sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Uma vida de Aikido (01)

por Gozo Shioda

Aiki News #72 (September 1986)

Traduzido por Jefferson Bastreghi

Os capítulos seguintes de Aikido Jinsei (uma vida de Aikidô), a autobiografia de Gozo Shioda Sensei, são reproduzidos com as gentis permissões do autor e do editor, Takeuchi Shoten Shinsha.

Tomo Um: Yoshinkan Aikido

Capítulo 1: Os fundamentos da prática Yoshinkan

O nome do meu dojô, “Yoshinkan”, é o mesmo que o meu pai, que amava o budô, usou quando ele construiu um dojô em sua propriedade. Eu continuei a usar aquele nome desde então em sua memória. O Sr. Todo Kato, meu avô por parte de mãe, tirou este nome dos caracteres contidos na frase “Gu o mamori kokorozashi o utsusazu mokumoku toshite sono kami o yashinau” (Cultive seu espírito silenciosamente, nunca esquecendo que você não é nada além de um tolo) do poema entitulado Saikontan. Esta é a origem do nome.
Eu freqüentemente ouço pessoas dizerem que o dojô Yoshinkan é uma escola dura. Eu acredito que há um desentendimento a respeito desse ponto. Entre aqueles que praticam Aikidô há aqueles que desejam se tornar mestres na arte ou desenvolver suas mentes e corpos através do Aikidô, e aqueles que querem praticar somente para melhorar sua saúde. Há homens e mulheres jovens, crianças e também pessoas mais velhas. Mas, em todos os casos, estudantes do Yoshinkan têm que praticar repetidamente a fim de dominar os fundamentos do Aikidô. Eles podem usar músculos que eles não têm usado por um bom tempo ou descobrir movimentos do corpo que eles nunca fizeram antes. Tais pessoas podem experimentar um pouco de dor até eles se acostumarem com tais coisas. Entretanto, Aikidô sem fundamentos corretos não é Aikidô. Se você praticar casualmente somente porque parece mais fácil deste jeito, você não irá obter sucesso em melhorar suas técnicas ou saúde. Desde que é impossível exagerar em dizer que o Aikidô se resume ao básico, nós somos rigorosos em nossa instrução até mesmo com iniciantes, a fim de permitir que eles adquiram a base técnica desde o início.
É importante para aqueles que querem se tornar peritos ou aperfeiçoar seu Aikidô, adquirir um total domínio dos fundamentos. Quando você se posiciona contra um oponente, aplica técnicas ou mantém seu foco de atenção após uma técnica (zanshin), estas habilidades são todas construídas sobre um entendimento dos fundamentos e são necessárias a fim de derrotar um oponente forte. Eu irei explicar a seguir quais são os fundamentos do Aikidô, mas neste momento é suficiente dizer que conforme você se torna mais experiente, você é capaz de produzir força surpreendente até mesmo em movimentos rápidos, se você naturalmente dominou os fundamentos.
O-Sensei Ueshiba disse, “No Aikidô, vencedores e perdedores são decididos em um instante.” Isto é de fato verdade. A menos que você supere seu oponente com um simples golpe, você não pode chamar sua arte de “budô”. Somente quando você se apóia nas bases, você pode derrotar seu oponente com um simples golpe.

Capítulo 2: O desenvolvimento de habilidade real não tem nada a ver com lutar em competições

Não há forma de competição no Aikidô. Nós executamos as técnicas e quedas em revezamento enquanto praticamos repetitivamente. Por causa disto, algumas pessoas jovens sentem-se insatisfeitas e reclamam que eles não podem medir sua evolução sem competição.
Eles podem se sentir assim particularmente por causa da extrema popularidade dos esportes e estão acostumados com situações onde vencedores e perdedores são decididos através de competições. Nos esportes existem certas regras acordadas. É por causa disto que competições são realizadas e vencedores e perdedores podem ser determinados. Entretanto, Aikidô não é um esporte, mas sim um budô. Ou você derrota seu oponente, ou ele derrota você. Você não pode reclamar que ele não seguiu as regras. Você tem que superar seu oponente de um modo apropriado a cada situação.
Quando eu era jovem, eu sabia meu nível de habilidade até certo ponto através de prática e demonstrações. Desde que eu meramente acreditava em mim mesmo e tentava afiar minhas habilidades naturalmente através de treinamento, eu uma vez duvidei se realmente eu poderia lidar com uma situação de luta real. Um dia, eu me encontrei em uma situação que me fez perceber a eficiência maravilhosa do Aikidô que eu vinha praticando e me fez ser grato por ter começado. Desde então eu senti uma confiança surgir diante de mim. Deixe-me recontar o incidente para vocês.
Era julho de 1941, quase cinco meses antes de o Japão declarar guerra aos Estados Unidos. Eu tinha então 26 anos. Shunroku Hata, um general do exército, era um amigo próximo de meu pai e me tratava com afeição. Ele era supremo comandante da força expedicionária para a China. Ele me levou para Beijing como seu secretário particular. Eu parei no aeroporto de Shangai para descansar no caminho até Hanoi, seguindo ordem do General. Enquanto passeava pelo aeroporto, eu acabei encontrando por acaso um dos meus calouros da Universidade de Takushoku, um homem chamado Uraoka. Nós nos abraçamos e pulamos com alegria. Como eu escreverei sobre este encontro na segunda seção, eu não irei entrar em detalhes aqui.
É neste ponto que nós entramos na nossa história. Uraoka disse-me que ele me levaria para uma pessoa de cargo de alto-nível no estabelecimento francês. Com meu coração agitado, eu o segui até um certo estabelecimento por volta das 8 horas da noite. Depois de terem nos mostrado um quarto, Uraoka começou a negociar com um homem que parecia um cambista e uma discussão começou. O calouro socou o homem no rosto. Sua boca começou a sangrar e ele correu gritando. Eu não entendi o que estava acontecendo e fiquei parado lá como um idiota. Uraoka, carrancudo, gritou para mim, “Shioda, nós iremos morrer em dois ou três minutos. Ele com certeza irá voltar com seus colegas para
se vingar de nós. Por favor, fique pronto rápido!”. Eu sugeri que corrêssemos.

este artigo contém mais duas partes...

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