quinta-feira, 15 de julho de 2010

Reduzindo para chegar à eficiência: porque o verdadeiro treinamento “suave” é perigoso.


http://www.aikidojournal.com/?id=2019

Traduzido para o Português por Jaqueline Sá Freire – Hikari Dojo – R.J.

“Divida pela metade, divida pela metade e divida pela metade novamente...” costumava dizer um dos meus compatriotas, que treinava comigo.
O uso da força não só faz com que a técnica fique ineficaz, mas também inibe a auto descoberta e a percepção. Porque se preocupar com a técnica se você usa a força bruta? Se você vai fazer força, faça só isso. Para que se preocupar com a disciplina que é necessária para aprender a forma?
É fácil usar o Aikido para contra atacar alguém que usa a força porque eles “telegrafam” o ki. Mais que o necessário para obter um resultado.
 “Quando você coloca poder na suavidade isso se torna perigoso,” disse uma vez um sensei que tinha bebido demais e falado sobre segredos.
Ao treinar, a melhor disciplina é ser completamente honesto. Dar pulos e fazer movimentos inúteis é apenas pose e auto engano. Mas empurrar e fazer força também não serve para nada. Isso vai machucar seus colegas de treino e fazer com que você seja ineficiente em uma luta real.
Fluidez de movimentos, em treinamento estático e dinâmico, é um atributo essencial. Ninguém é melhor que ninguém. Todos são essenciais. Mas tente isso: esqueça tudo sobre sucesso e falhas, vencer ou perder, e tudo o que tem a ver com ego dentro do dojo. Deixe isso do lado de fora, junto com seus sapatos.
Então, faça MENOS e encontre uma forma de FAZER com que a técnica suave funcione, ajustando você mesmo. O que? Mente, atitude, maai, posição. EXPLORE. Tenha a coragem de falhar no dojo, porque você não deve falhar na vida real.
Ao treinar, estamos estudando o KUZUSHI (desequilíbrio do outro), não força em colisão. Por quê? Segurança!
Um golpe lento é um empurrão e um empurrão rápido é um golpe, mas vamos além disso. Em uma situação real, o kuzushi vai acontecer como um golpe por causa das respostas naturais do corpo. Ao treinar, não podemos fazer golpes com impacto eficiente por causa da segurança. Então, fazemos menos para conseguir mais, aumentando a eficiência da técnica e a empatia.
Esta empatia, com um impulso construtivo ao treinar, nos ensina limites e tolerância de vários tipos de corpos. Em uma situação real de sobrevivência, isso tem o potencial de causar sérios danos.
Alguns principiantes exageram tentando fazer com que uma técnica funcione usando a força, e estão enganados. Ao fazer isso eles se arriscam a se ferir ou a ferir um colega ao treinar, diminuem o poder das técnicas e não conseguem progredir. Se uma técnica vai funcionar, ela simplesmente funciona, porque você a fez corretamente e não porque você está usando sua força contra o oponente. No momento em que você usa a força contra o oponente, ela deixa de ser aikido e passa a ser uma briga de homens das cavernas. E é disso que tentamos nos distanciar.
Faça a técnica simplesmente, como se o oponente não estivesse lá. Se tiver que funcionar será porque você fez de forma correta, não porque você está usando sua força contra o oponente.
Expresse a técnica como sendo uma arte, como se fosse um movimento com o pincel. Permaneça conectado de maneira suave, apenas isso. Isso é um treinamento de relacionamento, não uma prática de canibalismo. A união não precisa ser física, ela pode ser mental, e o movimento que é gerado é o movimento do universo, não é como um macaco lutando contra outro macaco. NÃO É UMA COMPETIÇÃO. Competição e SOBREVIVÊNCIA são coisas inteiramente diferentes. A sobrevivência é uma predisposição para a cura, a competição é uma doença. Elas não se relacionam. E o treinamento deveria estimular a sobrevivência, e não a patologia.
Neste treinamento você deveria lutar para SE CORRIGIR, não para impor sua força ao outro. Assim você deve se afastar da preocupação sobre se a técnica vai funcionar ou não, mas PRESTE ATENÇÃO QUANDO FUNCIONAR. Deixe de lado a doença da competição.
Antes de tudo você deve ser honesto quanto a sua verdadeira habilidade e seus resultados. Então, antes que você possa encontrar a física central por trás da verdadeira técnica, pratique sem tentar fazer funcionar. Então, preste atenção em por que isso acontece. E, se funcionar, ao invés de ficar surpreso ou achar que o uke “pulou”, preste atenção. Este é um processo de auto aperfeiçoamento, não de “fazer alguma coisa contra alguém”.
Tente fazer jumbi taiso, aquecimento sem ukemi. Faça os movimentos só até o ponto do kuzushi e pare. Ou faça com que o uke bata antes de ficar desequilibrado. Faça uma sessão inteira assim, e no fim, nos últimos 15 minutos, faça o kuzushi. Eu não estou dizendo para você empurrar ou fazer força para desequilibrá-lo, deixe acontecer naturalmente.
Você não precisa de um treino especial para usar a força bruta. Qualquer idiota pode fazer isso. É a patologia da espécie, e reflete nosso nível de “inteligência”, com a qual votamos nos maiores idiotas (ou permitimos que tomem o poder), que usam a força bruta como homens das cavernas, e eles chegam a posições de responsabilidade que gostam de chamar de “poder”, que eles usam mal.às suas custas. É isso que está causando mal à humanidade e nos tornando inferiores, impedindo nosso potencial de emergir. É disso que devemos nos afastar antes de começarmos a nos tornar humanos.
O treinamento de Aikido funciona acelerando a evolução humana, mas apenas se nós, conscientemente, analisarmos a violência dentro de nós mesmos. O uso da força é um indicador de grande dificuldade patológica, espiritual, mental e física. Isso não melhora com o uso de mais força, e sim com a busca do equilíbrio. O equilíbrio se manifesta pela beleza que é refletida pela eficiência. A eficiência não pode ser forçada. Ela deve ser encontrada. Ela é encontrada na verdadeira economia de movimentos, da vida, dos processos de administração e de relacionamentos. Quando você consegue fazer unicamente aquilo que é necessário, e nada além, você se aproxima de um estado em que o verdadeiro poder da “suavidade” pode ser demonstrado e traz mudanças sem imposição, força ou violação, de qualquer forma.
 Este princípio do aiki é aplicável em todos os aspectos da existência, não apenas para a defesa. É interessante que ninguém seja derrotado. Todos devem vencer, ganhar. O verdadeiro sentido da palavra "humanidade" se torna possível porque o paradigma de “todos vencerem” traz uma notável elevação. Isto é o oposto da teoria da degradação, criada por pessoas doentes e confusas, por mentes inseguras e temerosas, que lutam sem uma boa razão para canibalizar outros seres humanos em guerras custosas de futilidade, internas e externas, indo para lugar nenhum.
Se você não pensa que pode mudar o mundo com pequenas ações como o voto, ao menos pode trabalhar em se corrigir. O treinamento regular de Aikido é um meio e um bom ponto para se começar.
E então, quando as coisas ficarem realmente ruins, no mínimo você terá alguma capacidade mesmo que modesta de auto-defesa, para se proteger

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