segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Relato de um aikidoca, sobre uma experiência real que ele teve nas ruas de La Paz


"Sensei, acho que hoje eu tive a lição de Aikido mais importante desde que comecei a treinar!
Fui assaltado, aqui em La Paz!

Manja aquelas ruas socadas de gente, em que mal dá pra se mover direito? Então, eu estava em uma dessas, quando, de repente, um malandro tentou roubar minha câmera de reserva, uma pequena que eu guardava no bolso direito da calça. Acho que o cara era um "bom ladrão", pq eu nem senti ele pegando a câmera, discreta e sorrateiramente.

Não sei direito como aconteceu, foi muito rápido. Só sei que quando me dei conta da situação o cara já tava finalizado por um kotegaeshi!!! O malandro se deu mal, hahaha! Claro que ele não caiu certinho, como caímos nos treinos, mas ele ficou de joelhos, com o pulso travado, sem poder reagir. O cara ficou assustado! E, mais assustado que ele, fiquei eu, pois não imaginava que a técnica poderia funcionar de uma forma tão rápida e eficiente numa situação real. Foi tipo "automático".

O que me assustou mais não foi a eficiência da técnica, mas sim a questão do "reflexo", da "atenção", sei lá como chamar isso... Pq no exato momento em que ele pegou a câmera do meu bolso, eu já tava com o pulso dele na minha mão, sem ter muita consciência do que tava rolando. E, a partir daí, foi moleza.

Mas a lição a que me refiro não foi essa, relacionada à técnica. Foi uma lição relacionada à natureza humana. Assim que eu imobilizei ele, passaram pela minha cabeça milhões de coisas, tudo em um breve centésimo de segundo. A partir dali eu poderia muito bem ter quebrado a mão do cara, ter quebrado as costelas dele com um chutão, ter quebrado os dentes do sujeito com uma joelhada, enfim, eu poderia ter feito qualquer coisa com ele. Senti, por um breve instante, esse instinto primitivo de violência, dominação, poder... Mas de repente percebi que nada disso era necessário. Seria uma brutalidade primitiva e inútil. O cara já tava imobilizado, e seria uma covardia tremenda eu machucar ele. Senti que não seria correto, sei la...

Aí vieram dois guardas, percebendo a confusão. Pegaram o sujeito e o levaram pra uma espécie de delegacia. E assim terminou o episódio. Fiquei um pouco assustado, naturalmente. Mas fiquei também bastante feliz por ter sentido que, muito mais importante do que a técnica, é entender que violência é uma coisa idiota, primitiva e completamente desnecessária..."

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