quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

porque o Aikido



Autor: Stanley Pranin
Todos iniciam a pratica do Aikidô motivados por um propósito específico ou um conjunto de metas. Entre os mais comuns está o desejo de aprender a Defesa Pessoal, ou ficar em forma ou encontrar companhia (amizades). Com o passar do tempo estas metas tomam um sentido diferente conforme as pessoas começam a experienciar os efeitos transformadores que o Aikidô tem na vida as pessoas.
Desde que o Aikidô e as artes marciais em geral são disciplinas que ensinam técnicas capazes de lesionar ou matar um adversário, eles devem ser praticados com um sentido de seriedade e atenção a todos os detalhes devido aos riscos inerentes a pratica. O treino com um estado mental focado progressivamente leva ao cultivo do que pode ser descrito como “Espírito Marcial”.
Nós usamos o termo “Marcial” aqui com o mesmo sentido de “Bu” em Japonês, como na interpretação do Fundador, de “Budô”, normalmente traduzido como “arte marcial”. O “Bu” envolvem dois conceitos-chave. Em primeiro lugar, isso conota um sistema oriental de habilidades de luta cuja origem inicialmente almejava o ensino da Defesa Pessoal. O “Bu” também incorporou o sentido de atividades, ou busca, para levar o praticante através de um caminho para o desenvolvimento espiritual. Ambos ideais estão contidos no Aikidô quando criado pelo fundador Morihei Ueshiba.
O “Bu”, ou elemento marcial, é uma parte tão vital da prática do Aikidô que retira-lo seria como reduzir esta arte a um mero sistema de exercícios ou prática para a saúde. Isso surge de um estado de consciência dos perigos do treino que inicia um tipo de tensão mental durante os treinos naquele momento produz um estado de elevada sensibilidade. Estes são alguns dos processos do dojô que promovem o desenvolvimento deste conjunto mental de marcialidade.
Etiqueta  
A etiqueta é um dos pilares para um comportamento apropriado num dojô.Muitas pessoas não compreendem a importância das formalidades apresentadas no dojô.Os costumes que são observados antes, durante e depois do treino são criados para estabelecer um cenário controlado onde técnicas perigosas podem ser treinadas de forma segura.A etiqueta não deve ser dispensada como um conjunto vazio de formas feitas fora do habitual.


O treino do Aikidô consiste em parceiros fazendo alternadamente o papel de naguê (Pessoa que projeta) e ukê (pessoa que é projetada). Ambos os movimentos no Aikidô são similares aos katás, ou formas, praticados por varias artes marciais clássicas, e algumas modernas também. As formas são, entretanto, menos estruturadas no Aikidô e servem como um guia para a execução característica da técnica que será modificada de acordo com as condições do combate.
No treino, a técnica a ser aplicada já é conhecida por ambos os parceiros antes de inicia o ataque. Isso é um fator adicional que assegura um ambiente seguro para a prática. Por isso é importante que o ukê ataque de forma clara e sem antecipar a resposta do naguê, baseado em seu conhecimento prévio. O naguê precisa de um ataque comprometido pra entender conceitos como estabilidade, mecanismos do corpo e fluxo de energia. A atitude marcial do ukê irá protegê-lo de lesões e promover seu progresso e o do seu parceiro. O uke também será recompensado pelo se esforço com um corpo flexível e bem condicionado, que está confortável para as quedas – que é uma experiência incomoda, e até perigosa, para a maioria das pessoas.




No katá, similar ao que foi descrito acima, o naguê sabe a natureza do ataque e então ele pode se concentrar no deslocamento apropriado do corpo, distância e desequilíbrio do seu parceiro. O stress emocional que normalmente acompanha um combate na vida real é inicialmente afastado neste nível básico de treinamento. O movimento inicial do naguê deverá desequilibrar seu parceiro, pois o ukê estará sem força para resistir, pois terá perdido seu centro de gravidade.
Os benefícios do naguê que praticar por muito tempo a ponto das técnicas de Aikidô tornarem-se sua natureza secundária. Ele aprende a reeducar seu instinto para resistir a um ataque em favor de um tipo de combinação de respostas o que caracteriza as técnicas do Aikidô. Ele aprende a manter uma serenidade física e mental frente a ataques que poderiam ser perturbadores para uma pessoa sem treinamento. Conforme o processo de aprendizado desenrola-se, sendo ou não consciente, o naguê desenvolve um nível avançado de sensibilidade que chega a todos que o rodeiam. Ele se torna apto a distinguir o que constitui uma ameaça real, do que não constitui uma ameaça real. Essa atitude de alerta constante é o que diferencia as pessoas com conhecimentos do Budô e é um componente fundamental para o espírito marcial.



Praticantes de Aikidô devem regulamente rever suas atividades normais ou circunstâncias para identificar áreas de perigo, ou de fraqueza, que podem prejudicar a atenção.
Eis um exemplo específico. Ás vezes os Aikidokas vêem falhas em sua arte, em comparação com outras artes marciais. Consequentemente isso se torna motivo para debater os cenários do tipo “e se...” para discutir a eficácia das técnicas do Aikidô.Mas nós estamos realmente treinando para estarmos aptos a nos defender de um campeão de karatê,de um boxeador profissional ou de um lutador olímpico de luta romana ? Como canalizar nossa energia para essas metas irá nos ajudar em nossas vidas, para nos preparar para os tipos de ataque a que estamos expostos? Não existe uma forma real de ordenar as artes em uma ordem hierárquica de eficácia, pois nenhum objetivo padrão pode ser inventado para medir os méritos relativos. Esse exercício mental pode proporcionar um bom tema para um boletim de discussões, mas a hipótese de qualquer confronto tornará qualquer conclusão puramente especulativa.
Deste modo, não devemos ver nossos treinos como uma perda de tempo já que nossas habilidades no Aikidô poderão não ser equiparadas a de um lutador profissional. Se esta fosse realmente nossa meta, nós não deveríamos estar treinando Aikidô em primeiro lugar. Isso não é o estado que devemos trazer acidentalmente para o treino de Aikidô, ou estabelecer resultados medíocres. O ponto é que a nossa meta derradeira deve ser a proteção da vida, liberdade e posses. E não derrotar um oponente em um confronto.




