domingo, 23 de maio de 2010

O Mestre e o Discípulo


Quem leu o livro sobre o grande samurai Miyamoto Musashi pode lembrar de seus embates marciais com seu discípulo Jotaro, que era invariavelmente derrotado. Porém Jotaro sempre retomava o embate e dizia que um dia iria vencer o grande mestre. Musashi perderia para Jotaro se ele um dia se tornaria melhor do que ele no uso da espada e por isso iria vencê-lo? E Jotaro respondia dentro de sua simplicidade que como ambos estavam envelhecendo e era era muito mais novo, chegaria o dia em que Musashi estaria mais velho e ele -Jotaro - no auge de sua forma física e então suas chances de vitória seriam potencialmente maiores.
Menciono essa passagem para falar sobre o grande mito Mestre x Discípulo. Alguns entendem que o mestre nunca poderá ser superado pelo discípulo e que esse – discípulo - nunca terá o pleno alcance de seus emblemáticos conhecimentos.
Entendo que cabe ao discípulo, até como forma de reconhecimento e gratidão, tentar sempre superar o mestre, instigando-o a estar atendo, buscando seu crescimento e aperfeiçoamento marcial. Cabe ao mestre, por sua vez, entender a ânsia por conhecimentos de seu discípulo, entender, por vezes, seu pouco preparo, sua imaturidade.
Ser mestre significa, também, encorajar seu discípulo para que ele cresça, se fortaleça e, porque não dizer, venha a superá-lo em algum momento.
Quando o discípulo supera o mestre aí completa-se, verdadeiramente, o ciclo. O mestre entende que ensinou tudo que podia e que o discípulo acrescentou aos conhecimentos suas próprias virtudes e sua exclusiva forma de se expressar marcialmente. É um momento mágico, um rito de passagem que transformará o discípulo em mestre sem, contudo, perder a referência ou mesmo o respeito ao seu mestre.
Escrevo sobre esse tema para expor meu pensamento, mas também para salientar a forma generosa e corajosa como meu mestre Carlos Sensei encara sua responsabilidade dentro do Aikido. Generosa porque não impede que seus alunos alcancem maiores graus e responsabilidades e corajosa porque entende que o seu papel é ser referência para quem está vindo e que o papel do verdadeiro discípulo é buscar o conhecimento, absorvendo o que o mestre tem a mostrar.
Vemos, no caminho das artes marciais, “mestres” que impedem seus alunos de crescer, de atingirem níveis e graduações por, ao final, estarem temerosos de seus “postos” e “cargos”.
Parabenizo meu mestre Carlos Sensei por possuir o entendimento maior de que deve exigir de seus alunos cada vez mais, dentro de suas possibilidades, ao mesmo tempo em que concede espaço para que os mesmos cresçam e atinjam suas metas, galgando seus degraus e encontrando seus próprios espaços.


Zilmor Lima de Oliveira Filho
Professor do Kawai Shihan Dojo
3º grau fundação Aikikai do Japão

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