minhas duas mãos, empurrar contra seu peito e várias outras coisas. Eu fiz o que ele mandava e sempre era arremessado sem compreender como ele o fazia. Ele imobilizou o meu pescoço e ambos os meus braços com suas pernas, como se estivesse dando um nó. Meus braços pareciam estar quebrados e eu estava completamente sem fôlego. Quando eu olhei para Mestre Takeda do meu ponto privilegiado no chão, ele estava com os braços cruzados no peito e dizia para seu estudante : “Ei, o chá se derramou!” Eu não conseguia acreditar! Logo depois, ele pegou uma lâmina nua e me mostrou vários Kata. A espada zumbia ante meus olhos; próximo ao meu nariz; e ao redor dos meus ombros, com um som sibilante assustador.

"É muito difícil produzir este som sibilante com a espada. Não é possível cortar uma pessoa corretamente sem produzir este som ao movimentar a espada. É muito difícil fazer esta espada cantar”. Aquele velho de 72 anos não parecia cansado. A seguir, ele comentou como o Marquês TSUGUMICHI SAIGO aprendia rapidamente as técnicas e de como ele encontrara e conversara com o General NOGI, em Nasuno (na Prefeitura de Toshigi) e de como ele se divertia quando aquele último se vestia como um fazendeiro. Ele me disse também como o seu estilo de arte marcial era fácil de aprender, o que era o motivo de ele jamais demonstrar em público. Takeda Sensei me contou como o seu pai cauterizava as unhas das suas mãos, como um castigo pela sua dificuldade em aprender as técnicas. Ele me mostrou as cicatrizes dos ferimentos, ainda visíveis após tantos anos. Mesmo quando chegamos às duas da manhã, ele continuava a falar. "Estas técnicas já lhe foram úteis em uma situação real?", eu lhe perguntei, mudando propositalmente de assunto, a fim de extrair dele mais informações. Inicialmente, ele riu e não pareceu querer responder a minha pergunta, mas finalmente ele contou um incidente. De acordo com a sua história, ele foi atacado por 40 ou 50 trabalhadores de uma construção, na Prefeitura de Fukushima, no começo do Período Meiji e matou 08 ou 09 pessoas. (**) “Esta minha técnica é uma perfeita arte de defesa pessoal, na qual você evita ser cortado, espancado ou chutado, ao mesmo tempo em que você não espanca, chuta, nem corta. Quando o ataque vem, você o enfrenta com precisão, usando a força do seu oponente. Desta forma, até mesmo mulheres e crianças podem aprender estas técnicas. Mas eu tenho como regra não ensinar estas técnicas a ninguém, sem antes obter apresentações e referências, porque elas podem ser assustadores, se mal usadas. Parece que existem pessoas ensinando estas técnicas em Tóquio (provavelmente uma referência a Morihei Ueshiba que ensinava em Tóquio, a esta altura) , mas eu penso que você não pode ensinar outras pessoas, se você mesmo não for muito competente na arte”. A conversa parecia não acabar, mesmo quando o dia amanheceu.

* De acordo com RYUICHI MATSUDA, em “HIDEN NIHON JUJUTSU (Escolas Secretas de Jujutsu japonês), quando um estudante de Sokaku, um Superintendente da Polícia da Prefeitura de Akita, foi transferido para Hokkaido, em 1910, ele solicitou autorização a Takeda para ensinar Daito Ryu à polícia daquela ilha do norte. Takeda concordou e o acompanhou até lá (Pg. 196). No começo, Sokaku ministrou seminários nas estações policiais da Área de Asahikawa. No começo do Período Taisho (1912/1925), ele visitou Shirataki, em Kitami, casou-se e se instalou lá.

** Donn Draeger, em seu livro “BUJUTSU E BUDO MODERNOS”, relata este incidente, indicando que ele se deu quando Sokaku tinha 23 anos, em 1881 e dá como local do evento a cidade de Tóquio. O número de mortos é também indicado como tendo sido 12 pessoas (Pg. 139).