Vamos admitir que um levantamento de nosso ambiente nos leva a concluir que uma de nossas grandes preocupações seja um ataque físico ocasional.Nos ficaríamos surpresos enquanto andamos pela rua, dirigimos um carro ou mesmo quando estamos em casa.Em nosso mundo real o assaltante estará provavelmente empunhando um arma de fogo, ou uma faca, e deve ter um ou mais cúmplices.
O elemento surpresa é uma das principais razões para estes tipos de ataques ocasionais acontecerem. É freqüente a falta de sofisticação do ataque, mas o fato da vítima ser pega desprevenido o que termina com ela sendo ferida ou morta.

Assim provavelmente não podemos saber a natureza exata de um ataque surpresa, ou mesmo se algum dia seremos vítima de um assalto, o que podemos fazer é manter um nível preparo psicológico geral mais do que um conhecimento de determinadas técnicas de defesa pessoal. Devemos desenvolver um estado de alerta constante e sermos capazes de responder instintivamente a ameaças inesperadas. Devemos nos tornar indivíduos saudáveis, flexíveis, e bem condicionados capazes de adaptar rapidamente a situações desafiadoras.






Isso nos leva a uma questão perfeitamente racional. Porque estudar Aikidô, e não algo de aplicabilidade mais imediata para os incidentes da violência urbana como o uso de armas de fogo ou habilidades de luta de rua? Dependendo das circunstâncias de cada um praticar outras disciplinas pode realmente ser uma boa idéia
Existe um certo número de fortes argumentos para os benefícios de um treinamento cruzado. Dito isso, outra questão atrativa para treinar Aikidô tem a ver com o segundo componente do Kanji “Bu” mencionado anteriormente. Assim, Aikidô é também um caminho para o desenvolvimento espiritual.Ele contém interiormente o imperativo moral de respeita e cuidar de todos os seres vivos.O Aikidô projeta uma visão idealística de um mundo em harmonia e suas técnicas apresentam esta visão tão abstrata em algo tangível, no contexto físico. Essa era a visão de fundador Morihei Ueshiba e deve ser mantida na memória dos praticantes de Aikidô. Isso parece ser uma excelente formula pra se viver em um mundo cheio de perigo e discórdias.


Epílogo: Tomando duras decisões em tempos difíceis.

A maioria do tempo, os desafios que enfrentamos em nossas vidas diárias não envolvem confrontos físicos. Na maioria do tempo, nossas batalhas são travadas em um plano psicológico interior, enquanto lutamos com a vida, seus problemas intermináveis e incertezas. O espírito marcial cultivado em anos de treinamento de Aikidô, poderá ser um bem de grande valia nestes tempos.
Em 11 de Setembro de 2001, dia que será lembrado por todos aqueles tocados por suas conseqüências. O mundo entrou em um tempo de crises política e espiritual. Em meras duas semanas depois um grande seminário de Aikidô estava planejado para acontecer na Califórnia. Umas 300 pessoas já estavam inscritas e aguardavam o evento. O instrutor convidado agendado para voar do Japão prestou atenção aos avisos do governo japonês, parentes e amigos e decidiu por cancelar a viajem. Isso foi provavelmente uma decisão lógica frente a circunstancias extremas.
Os responsáveis pelo evento estavam em um dilema. Eles deveriam cancelar o evento e arcar com uma dolorosa perda financeira junto com o desapontamento de seu plano não realizado? E as pessoas que já estavam inscritas? Eles deveriam cancelar seus planos e entrarem em um cárcere mental onde eles deixam de realizar seus afazeres por temerem o desconhecido?
Neste caso em particular uma solução satisfatória foi elaborada. Os responsáveis pediram para um grupo de instrutores antigos para dividirem as responsabilidades no ensino das técnicas na falta do instrutor convidado. Essa decisão permitiu que o seminário fosse realizado, mesmo sob condições adversas. Mais da metade dos convidados pra comparecer estava presente. Esse é um exemplo específico de como somos confrontados em nosso dia-a-dia por situações que nos chama para entrarmos em nossos treinos marciais para encontrarmos soluções aprorpiadas onde aparentemente não existem.
Como responsáveis da Aiki Expo ano passado ,haviam momentos onde não tínhamos a menos idéia de onde um evento mundial deveria acontecer.Nós tínhamos que aceitar constantemente a possibilidade  de que a Expo poderia ser superarada por  eventos políticos e militares não aconteceria.Por fim, a Expo foi de fato realizada e foi um sucesso ilimitado.
O evento deste ano, Aiki Expo 2003, foi novamente exposta a mesma sombra da trama de nossos líderes mundiais. Por isso devemos tomar planos de contingências  em caso de alguma situação de emergência venha a acontecer e ter impacto sobre o evento.Apesar destas incertezas, estou confiante que a Expo acontecerá conforme o planejado.Não apenas acontecerá, mas continuará a quieta revolução que armamos no sentido de desafiar as práticas de treinamento e melhorado a qualidade geral da arte.
Stanley Pranin
February 2003

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