quinta-feira, 3 de junho de 2010

Fudoshin e Zanshin: Elementos Psicológicos do Budo

por Brett Denison
Tradução - Jaqueline Sá Freire (Instituto Takemussu - Hikari Dojo – Rio de Janeiro)

Fudoshin é um dos princípios do budo e se refere a um estado mental que é impenetrável e imóvel. Neste caso, “imóvel” requer algumas explicações, pois é usado no contexto filosófico japonês e assim tem um sentido mais elevado do que se esperaria ao associar ao significado da palavra em outra língua. Fudoshin não indica um estado mental inflexível, mas, sim, aponta para uma condição mental que não é facilmente transtornada por pensamentos internos ou por fatores externos. “Esta mente que permanece não agitada e calma é imperturbável, não apegada e livre... é a mente máxima do mestre, adquirida apenas através de rigoroso treinamento, e igualmente rigorosa investigação da mente e pelo forjar do espírito (seishin tanren, em japonês) através da confrontação e vitória sobre nossos próprios medos e fraquezas” Fudoshin é diretamente relacionado com outro conceito Japonês conhecido como zanshin, ou "mente continua".

O Zanshin se refere a um estado de constante e contínua atenção ou estado de alerta. O Zanshin se aplica a sua atenção ao mundo à sua volta. Você percebe as pessoas à sua volta, como elas se movem, como ficam de pé, o que há em seus olhos, porque você precisa estar preparado para interagir com elas. Você está presente neste momento. Uma grande parte do reigi, ou "métodos de respeito" no budo, particularmente as reverências (de pé e na posição sentada) e outras formas de etiqueta foram criadas com o zanshin em mente. Em um contexto marcial, imobilidade e continuidade se referem a um estado de alerta mental em que a mente não está fixada em coisa alguma. Como a mente é receptiva e atenta, mesmo que não fixada conscientemente em alguma coisa em particular, não existem pontos fracos mentais ou suki ("brechas"). Os conceitos espirituais japoneses podem ser um “quebra-cabeças” e normalmente são conectados como parte de vários conceitos. Por isso, explicarei mais detalhadamente.

Se eu tenho tres objetos na minha frente e enfoco minha atenção em só um, minha concentração estará afastada dos outros dois. E assim, em relação aos outros dois objetos, eu criei um suki, ou uma ausência de foco. Se qualquer um destes objetos fosse um atacante, eu estaria completamente vulnerável. Mas se você disser, ok, tudo o que temos que fazer é focalizar todos eles, você estaria parcialmente certo. Mas, como com tudo o que é japonês, não é tão simples. O segredo escondido é que devemos focalizar todos eles sem focalizar nenhum deles. Às vezes isso é chamado de mushin, ou "não mente". Este conceito, que sustenta o do fudoshin, pode ser difícil de ser compreendido por ocidentais. A “não mente” se refere a um foco que é mais intuitivo que consciente. Isso significa confiar em seus instintos mais do que se empenhar em um processo consciente de pensamento. Os ocidentais podem chamar isso de “estar na área”. Os japoneses podem chamar isso de “estar no momento presente”.

No budo, criar este estado de confiança intuitiva e maturidade interior requer muitos anos de prática (keiko), em alguns casos a prática de exercícios de respiração meditativa (kokyu ho) e disciplina austera física/espiritual (shugyo). Todos estes elementos, que são parte do budo, lentamente afastam a mente do diálogo mental interno e das censuras (de análise e justificação) e começam a permitir a mente que confie em seus sinais intuitivos ou em sua natureza superior. Em mushin, a mente deixa de ser facilmente perturbada ou reativa em excesso. Ela é fudo ("imóvel") e não são criados suki ("brechas") ou quebras do foco. Este estado é muito claro ao se observar um experiente budoka praticando um kata. Apesar de estar totalmente atento à forma, ele não opera a partir de um processo consciente de pensamento. O kata foi praticado milhares de vezes, e o praticante desenvolveu uma confiança natural em sua habilidade. De certa forma, não há nada para se pensar. Talvez seja um tanto como o slogan da Nike: "Just Do It" (“apenas faça”).

Em resumo, a mente, não estando presa a coisa nenhuma, é forte, concentrada e receptiva a todas as coisas. Certamente Fudoshin não existe somente para as artes marciais. Pelo contrário, esta confiança e calma intuitivas podem ser usadas antes e durante uma reunião importante, em uma entrevista, uma prova, ou em qualquer circunstância em se seja necessária calma e um foco intensificado. Com uma prática consistente e disciplinada, o fudoshin pode se tornar um estado mental natural, confortável e produtivo.

artigo retirado do site htt://www.aikikai.org.br

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