Poder estratégico militar


Em 341 a.C., o Estado chinês de Ch'i, em guerra contra o Wei, enviou T'ien Ch'i e Sun Pin contra o General P'ang Chuan, que era inimigo mortal do último.
Sun Pin disse a T'ien Ch'i: "Os soldados inimigos são rudes, destemidos e corajosos, e dão pouco importância a C'hi. O Estado de C'hi tem sido designado de maneira covarde, por isso nosso adversário nos despreza. Vamos transformar essa circunstância a nosso favor. Quem excele na guerra, confia em seu poder estratégico e percebe as vantagens de se conduzir um inimigo para onde quiser. Faça com que nosso exército de C'hi, ao adentrar as fronteiras de Wei, acenda 100.000 fogueiras. Amanhã 50.000, e novamente depois de amanhã acenda 30.000 fogueiras."
P'ang Chuan, passados três dias, disse com grande exaltação: "Agora sei realmente que o exército de C'hi está apavorado. Estão no nosso território a apensa três dias, mas mais da metade dos oficiais e soldados desertaram. Eu sabia que os soldados de C'hi eram covardes." Sendo assim, P'ang Chuan abandonou a infantaria e cobriu o dobro da distância pela qual ele percorreria normalmente em um dia, somente com as unidades ligeiras e de elite, em direção ao local onde se encontrava o exército de C'hi. Sun Pin, estimou que o exército inimigo chegaria na região de Ma-ling ao anoitecer.
A estrada para Ma-ling era estreita e íngrime e suas tropas podiam ser dispostas a fazer emboscada. Chegando lá, tirou uma casca de um tronco de uma grande árvore e nela escreveu: "Sob esta árvore, P'ang Chuan morrerá." Quando ordenou que um poderoso corpo de 10.000 hábeis besteiros esperassem em emboscada em ambos os lados, e os instrui: "Ao anoitecer, quando virdes um fogo, subi e atirai todos juntos." A noite, P'ang Chuan chegou ao local em que se encontrava a árvore, conforme Sun Pin havia previsto, e ao ver o tronco escrito, bateu uma pedra e acendeu uma tocha. Não tinha acabado de ler a mensagem quando cerca de 10.000 besteiros atiraram em massa. O exército de Wei desmoronou-se em caos e desordem coletiva. C'hi aproveitou a confusão e eliminou todo o exército inimigo.
SUN TZU DISSE: "Quem for hábil em movimentar o inimigo, se dispõe em uma configuração a qual cumpre que o inimigo responda. Oferece alguma coisa de que o inimigo precisa se apoderar. Pelo lucro, move-o, com seus fundamentos o espera."
"O guerreiro inteligente emprega o efeito estratégico e não exige muito dos indivíduos. Leva em conta a aptidão de cada homem e não exige perfeição dos sem talentos."
- A Arte Da Guerra
Sun Tzu

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

porque o Aikido



Autor: Stanley Pranin
Todos iniciam a pratica do Aikidô motivados por um propósito específico ou um conjunto de metas. Entre os mais comuns está o desejo de aprender a Defesa Pessoal, ou ficar em forma ou encontrar companhia (amizades). Com o passar do tempo estas metas tomam um sentido diferente conforme as pessoas começam a experienciar os efeitos transformadores que o Aikidô tem na vida as pessoas.
Desde que o Aikidô e as artes marciais em geral são disciplinas que ensinam técnicas capazes de lesionar ou matar um adversário, eles devem ser praticados com um sentido de seriedade e atenção a todos os detalhes devido aos riscos inerentes a pratica. O treino com um estado mental focado progressivamente leva ao cultivo do que pode ser descrito como “Espírito Marcial”.
Nós usamos o termo “Marcial” aqui com o mesmo sentido de “Bu” em Japonês, como na interpretação do Fundador, de “Budô”, normalmente traduzido como “arte marcial”. O “Bu” envolvem dois conceitos-chave. Em primeiro lugar, isso conota um sistema oriental de habilidades de luta cuja origem inicialmente almejava o ensino da Defesa Pessoal. O “Bu” também incorporou o sentido de atividades, ou busca, para levar o praticante através de um caminho para o desenvolvimento espiritual. Ambos ideais estão contidos no Aikidô quando criado pelo fundador Morihei Ueshiba.
O “Bu”, ou elemento marcial, é uma parte tão vital da prática do Aikidô que retira-lo seria como reduzir esta arte a um mero sistema de exercícios ou prática para a saúde. Isso surge de um estado de consciência dos perigos do treino que inicia um tipo de tensão mental durante os treinos naquele momento produz um estado de elevada sensibilidade. Estes são alguns dos processos do dojô que promovem o desenvolvimento deste conjunto mental de marcialidade.
Etiqueta  
A etiqueta é um dos pilares para um comportamento apropriado num dojô.Muitas pessoas não compreendem a importância das formalidades apresentadas no dojô.Os costumes que são observados antes, durante e depois do treino são criados para estabelecer um cenário controlado onde técnicas perigosas podem ser treinadas de forma segura.A etiqueta não deve ser dispensada como um conjunto vazio de formas feitas fora do habitual.


O treino do Aikidô consiste em parceiros fazendo alternadamente o papel de naguê (Pessoa que projeta) e ukê (pessoa que é projetada). Ambos os movimentos no Aikidô são similares aos katás, ou formas, praticados por varias artes marciais clássicas, e algumas modernas também. As formas são, entretanto, menos estruturadas no Aikidô e servem como um guia para a execução característica da técnica que será modificada de acordo com as condições do combate.
No treino, a técnica a ser aplicada já é conhecida por ambos os parceiros antes de inicia o ataque. Isso é um fator adicional que assegura um ambiente seguro para a prática. Por isso é importante que o ukê ataque de forma clara e sem antecipar a resposta do naguê, baseado em seu conhecimento prévio. O naguê precisa de um ataque comprometido pra entender conceitos como estabilidade, mecanismos do corpo e fluxo de energia. A atitude marcial do ukê irá protegê-lo de lesões e promover seu progresso e o do seu parceiro. O uke também será recompensado pelo se esforço com um corpo flexível e bem condicionado, que está confortável para as quedas – que é uma experiência incomoda, e até perigosa, para a maioria das pessoas.




No katá, similar ao que foi descrito acima, o naguê sabe a natureza do ataque e então ele pode se concentrar no deslocamento apropriado do corpo, distância e desequilíbrio do seu parceiro. O stress emocional que normalmente acompanha um combate na vida real é inicialmente afastado neste nível básico de treinamento. O movimento inicial do naguê deverá desequilibrar seu parceiro, pois o ukê estará sem força para resistir, pois terá perdido seu centro de gravidade.
Os benefícios do naguê que praticar por muito tempo a ponto das técnicas de Aikidô tornarem-se sua natureza secundária. Ele aprende a reeducar seu instinto para resistir a um ataque em favor de um tipo de combinação de respostas o que caracteriza as técnicas do Aikidô. Ele aprende a manter uma serenidade física e mental frente a ataques que poderiam ser perturbadores para uma pessoa sem treinamento. Conforme o processo de aprendizado desenrola-se, sendo ou não consciente, o naguê desenvolve um nível avançado de sensibilidade que chega a todos que o rodeiam. Ele se torna apto a distinguir o que constitui uma ameaça real, do que não constitui uma ameaça real. Essa atitude de alerta constante é o que diferencia as pessoas com conhecimentos do Budô e é um componente fundamental para o espírito marcial.



Praticantes de Aikidô devem regulamente rever suas atividades normais ou circunstâncias para identificar áreas de perigo, ou de fraqueza, que podem prejudicar a atenção.
Eis um exemplo específico. Ás vezes os Aikidokas vêem falhas em sua arte, em comparação com outras artes marciais. Consequentemente isso se torna motivo para debater os cenários do tipo “e se...” para discutir a eficácia das técnicas do Aikidô.Mas nós estamos realmente treinando para estarmos aptos a nos defender de um campeão de karatê,de um boxeador profissional ou de um lutador olímpico de luta romana ? Como canalizar nossa energia para essas metas irá nos ajudar em nossas vidas, para nos preparar para os tipos de ataque a que estamos expostos? Não existe uma forma real de ordenar as artes em uma ordem hierárquica de eficácia, pois nenhum objetivo padrão pode ser inventado para medir os méritos relativos. Esse exercício mental pode proporcionar um bom tema para um boletim de discussões, mas a hipótese de qualquer confronto tornará qualquer conclusão puramente especulativa.
Deste modo, não devemos ver nossos treinos como uma perda de tempo já que nossas habilidades no Aikidô poderão não ser equiparadas a de um lutador profissional. Se esta fosse realmente nossa meta, nós não deveríamos estar treinando Aikidô em primeiro lugar. Isso não é o estado que devemos trazer acidentalmente para o treino de Aikidô, ou estabelecer resultados medíocres. O ponto é que a nossa meta derradeira deve ser a proteção da vida, liberdade e posses. E não derrotar um oponente em um confronto.




Vamos admitir que um levantamento de nosso ambiente nos leva a concluir que uma de nossas grandes preocupações seja um ataque físico ocasional.Nos ficaríamos surpresos enquanto andamos pela rua, dirigimos um carro ou mesmo quando estamos em casa.Em nosso mundo real o assaltante estará provavelmente empunhando um arma de fogo, ou uma faca, e deve ter um ou mais cúmplices.
O elemento surpresa é uma das principais razões para estes tipos de ataques ocasionais acontecerem. É freqüente a falta de sofisticação do ataque, mas o fato da vítima ser pega desprevenido o que termina com ela sendo ferida ou morta.

Assim provavelmente não podemos saber a natureza exata de um ataque surpresa, ou mesmo se algum dia seremos vítima de um assalto, o que podemos fazer é manter um nível preparo psicológico geral mais do que um conhecimento de determinadas técnicas de defesa pessoal. Devemos desenvolver um estado de alerta constante e sermos capazes de responder instintivamente a ameaças inesperadas. Devemos nos tornar indivíduos saudáveis, flexíveis, e bem condicionados capazes de adaptar rapidamente a situações desafiadoras.






Isso nos leva a uma questão perfeitamente racional. Porque estudar Aikidô, e não algo de aplicabilidade mais imediata para os incidentes da violência urbana como o uso de armas de fogo ou habilidades de luta de rua? Dependendo das circunstâncias de cada um praticar outras disciplinas pode realmente ser uma boa idéia
Existe um certo número de fortes argumentos para os benefícios de um treinamento cruzado. Dito isso, outra questão atrativa para treinar Aikidô tem a ver com o segundo componente do Kanji “Bu” mencionado anteriormente. Assim, Aikidô é também um caminho para o desenvolvimento espiritual.Ele contém interiormente o imperativo moral de respeita e cuidar de todos os seres vivos.O Aikidô projeta uma visão idealística de um mundo em harmonia e suas técnicas apresentam esta visão tão abstrata em algo tangível, no contexto físico. Essa era a visão de fundador Morihei Ueshiba e deve ser mantida na memória dos praticantes de Aikidô. Isso parece ser uma excelente formula pra se viver em um mundo cheio de perigo e discórdias.


Epílogo: Tomando duras decisões em tempos difíceis.

A maioria do tempo, os desafios que enfrentamos em nossas vidas diárias não envolvem confrontos físicos. Na maioria do tempo, nossas batalhas são travadas em um plano psicológico interior, enquanto lutamos com a vida, seus problemas intermináveis e incertezas. O espírito marcial cultivado em anos de treinamento de Aikidô, poderá ser um bem de grande valia nestes tempos.
Em 11 de Setembro de 2001, dia que será lembrado por todos aqueles tocados por suas conseqüências. O mundo entrou em um tempo de crises política e espiritual. Em meras duas semanas depois um grande seminário de Aikidô estava planejado para acontecer na Califórnia. Umas 300 pessoas já estavam inscritas e aguardavam o evento. O instrutor convidado agendado para voar do Japão prestou atenção aos avisos do governo japonês, parentes e amigos e decidiu por cancelar a viajem. Isso foi provavelmente uma decisão lógica frente a circunstancias extremas.
Os responsáveis pelo evento estavam em um dilema. Eles deveriam cancelar o evento e arcar com uma dolorosa perda financeira junto com o desapontamento de seu plano não realizado? E as pessoas que já estavam inscritas? Eles deveriam cancelar seus planos e entrarem em um cárcere mental onde eles deixam de realizar seus afazeres por temerem o desconhecido?
Neste caso em particular uma solução satisfatória foi elaborada. Os responsáveis pediram para um grupo de instrutores antigos para dividirem as responsabilidades no ensino das técnicas na falta do instrutor convidado. Essa decisão permitiu que o seminário fosse realizado, mesmo sob condições adversas. Mais da metade dos convidados pra comparecer estava presente. Esse é um exemplo específico de como somos confrontados em nosso dia-a-dia por situações que nos chama para entrarmos em nossos treinos marciais para encontrarmos soluções aprorpiadas onde aparentemente não existem.
Como responsáveis da Aiki Expo ano passado ,haviam momentos onde não tínhamos a menos idéia de onde um evento mundial deveria acontecer.Nós tínhamos que aceitar constantemente a possibilidade  de que a Expo poderia ser superarada por  eventos políticos e militares não aconteceria.Por fim, a Expo foi de fato realizada e foi um sucesso ilimitado.
O evento deste ano, Aiki Expo 2003, foi novamente exposta a mesma sombra da trama de nossos líderes mundiais. Por isso devemos tomar planos de contingências  em caso de alguma situação de emergência venha a acontecer e ter impacto sobre o evento.Apesar destas incertezas, estou confiante que a Expo acontecerá conforme o planejado.Não apenas acontecerá, mas continuará a quieta revolução que armamos no sentido de desafiar as práticas de treinamento e melhorado a qualidade geral da arte.
Stanley Pranin
February 2003

Conto - Verdadeiro Mestre

Verdadeiro mestre

Yagyu Tajima no Kami Munenori foi um grande espadachim e mestre de artes marciais de duas gerações de xoguns. Em suas conclusões intuitivas, expressa como "mente comum que não conhece regras", existe um ditado que diz: "Não existe táticas militares que se apliquem a um homem de grande força".
"Certo dia, um dos vassalos do xogum aproximou-se de Tajima no Kami e pediu-lhe que o aceitasse como discípulo, ao que Yagyu respondeu: - Pelo que vejo, o senhor já é um mestre. Peço-lhe que me diga a que escola pertence, antes que entremos na relação mestre-discípulo.
O guarda observou que se envergonhava de dizer, mas jamais tinha aprendido a arte da esgrima.- Mas eu nunca pratiquei nenhuma arte marcial - respondeu o homem.
- O senhor está zombando de mim? Sou o mestre do venerável xogum e sei que meus olhos jamais se enganam.
- Lamento ofender a sua honra, mas a verdade é que jamais tive qualquer conhecimento desta arte - insistiu o guarda.
- O senhor veio praticar o Tajima no Kami como esporte? Estou errado em achar que o senhor é um dos professores do xogum? - perguntou mestre Yagyu, mas o homem jurou que não e então, frente a tão segura negativa, o mestre vacilou um momento, ao final do qual disse: - Como o senhor afirma, não vou desmenti-lo, mas seguramente o senhor é mestre em alguma outra disciplina, embora eu não saiba qual seja'.
Respondeu-lhe o guarda: - Devo dizer-lhe que existe algo no qual me considero mestre. Quando eu era criança, ocorreu-me a idéia de que o guerreiro é um homem que não vive sua vida a se lamentar e não tem o direito de temer a morte em qualquer circunstância. Desde então lutei continuamente com a idéia de morte. Como acredito nisso há muitos anos, isso se tornou uma grande convicção. Hoje em dia, eu nunca penso na morte. Talvez seja a isso que o senhor se refere'.
Mal ouvira tais palavras, mestre Yagyu ficou muito impressionado com a resposta e exclamou: - Alegro-me que minha impressão estava certa, pois o princípio mais profundo da arte da espada é atingir a libertação da idéia de morte. Tenho mostrado essa meta a centenas de discípulos, mas até o momento nenhum alcançou o grau supremo na arte da espada. O senhor não precisa de qualquer treinamento, pois já é um mestre'."
Dizem que depois disso, Yagyu Munenori concedeu imediatamente o certificado ao vassalo do xogum.
- História de Muragawa Soden
Hagakure, Século XVII
"Viver sem medo da morte não significa que, durante as horas felizes, nos gabemos de não tremer diante dela, nem que possamos afirmar que a enfrentamos com segurança. Porém, quem domina a vida e a morte está livre de todo o temor, a tal ponto que não é mais capaz de experimentar a sensação de medo."
- A arte cavalheiresca do arqueiro zen,
Eugen Herrigel